Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

O que será da música em 2021?
Publicado em 26/01/2021

Conversamos com quatro especialistas para traçar possíveis cenários para um mercado tão impactado pela pandemia. Entre eles: shows online com alta interatividade, reforço no marketing, aposta no financiamento do público e eventos ainda não presenciais (ou, no máximo, híbridos)

Por Eduardo Lemos, de Londres

Fazer previsões é sempre arriscado e, depois da pandemia, passou a ser um exercício quase impossível. Mesmo assim, dá para vislumbrar alguns temas que estarão em destaque para o mercado da música em 2021.

Para Fabiana Batistela, diretora da SIM-São Paulo, o ano de 2020 "acelerou o futuro" e fez a tecnologia ter papel central também na área de shows. "Por causa da pandemia, fomos forçados a usar a tecnologia para resolver uma questão urgente do mercado ao vivo, que era a impossibilidade de se fazer eventos presenciais", relembra. Se de início o formato "voz e violão em casa" foi sucesso, aos poucos as lives logo ganharam atenção de marcas e patrocinadores e se profissionalizaram. Artistas brasileiros, sobretudo do sertanejo, conquistaram recordes mundiais de audiência em sofisticadas performances transmitidas pelo YouTube.

Show de realidade estendida e outras experiências interativas

Mesmo com a rápida profissionalização, o modelo perdeu força, em parte pela pouca rentabilidade. "A grande maioria dos artistas não encontrou na live um substituto para os shows que tiveram que ser cancelados", explica. Para Fabiana, em 2021 o mercado irá em busca de configurações mais ousadas. Ela cita o show do rapper Criolo em realidade estendida, realizado na semana passada na plataforma Twitch, como um bom exemplo do que está por vir.

Opinião semelhante tem Heloisa Aidar, sócia da Altafonte Brasil e diretora-executiva da Altafonte Music Publishing Brasil. "Vamos sair da proposta de live como se fosse um show filmado e vamos pra um lugar mais criativo e com mais interatividade", arrisca. Ela acredita que o próprio retorno dos espetáculos presenciais deve alterar o formato de shows virtuais. "Acredito que vamos explorar essas modalidades de outras formas, e não como a única opção."

"Vamos sair da proposta de live como se fosse um show filmado e vamos pra um lugar mais criativo."

Heloisa Aidar, sócia da Altafonte Brasil 

O cruzamento da música com outras artes também deverá se fortalecer em 2021. "Shows em games foram uma grande sacada do mercado", cita Guta Braga, especialista em direitos autorais. "A grande tendência neste segmento será a criação de diferentes experiências de shows para o público".

Reforço nas estratégias de marketing

No meio de tantos cenários, está uma parte essencial da equação: o público. Em 2021, quais serão seus critérios de escolha? Para Dani Ribas, diretora da Sonar Consultoria e Coordenadora do Curso Estratégias de Carreira no Music Rio Academy, os artistas precisarão inventar novas formas de se relacionar com os fãs — e isso não quer dizer apenas 'mais verba de publicidade'. "Marketing é uma parte importante, mas uma relação genuína com o público envolve muito mais. Não basta divulgar o trabalho, é necessário se relacionar com o público, o que é muito diferente de chamar a atenção dele, que é a prática mais recorrente no mercado musical. É uma tendência a busca por métodos que vão além dessa lógica", opina.

"Não basta divulgar o trabalho, é necessário se relacionar com o público."

Dani Ribas, diretora da Sonar Consultoria

O hackaton (encontro de programadores) Code Stage, realizado pela Sony Music Entertainment Brasil em outubro, mostra que não é só o artista independente que precisará rever sua comunicação; as majors também estão atentas ao assunto. "Claro que a gravadora pode investir em marketing para ampliar o alcance (e elas gastam bastante com isso), mas a relação com o público é algo que só o artista pode manter, e a Sony quer dar possibilidades para o artista fazer isso de uma maneira mais qualificada", explica Dani Ribas.

