Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Quanto vale R$ 1 mil de execução pública?
Publicado em 15/01/2020

Uma reedição da reportagem da Revista UBC de novembro com mais detalhes sobre o cálculo dos valores

Do Rio 

Emplacar uma canção na abertura de um programa da TV Globo não é o mesmo que ter um punhado de execuções de uma música no YouTube. Os contratos estabelecidos entre o Ecad e os diferentes usuários de música, bem como o resultado da distribuição dos valores para os criadores das músicas utilizadas ali, preveem valores muito diferentes.

O cálculo exato é complexo, leva em conta uma unidade de valor chamada ponto autoral e, quando o segmento contempla o direito conexo (de intérpretes, músicos executantes, produtores musicais), também o ponto conexo. Essas medidas variam a cada distribuição, em função do total arrecadado pelo Ecad e outros fatores como a forma como a música foi utilizada, se a distribuição é direta ou indireta etc.

Na edição de novembro da Revista UBC  publicamos uma tabela com alguns exemplos de diferentes segmentos de arrecadação e quanto é preciso em exposição neles para se alcançar um valor de R$ 1 mil em execução pública. Como houve algumas dúvidas entre os leitores sobre valores de televisão e YouTube, principalmente, voltamos ao tema, com mais detalhes, para que fique tudo bem claro. 

Vale ressaltar mais uma vez que falamos aqui sobre os valores distribuídos em períodos específicos e pelos direitos de execução pública das músicas. A ideia é mostrar uma ordem de grandeza para o leitor, já que os valores mudam constantemente a cada distribuição, e o montante que cabe a cada titular depende se ele é autor, editor, produtor fonográfico, músico ou intérprete.

Traduzindo e dando mais detalhes sobre os exemplos listados aqui:

>> 23.828.246 de execuções no YouTube.
Para esta plataforma, a distribuição é direta*, mas, para o cálculo, são contadas apenas as visualizações no Brasil. Neste exemplo, levamos em consideração a distribuição de maio de 2019, que contempla o que foi executado em dezembro de 2018. O valor do ponto autoral nesta distribuição foi de R$ 0,000041967 por stream. Para chegar ao número de execuções necessárias para se alcançar os R$ 1 mil, portanto, basta dividir mil pelo valor do ponto: o total são as cerca de 23,8 milhões de execuções. Vale lembrar que os valores se referem unicamente ao ponto autoral, porque ainda não arrecadamos direitos conexos de execução pública no streaming.

 

>> 3.196 segundos como Tema de Abertura na TV Globo e 12.381 segundos como tema de personagem na TV Record. Totais que SE REFEREM A UMA ÚNICA RETRANSMISSORA DA REDE e que variam muito se a utilização foi em nível nacional.


Usamos como base a distribuição de julho de 2019, que foi referente às músicas executadas entre janeiro e março de 2019. A distribuição de TV Aberta é uma distribuição direta*, e o valor do ponto leva em consideração a forma de utilização da obra musical: se foi uma performance, um tema de abertura, de personagem ou outros tipos de uso. Neste exemplo, falamos sobre um uso como Tema de Abertura na Globo. O ponto autoral para cada segundo utilizado como Tema de Abertura neste período foi de 0,20854. O ponto conexo foi de 0,1044, mais ou menos a metade. Somando os 2, temos um total de 0,31294 por cada segundo utilizado. Fazendo o cálculo, chegamos ao número de 3.196 segundos para atingir R$ 1.000. Muito importante: esse valor se refere a uma única emissora da Rede Globo. Se a música foi utilizada em nível nacional (como é o caso de uma telenovela), o valor deve ser multiplicado por 122, que é o úmero de emissoras afiliadas. Em outras palavras, se contarmos toda a rede de emissoras da Rede Globo, bastam 26 segundos na abertura da novela para se chegar aos R$ 1.000 (autoral e conexo). O mesmo vale para o exemplo da TV Record (no caso, tema de personagem em novela). Como os 12.381 segundos apresentados na matéria original para se chegar aos R$ 1 mil se referem a uma única emissora, o valor cai para 114,6 segundos se levarmos em conta as 108 afiliadas da rede. 

>> 246,2 execuções no grupo música de TV por Assinatura.

Os canais do Grupo de Música, que são os canais de áudio com conteúdo exclusivamente musical, recebem 10% da verba arrecadada das TVs por Assinatura, e a distribuição para esse grupo é feita de forma direta*. Usamos aqui o termo “execuções”, em vez dos “segundos” usados na TV Aberta, porque a distribuição neste caso leva em consideração o número de ocorrência da música que será contemplada na distribuição, em vez do número de segundos de execução. Isso tem a ver com a qualidade das informações que recebemos destas fontes pagadoras. O valor do ponto na distribuição de agosto de 2019, referente às músicas executadas de janeiro a março do mesmo ano, foi de 2,83669 para a parte autoral e 1,22423 para a parte conexa. Somando os 2, temos um total de 4,06092 para cada música utilizada. Dividindo pelos R$ 1.000 propostos na matéria, chegamos ao total de 246,2 execuções.

