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Dia do Orgulho LGBTI: vozes que precisam ser ouvidas
Publicado em 28/06/2018

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Artistas que pertencem a minorias sexuais falam sobre a visibilidade alcançada nos últimos tempos, apontam para os problemas que a nossa sociedade homofóbica ainda tem e celebram sua natureza e sua arte

De São Paulo

A música — e a arte em geral — são espaços de libertação, sem preconceitos. Mas o Brasil não é. Por isso, merecem aplausos as posturas afirmativas e inclusivas de artistas que demonstram seu orgulho por pertencer a minorias sexuais, trazendo ao espaço público suas vozes, que, se incomodam alguns, também são celebradas. É a eles que dedicamos este texto nesta quinta-feira, 28 de junho, Dia Internacional do Orgulho LGBTI.

Liniker, Aíla, Caio Prado, Filipe Catto, Márcia Castro, Obinrin Trio, Rico Dalasam, Juliana Perdigão, Pabllo Vittar As Bahias e a Cozinha Mineira, Johnny Hooker, Lia Clark, Emmily Barreto, MC Xuxu, Josyara, Gloria Groove, Aretuza Lovi, Karla da Silva, Linn da Quebrada, Mia Badgyal, Ellen Oléria, Kayka Conky, Mulher Pepita, As Baphônicas, Jadsa Castro... A lista é grande e não para de crescer.

“Nós chegamos para conquistar nosso espaço de direito, pedir respeito e tolerância. Somos como somos, essa é a nossa natureza, e não precisamos mais nos esconder. Os preconceituosos não são maioria, eles só fazem mais barulho”, disse Pabllo Vittar, símbolo de um movimento não necessariamente organizado sob uma mesma estética mas que ganhou um rótulo poderoso: MPBTrans, uma sigla que remete a muitas coisas, a começar por transgressão.

País de contrastes

De fato, ao apropriar-se de territórios tradicionalmente machistas como o do hip hop (como Rico Dalasam) ou aventurar-se (como Pabllo) numa certa música popular consumida por gente que não tem exatamente muitas drag queens como ídolos, eles levantam um debate sobre a visibilidade de uma minoria vítima de ofensas e intolerância cotidianas. Ambos triunfaram e têm aceitação. Mas nem sempre é assim. De fato, como em virtualmente qualquer outro tema que se pense, os contrastes marcam o nosso país também no que diz respeito ao universo LGBTI. Aqui, o casamento igualitário é uma realidade; e, também aqui, matam-se mais pessoas de minorias sexuais do que em qualquer outra nação que computa esse tipo de dados no mundo: mais de 400 casos anuais de acordo com o Grupo Gay da Bahia (GGB), associação fundada em 1980.



A drag queen Gloria Groove no clipe de "Arrasta" em parceria com Leo Santana


“Eu acho extremamente simbólico que a gente possa existir, que a gente possa ter a repercussão e o êxito que a gente tem. E poder contar com a força do nosso público, mesmo vivendo no país que mais mata LGBTs”, analisou Gloria Groove.

É a necessidade de normalizar a presença de gays, lésbicas, transexuais, intersexuais, bissexuais e transgêneros no espaço público que motiva Caio Prado — que compartilha com os amigos Daniel Chaudon e Diego Morais o libertário projeto Não Recomendado — a transitar sem amarras entre os mundos feminino e masculino, apropriando-se de elementos de cada um deles com uma única regra: seguir seu próprio instinto. “Vestir-me de mulher é um ato de libertação na sociedade machista, homofóbica e patriarcal em que vivemos. É fundamental quebrar estereótipos e impactar o público também visualmente. Incorporamos um cabaré do terceiro milênio ao nosso show. O objetivo é provocar: os personagens do alterego feminino surgem como um ode às mulheres, às travestis e às causas LGBTI. No dia a dia, Daniel, Diego e eu também fazemos uso de utensílios femininos. Por vez colocamos uma saia, um batom, um lápis de olho, um salto 12 cm... Tudo de acordo com a nossa vontade. A graça é não ter regra.”

Catto: “Eu nunca escondi ser gay"

Filipe Catto, que nunca fez de sua sexualidade uma bandeira, mudou de ideia ao perceber que tantas pessoas LGBTI sofrem agressões pelo simples fato de serem como são. “Eu nunca escondi ser gay. Mas, quando lancei o meu primeiro disco, ninguém me perguntou nada, e eu fui fazendo a minha vida. Quando vi uma onda conservadora muito forte, tal como outros artistas gays, percebi que tínhamos de lutar. Estávamos vendo os nossos direitos indo por água abaixo. Essa questão do empoderamento pessoal é muito importante, e claro que os grupos que sempre sofreram mais preconceitos aparecem e ganham destaque. Hoje, no Brasil, tem uma coisa muito interessante: apareceram muitos artistas trans que não são artistas underground, são artistas que movem plateias grandes. Nunca pensei que pudesse ver uma libertação e uma catarse desse tipo”, afirmou, referindo-se a Pabllo e tantas outras, em entrevista ao site português Jornal i.

Aretuza faz coro: “Há dez anos, quando você imaginaria, no Brasil, que teria a música de uma drag queen entre as mais tocadas do mundo, gravando com outros artistas do meio dito tradicional, tocando em rádio, assinando com gravadora? Isso é especial, temos, sim, razões para celebrar.”

 

 


 

 



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