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Dia da consciência e da cultura negras
Publicado em 20/11/2018

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Grandes criadores falam sobre a pluralidade, a inovação e os possíveis rumos da música produzida por afro-brasileiros. Data comemorativa é celebrada nesta terça-feira (20)

Por Gilberto Porcidonio, do Rio

Foto de arquivo com integrantes do Movimento Black Rio

É Dia da Consciência Negra, Mês da Consciência Negra ou a Década Internacional de Afrodescendentes (estabelecida pela ONU)? É, na verdade, as três coisas. Toda essa preocupação serve para mostrar que a cultura negra é um elemento civilizatório por excelência. No Brasil, segundo país com o maior número de negros do mundo (atrás apenas da Nigéria), essa culturalização se deu por uma das forças motrizes mais presentes da cultura afro: a música. 

Recentemente, a rede social Instagram lançou o clipe “Se gosta, se mostra” para celebrar o mês, reunindo a nova geração de jovens que estão fortalecendo esse novo movimento, de forma literal, inclusive, simbolizados por Ludmilla, MC Soffia, Mel Gonçalves e Rafael Mike, do Dream Team do Passinho. E esse processo, apesar de supermoderno, teve suas sementes colocadas muito antes. 

“No momento em que eu tinha ali em torno de 12 anos, quando minha mãe cozinhava e minha irmã lavava o quintal, e eu as estava ali ajudando, tudo isso foi ao som de uma trilha que acompanhou a minha infância e adolescência. Alcione, Aguinaldo Timóteo... Isso fez com que, para mim, ela representasse e me fizesse entender todos esses crossovers da música do mundo, sabe? Essa música me fez entender isso. Ela é tão potente porque eu consigo ver, nas divisões de ritmos, coisas que essa geração escuta e acha novidade, por exemplo, mas que estão aí já há muito tempo. Sinto a música negra brasileira como a base para o mundo”, diz Rafael Mike.

LEIA MAIS: A reportagem de capa da Revista UBC de maio passado, uma exaltação à contribuição negra para a formação da música brasileira

IZA: revelação pop indicada ao Grammy Latino, onde se apresentou

E essa importância, aos poucos, está sendo cada vez mais reconhecida. Revelação da música pop brasileira, a cantora IZA chegou a ser indicada, na categoria melhor álbum pop contemporâneo por “Dona de Mim”, na 19ª edição do Grammy Latino, onde também se apresentou.

No mês passado, o Movimento Black Rio, que teve mais de 50 equipes de som levando bailes de soul para o subúrbio carioca durante a década de 1970, foi consagrado como Patrimônio Cultural Imaterial do Estado do Rio. Pioneiro na bandeira da valorização da negritude – que consagrou nomes como Gerson King Combo, Carlos Dafé e Tony Tornado, além da própria banda Black Rio – o movimento comemora o seu cinquentenário no ano que vem. Para o DJ e produtor Dom Filó, um dos personagens seminais dessa turma, a musicalidade negra brasileira representa um capítulo à parte no cenário musical mundial.

“Suas raízes têm uma sonoridade própria, onde a pequena educação musical é compensada com a hipercriatividade, daí o swing brasileiro. Lembro do saudoso músico Oberdan Magalhães que, ao escrever os arranjos da Banda Black Rio, misturava o samba e soul, criando um groove todo especial, variando os compassos binário do samba ao 4 por 4 da soul music. E, na pista dos bailes blacks dos anos 70, os dançarinos adaptavam os passos do samba ao bailarem o velho soul”, declara o DJ, que também produziu o grupo.

O Nordeste, outro polo produtor de música negra brasileira por excelência, vive um momento especial de novos artistas e produtores que estão levando os sons negros a outros patamares e caminhos. Na Bahia, artistas como BaianaSystem, Baco Exu do Blues, Xênia França, Luedji Luna e o grupo ÀTTØØXXÁ, cada um de sua forma, apontam para um “afrofuturo” que tem nas raízes da música negra o seu combustível principal. E a octanagem é alta.

Para o pianista recifense Amaro Freitas, que já tem dois álbuns (“Sangue negro” e “RASIF”), a sua música é o reflexo das coisas que o influenciam e tem uma valorização e renovação das claves e matrizes afro-brasileiras. 

Amaro Freitas. Foto de Jão Vicente

“Poderia dizer que o piano que eu toco é um piano rítmico (olhando mais o lado percussivo do piano), e as claves e variações rítmicas que desenvolvo são de origens afro-brasileiras. Nesses dois discos você vai encontrar maracatu, frevo, baião, samba, ciranda, coco, bebop e música sem rótulo. A música negra me representa e representa resistência, tradição. Os pontos no Brasil onde a cultura é fervorosa, e referência da música brasileira, como Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, são os lugares aonde chegaram mais negros no Brasil. Sem contar que o Brasil é o segundo país que tem mais negros. Pensa que a capoeira, a culinária, tudo isso virou nossa tradição: feijoada, dobradinha, buchada, tudo nasceu de uma necessidade dos nossos antepassados e hoje virou nossa tradição. Isso tudo me representa e me dá sentido de vida”, disse Amaro.

Mas, caso dê para se resumir, qual é o caminho que a música negra brasileira está tomando neste século? Para o músico Carlos Dafé, o caminho é justamente apontar os caminhos. E com muita ênfase no plural.

“A música negra no Brasil é uma verdadeira alquimia, mistura de ritmos, sons, melodias, cadências, odores e sabores. Por tratar-se de um país continental, a diversidade é tamanha, e consigo visualizar hoje, na comemoração dos meus ‘sete-ponto-um’ (71 anos), que existem ainda muitos elementos e movimentos na música brasileira que estão por vir a tona”, diz o “príncipe da soul music” brasileira.


 


 

 



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