>> 6 execuções na Rock Street do Rock in Rio 2017.

A distribuição de shows em festivais tem um cálculo específico e distribuição direta*. O cálculo leva em consideração os diferentes palcos e divide a verba arrecadada, em primeiro lugar, em relação à importância de cada palco na programação do festival; depois, o número de atrações em cada palco a cada dia; e, por último, o número de músicas executadas por cada atração. Como estamos falando, em sua maioria, de apresentações ao vivo, nas quais não há uso de fonograma, o ponto é somente autoral. No Rock in Rio de 2017, que foi distribuído em novembro daquele mesmo ano, o valor atribuído para cada apresentação do palco Rock Street no dia 15/9 foi de R$ 1.663,29 para os autores das músicas executadas. No exemplo do infográfico, a banda apresentou 10 músicas, ou seja, cada música correspondeu a um pagamento de R$ 166,32. Dividindo o valor proposto de R$ 1.000 por este valor de ponto, chegamos ao total de 6 execuções.

Apenas a título de comparação, no Rock in Rio do ano passado, o palco Rock Street Asia teve um peso semelhante na distribuição do festival, e cada apresentação neste palco teve o valor de R$ 1.885,56. Para saber o valor por música, basta dividir este montante pelo número de músicas no setlist.

 

  >> 4,7 captações em Rádio Sudeste e 6,8 captações no segmento Música ao Vivo.

A semelhança entre estas duas rubricas reside no fato de que as distribuições são consideradas indiretas*, ou seja, são feitas por um sistema de amostragem certificado pelo Ibope. Por isso foi utilizada a palavra “captação”, em vez de execução.

No segmento de rádio é usada uma amostra de 200.000 execuções trimestrais provenientes das rádios adimplentes (em dia com os pagamentos) de todo Brasil. A amostra é desmembrada considerando as cinco regiões geográficas do Brasil: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Isto significa que o valor total arrecadado das emissoras de rádio de determinada região é dividido pelo total de obras captadas nas programações das rádios adimplentes desta mesma região. Utilizamos como base a distribuição do mês de julho de 2019, que leva em consideração as músicas captadas de janeiro a março. A soma dos pontos autoral e conexo nesta distribuição foi de R$ 213,37. Ou seja, se uma música foi captada 4,7 vezes neste período, chegamos ao total de R$ 1.000.

Já no segmento de música ao vivo, a amostra é de 50.000 execuções, e também só são levados em consideração para formação desta base amostral estabelecimentos adimplentes. A distribuição usada no exemplo também é a de julho, cuja captação é referente ao período de janeiro a março, e o valor do ponto foi de R$ 147,24. Só existe ponto autoral neste caso, já que estamos falando sobre música ao vivo, o que supõe que não há uso de fonogramas. Com 6,8 captações, chegamos ao valor de R$ 1000.

 

  >> 2.800.218 de audições na Deezer e 1.952.313 no Spotify Premium.

Como no exemplo do YouTube, a distribuição é direta, e são contadas apenas as audições no Brasil. Os valores deste exemplo são aqueles aferidos na distribuição de agosto de 2019 em relação ao que foi executado de julho de 2018 a março de 2019, no caso da Deezer, e de março a maio de 2018, no caso do Spotify Premium. Aqui, também só há arrecadação de valores para a parte autoral da música, por enquanto, e os valores dos pontos foram de 0,000357115 e 0,000512213 respectivamente. Para chegar ao número de execuções divida mil pelo valor do ponto. O resultado será de 2.800.218 execuções na Deezer e 1.952.313 execuções no Spotify Premium. Importante: estamos falando aqui unicamente de pagamento de direitos autorais de execução pública, e não de outros valores — como direitos fonomecânicos — que também se aplicam quando uma música é executada numa plataforma de streaming. 

 

*Distribuição direta é aquela que ocorre quando o valor é distribuído exatamente para as obras executadas na ocasião da utilização musical. Os segmentos que têm distribuição direta são: Show, TV Aberta, Mídias Digitais (Internet Show e Streaming), TV por Assinatura (Alternativo, Música, Audiovisual e, no caso dos canais de Jornalismo/Esportes e Variedades, para as músicas inseridas em filmes com base nos cue-sheets) e Cinema. 

Já na distribuição indireta, o valor é distribuído com base em uma amostragem estatística de utilização de obras e fonogramas em um sistema certificado pelo Ibope. Cada segmento terá uma amostragem específica de obras e fonogramas na qual o montante arrecadado será distribuído. Os segmentos com distribuição indireta são: Mídias Digitais (Internet Simulcasting, Internet Demais), Rádio, Direitos Gerais, Música Ao Vivo, Casas de Festas, Casas de Diversão, Carnaval, Festa Junina, MTG e TV por Assinatura (Jornalismo/Esportes e Variedades).

Para conhecer mais sobre os diferentes tipos de segmentos, acesse o Guia do Associado


 

 



Voltar