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O que faz um divulgador musical
Publicado em 10/09/2019

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Na era do faça-você-mesmo, é comum que artistas, sobretudo independentes, dispensem esse profissional para cortar custos; pois saiba que o trabalho dele é muito mais complexo do que parece

Do Rio

Na era digital, com todo mundo metendo a mão na massa, interagindo diretamente com os fãs nas redes sociais e se produzindo, não é incomum que artistas dispensem os divulgadores na hora de pensar suas estratégias de promoção. Decisão arriscada. Ponte importante entre um projeto artístico e os meios de comunicação tradicionais, esses profissionais têm um papel muito mais complexo do que só o de enviar comunicados de imprensa ou mediar entrevistas. “Nos transformarmos em consultores de repertório, de disco e de shows, ajudando a escolher a música de trabalho, a achar soluções para as dificuldades de cada veículo, a criar (formas de) promoção (do artista)...”, enumera Zeca Santanna, divulgador da cantora Claudia Leitte com trabalhos realizados para Daniela Mercury, Exaltasamba, Roupa Nova, Thiaguinho e muitos outros artistas, além das gravadoras EMI, Virgin e BMG. 

O trabalho, ele ressalta, é diário e cuidadoso e envolve técnicas sutis para manter os artistas divulgados sempre na cabeça de quem poder promovê-los. “Tenho um cuidado para não falar, por exemplo, com um radialista ou com um produtor de TV todos os dias sobre o mesmo assunto. Às vezes, chego apenas para marcar presença e nem falamos de trabalho. Como diz o ditado, 'quem não é visto não é lembrado'. Isso cria um vinculo importante entre o divulgador e o veículo”, ensina. 

A convite do site da UBC, Santanna e outras duas profissionais do meio nos dão boas informações e dicas relacionadas a seu trabalho e comentam tópicos importantes do universo da divulgação. Essas especialistas são Tina Valente — com ampla experiência em diversas gravadoras e especialização na relação entre artistas e rádios — e Cris Perez — também egressa de gravadoras, onde divulgou de Djavan a Claudinho & Buchecha, e serviços prestados em seu escritório para Jorge Vercillo, Jeito Moleque, Edu Krieger e muitos outros. 

 

Os 'velhos meios' ainda valem muito...

Se ter uma boa estratégia de redes sociais é importante, sair numa revista ou num jornal, aparecer na TV e tocar no rádio continuam a ser fundamentais num projeto de divulgação nacional e abrangente. “A internet é só mais uma ferramenta de divulgação, não acho que as outras (rádio, TV e imprensa) perderam importância e peso. Sem elas, não existe marketing de música, cada uma tem o seu papel na construção da carreira do artista”, resume Cris Perez, ressaltando o papel 360 que um bom divulgador deve ter: estar sempre de olho na melhor oportunidade, qualquer que seja o meio, para emplacar seu cliente. “O divulgador é um profissional que se relaciona com todas as áreas fundamentais para a construção da carreira do artista e tem um trânsito no mercado todo, incluindo agregadoras, editoras, produtores musicais e outros. Também pode sugerir trilhas em novelas séries através do relacionamento profissional que tem com os curadores/diretores musicais.”

Especialista em rádios, Tina Valente lembra que, país afora, há milhões de pessoas que “não têm internet em casa, não são nativos digitais. O Brasil, igualmente, não é Rio ou São Paulo. Os jovens que operam as redes sociais são importantes, mas não fazem tudo sozinhos”, reivindica. “O artista só aumenta seu cachê quando toca no rádio. O mundo do sertanejo tem times inteiros para o rádio. Marilia Mendonça, por exemplo, fez sucesso no rádio, não no digital. E o rádio é o caminho de acesso natural à TV, que permanece como o topo da cadeia. Anitta nunca deixou de tocar no rádio. Trabalha todas (as músicas) lá. E tem muita visualização no digital. Aqueles que não entenderem que o mercado é 360 vão ficar para trás. E a Anitta e outros inteligentes nadam de braçada.”

 

...mas, tudo começa no digital

A exaltação à visão 360 não impede nossos três divulgadores de cravar: tudo começa com um bom trabalho digital. “Qualquer que seja o objetivo de longo prazo, é vital fazer uma boa base de fãs nas redes. O cara com pouca visualização, com pouco stream, vai ter que cortar um dobrado para chamar a atenção do crítico, do radialista, do produtor de TV... Hoje em dia as pessoas se baseiam em informações de redes digitais, em visualizações no YouTube. Então, é importante apostar nisso, que é a fundação da imagem do artista”, Tina resume. 

 

Investimento para divulgação
É comum que os independentes não disponham de muitos recursos para promover seu trabalho e apelem para táticas de guerrilha ou concentrem a grana quase que exclusivamente no digital. “Quatro mil ou R$ 40 mil para impulsionar em redes sociais, dependendo do orçamento, podem não parecer muito. Mas, com bem menos, é possível centrar esforços numa boa estratégia de pesquisa e divulgação certeira no rádio e na TV. E o resultado vai ser maior, pode acreditar”, opina Tina. Contratar uma agência de divulgação, coincidem os três, pode custar bem pouco, dependendo do serviço desejado. O principal diferencial será dispor de um profissional dedicado a pensar junto com o artista uma estratégia voltada para cada meio. “95% dos radialistas, dos produtores de TV, gostam doface to face, do olho no olho. Somos quem dá a credibilidade do produto que estamos divulgando. Um bom diretor de compras de um supermercado não coloca em suas prateleiras um produto pela beleza da embalagem. Ele experimenta cada item antes. Na música, na maioria dos casos, também é assim...”, diz Zeca. 

 

Como apagar um incêndio

O divulgador é um administrador de crises. Assim define Zeca Santanna. “Uma das nossas funções é consertar algo que ficou errado, tratar de boatos que surgem em torno do cliente, de algo que é preciso esclarecer nos meios... O artista tem a palavra final, mas em muitos casos é preciso que ele trabalhe em equipe”, analisa. “Trabalhei com um artista que não era muito bem visto no meio televisivo. Tinha muito fake news nessa história, então é preciso batalhar por uma oportunidade para virar o jogo. Pedi um voto de confiança (a uma determinada emissora). Hoje ele é figura presente ali, quase um sócio”, ele ri. 

“A gente só consegue fazer isso (reverter notícias ruins e contornar ruídos na comunicação) quando acredita no artista com quem trabalha. Isso é fundamental. Você faz nascer, faz acontecer. O divulgador é sempre pro, não contra. É o primeiro a vender, a mostrar, a acreditar”, discorre Tina. “Uma artista como a Ivete Sangalo, por exemplo, com uma carreira tão consolidada, pode ter um problema qualquer que a impeça de ir a um show marcado e com ingressos vendidos. Aí a gente entra para contornar, para propor soluções que minorem o problema. Só aí é apagar incêndio, na maior parte do tempo é consolidar a imagem, é vender positivamente, é ter cuidado com o artista. Em resumo, é vendê-lo da forma mais apaixonada possível.”

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