"Pago ou de graça, o artista precisará oferecer uma experiência incrível para o consumidor, para o fã, para o público. Assim como no ao vivo e no presencial, se aquele evento não for uma experiência que vai ficar marcada, que deixa a pessoa satisfeita de ter participado, não vai dar certo", diz Fabiana Batistela.

"Pago ou de graça, o artista precisará oferecer uma experiência incrível para o consumidor."

Fabiane Batistela, diretora da SIM-SP

Melhores remunerações no streaming: eterna discussão

Outro tema que deverá dominar as discussões em 2021 é a remuneração da cadeia produtiva da música a partir dos lucros vindos dos streamings. Com mais gente em casa, as plataformas cresceram em número de assinantes, e a tendência é de ainda maior subida em 2021. "Essa fonte de renda ajudou muitos artistas durante a pandemia", diz Heloisa Aidar, que, no entanto, vê "um caminho a percorrer para encontrar um modelo completamente harmonioso e equilibrado."

"(Há) um caminho a percorrer para encontrar um modelo completamente harmonioso e equilibrado (de remuneração no streaming)."

Heloisa Aidar

Este é o principal ponto de atenção para o ano que começa, na visão de Guta Braga. "A questão da remuneração de autores, artistas e músicos precisa ser resolvida. Esse equilíbrio é determinante para os criadores". Para Dani Ribas, 2021 será o ano de aprofundar debates sobre os modelos de remuneração e a economia política do setor em nível global. "o debate sobre "se o streaming veio para ficar ou não" já passou, mas o tempo de experimentar maneiras de tornar o streaming mais justo para todos está apenas começando."

Público e marcas como financiadores diretos

Nesta conta, de acordo com Fabiana Batistela, entra também uma mudança de mentalidade do próprio público, que deixaria de ser apenas um admirador e passaria a ser um financiador do artista. "O mais justo seria que os fãs pagassem pequenos valores pelo conteúdo, para sustentar, inclusive, a produção artística. Se ele gosta de um artista, a única forma de fazê-lo continuar criando é que ele seja remunerado para isso."

"As marcas deverão se associar tanto a grandes eventos quanto a artistas pequenos, que são microinfluenciadores."

Fabiane Batistela

O olhar da iniciativa privada para oportunidades na música deverá sofrer uma sofisticação, segundo Fabiana Batistela. "Em 2021, devemos esperar ativações de marcas mais inteligentes. Elas já estão entendendo que o digital veio para ficar e não vai embora mesmo com shows presenciais". Outra tendência é a aposta na diversificação. "As marcas deverão se associar tanto a grandes eventos quanto a artistas pequenos, que são microinfluenciadores. Há uma busca por qualidade, mais do que quantidade", explica.

Melhor não contar com eventos presenciais ainda...

Obviamente, Dani, Heloisa, Guta e Fabiana esperam que 2021 seja o ano em que o mercado da música começará a se reerguer do baque que a pandemia causou em 2020. Mas o cenário sanitário global ainda pede bastante cautela. "Tem alguns eventos grandes que estão apostando no mês de setembro e já estão vendendo ingresso. É o caso do Coala, Lollapalooza, e eu sinceramente tenho dúvidas se eles vão conseguir fazer nessas datas. Eu torço muito para que sim", reflete Fabiana, lembrando que a SIM-SP aposta no mês de dezembro para realizar sua 9ª edição em formato híbrido.

"A arte salva. O mercado vai sobreviver e vai encontrar formas criativas de estar em contato com o público. Só espero que os artistas recebam mais incentivos e financiamentos para continuar salvando vidas", pede Heloisa Aidar. "Temos hologramas, realidade virtual, realidade aumentada, games, são diferentes experiências e, ainda assim, é música, emoção, conexão. Como diria o filósofo, sem a música, a vida seria um erro", encerra Guta Braga.

"Só espero que os artistas recebam mais incentivos e financiamentos para continuar salvando vidas."

Heloisa Aidar

LEIA MAIS: Especialistas analisam as tendências deste ano para os festivais de música


 

 



Voltar