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Produção de trilhas: ventos para dissipar as nuvens negras
Publicado em 09/08/2019

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Criadores tocam a bola para frente e aconselham insistir num mercado que, apesar dos ataques governamentais ao setor audiovisual, tem tudo para seguir crescendo

De São Paulo

O clima anda pesado no panorama de produção audiovisual nacional, com ameaças governamentais de intervencionismo na distribuição de patrocínios e ajudas públicas e mudanças — ou até a eventual extinção — da Ancine. Mas a presença de novos players globais investindo na realização de filmes e séries por aqui, como Netflix e HBO, além da boa disposição dos criadores nacionais responsáveis por fazer de 2017 o ano com o maior número de lançamentos de filmes brasileiros nos cinemas, 160 (os dados do Anuário Estatístico do Cinema 2018 ainda não foram publicados), são promessas de bons ventos para dissipar as nuvens negras. 

Só a Netflix deve terminar 2019 com 10 séries originais feitas no Brasil. No cinema, o crescimento de 10%, em 2018, no número de mulheres produzindo e dirigindo longas-metragens, segundo a Ancine, também faz antever uma continuidade do ímpeto criativo, movida por elas. E, quanto mais filmes, séries, novelas, videogames e outros produtos audiovisuais se produzirem, maiores são também as oportunidades para os criadores de música original. 

Nomes como Fernando Moura (novelas, filmes, séries e propagandas variadíssimas), Paulo Tatit (“Peixonauta”), Chaps Melo (“Mundo Bita”); Julio Cezar e Luiz Helenio (IATEC) e Maurício Nader (diversos filmes da Casa de Cinema de Porto Alegre) são apenas alguns dos que surfam com maestria essa onda. “Não há dúvida de que continua forte, continua com potência. Acredito no acaso, na sorte, e também no trabalho duro. É importante estar atento aos sinais que o acaso te dá. Se você ficar com preguiça, reclamando das dificuldades, não vai chegar a lado nenhum. Eu pego tudo o que surge, estou ligado em tudo. Minha mulher fica desesperada: aceito todos os trabalhos (risos). Isso sempre dá em outras coisas. É a melhor rede social”, ensina Fernando Moura, ex-músico de estúdio que acompanhava cantores de MPB, compunha e lançava discos de música instrumental e que, há alguns anos, deu uma guinada para a produção de música original para teatro, TV, cinema e publicidade, tornando-se um dos nomes mais fortes do setor no país. 

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Maurício Nader, indicado ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro. Foto: Zé Carlos Andrade

Maurício Nader, paulistano radicado há décadas em Porto Alegre, é outro dos nossos associados que voltaram grande parte da sua energia criativa para o mundo das trilhas. Com farta experiência como músico — tocou com o americano J.J. Jackson, teve a banda Sinuca de Bico, gravou discos —, ele vem trabalhando há pouco mais de oito anos como criador de música original para diversas produções da Casa de Cinema de Porto Alegre, como “Homens de Bem”, “Doce de Mãe”, “Quem é Primavera das Neves” e “Rasga Coração”. O minucioso trabalho de reconstituição e releitura de um espírito musical peculiar dos política e socialmente conturbados anos 1960/70, desenvolvido para esta última produção, rendeu a Nader a indicação ao troféu de melhor trilha sonora no Grande Prêmio do Cinema Brasileiro deste ano.

“Algumas músicas, como 'Gotham City', de Jards Macalé e José Carlos Capinan, 'Rasga o Coração', de Anacleto de Medeiros e Catulo da Paixão Cearense, e 'Qualquer Bobagem', de Tom Zé, Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sergio Baptista, já faziam parte do roteiro adaptado que o Jorge Furtado, a Ana Azevedo e o Vicente Moreno fizeram. Eu peguei a outra etapa do processo, na qual fiz os os arranjos de algumas dessas músicas e criei novas já vendo o corte do filme. Nessa etapa, tive total liberdade para criar, mas o Jorge é muito musical, e gosto de ouvir as ideias dele”, descreve Nader. “É importante tentar saber ao máximo o que o diretor imagina com referências e entender a história, além de se adaptar aos limites de cada produção. Trilha sonora é música que cumpre uma função específica, e não dá para se apegar ao que se fez. Pode acontecer de você achar que fez algo fantástico e que não funcione para o diretor.”

Assim como Fernando Moura recomenda a quem está se aventurando neste mundo um banho de produções antigas para analisar as soluções encontradas por grandes mestres da música original (“Nino Rotta, Bernard Hertman, Enio Moriconi, John Williams, Han Zimmer...”, enumera Moura), Nader aposta na formação sólida, no conhecimento dos cânones e no entendimento da função de um compositor de trilha para melhorar um trabalho que é, essencialmente, coletivo como o audiovisual. “Estude muito a música de cinema, tenha referências, conheça a história da sua profissão, seja humilde para saber que sua obra está servindo a um projeto maior: uma ideia concebida por outras pessoas à qual sua visão musical, geralmente, deverá se adaptar.”

Ele também deixa um conselho particularmente importante neste momento de aparente incerteza. “Tendo trabalho ou não, siga compondo. Muitas das ideias vão servir para algo no futuro, sem contar que é o melhor jeito de praticar. Também, saiba negociar seu trabalho e corra atrás dos seus direitos como autor, instrumentista etc. Se você não souber se valorizar, ninguém vai."

Fernando Moura num momento de criação no seu estúdio

 


 

 



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