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Pernambuco falando para o mundo... das crianças
Publicado em 02/05/2016

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Cena musical infantil floresce em Recife e, com linguagem universal, conquista todo o país

Por Bruno Albertim, do Recife

A pernambucana Carol Levy era uma bem-sucedida publicitária até perceber, em 2010, que não estava exatamente feliz com o que fazia. Com uma vasta experiência na simulação de vozes caricatas na gravação de jingles e locuções, outra de suas atividades naquele momento, encheu-se de coragem: no playground do próprio prédio em que mora, no Recife, armou seu primeiro espetáculo de contação de histórias para crianças. A partir dali, o destino se encarregou de fazer o que faz quando as coisas precisam acontecer.

Depois de uma pequena temporada se apresentando de graça numa grande livraria do Recife, Carol viu o projeto tomar conta de sua vida. Com a parceria do marido Carlinhos Borges, dono do Estúdio Carranca responsável por alguns dos discos mais instigantes da cena local, ela se tornou um fenômeno da música popular infantil nordestina. “O universo lhe ajuda quando você tá de coração aberto”, diz ela, que, depois de esgotado o primeiro DVD, “Contarola”, está finalizando agora o segundo, gravando uma série de vídeos com incentivo do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), reformulando seu canal no YouTube e, ufa, gravando a segunda temporada de seu programa para a TV Globo Nordeste.

Carol Levy não está sozinha. Integra um fenômeno maior. Ela é hoje parte de um cenário consolidado de música autoral contemporânea feita para crianças no Nordeste - uma cena que não depende necessariamente do regionalismo, seja ele o do sertão de Gonzaga ou do maracatu atômico de Chico Science, embora dele também não tenha aversão. “Algumas vezes, uso o cancioneiro popular. Mas, na maioria, as canções surgem da observação do comportamento de crianças como meu filho de três anos”, ela diz.

Um de seus sucessos é “Dinossaura de mentira”, uma canção sobre a lagartixa que descobre a própria natureza. “Música para criança tem que ser inteligente, com uma história bem contada. Ou se, mais simples, com um ótimo arranjo. Criança não é boba”.

Quem também sabe que criança não é boba é o Mundo Bita, projeto de entretenimento infantil da Mr. Plot, empresa ancorada no Porto Digital, o polo de informática do Recife Antigo. Os bonecos dos personagens Bita, Lila, Tito e Dan que acompanham a cantora Flora durante os shows de quase um hora licenciados para todo Brasil surgiram meio que por acaso. Os sócios da empresa já tinham começado um projeto de criação de aplicativos infantis para tablets quando tomaram a decisão de investirem conteúdo inédito, musical e autoral para crianças.

Coincidentemente, Chaps Melo, um dos fundadores da Mr. Plot, mostrou os desenhos elaborados por ele para decorar o quarto da própria filha - entre eles, a figura boa-praça de bigode e cartola. Estava surgindo, então, um universo. “A partir daqueles personagens do circo mágico do Bita, criados para a filha dele, fomos adaptando para os personagens que existem hoje”, diz Felipe Almeida, um dos outros quatro sócios da Mr. Plot.

Com parceiros contratados, é Chaps o responsável pela maioria das composições. “O que acho mais interessante na história da criação do Bita é que fiz pensando apenas na minha filha, no conforto do quarto, na tranquilidade e na alegria. Tem uma carga de amor muito grande nesse desenvolvimento. O fato de ter virado um personagem famoso foi puro acaso”, explica Chaps. Com o sucesso dos primeiros clipes, ainda em 2013, a Sony Music e o Discovery Kids começaram a parceria com a Mr. Plot. A primeira distribuiu os DVDs. O primeiro deles, “Bita e os Animais”, ganhou o disco de platina e foi o segundo DVD infantil mais vendido no País. Os outros dois lançamentos foram “Bita e as Brincadeiras”, premiado com disco de ouro, “Bita e o Nosso Dia”, lançado em outubro de 2015.

Além de shows e peças de teatro, os criadores também já licenciam brinquedos, material escolar, de higiene e artigos de festas. “Estamos já trabalhando no quarto disco. A parceria com a gravadora é definida estrategicamente caso a caso. Para ter nossos produtos bem distribuídos nacionalmente, com esse volume, é bom ter a parceria com a Sony. Se o produto tiver atração e audiência, ele pipoca”, diz Felipe, que pretende agora investir numa série de TV com 52 episódios - o que deve exigir um investimento de R$ 3 milhões durante dois anos.

“Ainda estamos na criação de clipes musicais”, ele diz. Eles estão também nas plataformas Spotify e Napster.  Os shows são feitos através de contratos com produtoras parceiras. “Nós aprovamos basicamente tudo, realizamos uma espécie de licenciamento tradicional. Temos uma produtora que cuida dos shows no Nordeste e outra no Sudeste”, diz ele, explicando porque alguns shows são concomitantes pelo País.

Quem também faz sucesso no Recife são as Fadas Magrinhas, condinome da dupla Lu e Aninha Araújo. Cantoras e percussionistas, as gêmeas iniciaram a carreira musical em 1999, no grupo Corpos Percussivos e, de lá pra cá, já prestaram serviços nomes como Naná Vasconcelos, Alceu Valença, Tink of One, Renata Rosa e Erasto Vasconcelos. O primeiro álbum delas, aliás, conta com várias participações especialíssimas: Chico César, Naná Vasconcelos, Marcelo Jeneci, Cássio Cunha, Paulo Rafael e Adriano Salahab. “Há uns 15 anos, estávamos jantando na casa de Chico César, quando Carlos Careqa (compositor) falou que se a gente montasse uma banda, teria que se chamar Fadas Magrinhas”, diz Lu. O CD As Fadas Magrinhas conta reggae e rocks, além de ritmos tradicionais do Nordeste.

Gilmara Lima, Ivan Silva, Kleanne Oliveira, Flavio Oliveira e a PF Aboborá Produções são os responsáveis por outro sucesso de vídeos no YouTube com o Patinho Tuga e suas versões animadas de clássicos do cancioneiro popular infantil brasileiro. Além dele, quem também capta a atenção dos pequenos no palco e na rede é a banda cearense Dona Zefinha. Seu primeiro espetáculo autoral, “O Circo sem Teto da Lona Furada e o picadeiro dos bufões” trata do circo popular mambembe nordestino, com o uso encantador de instrumentos exóticos, números e personagens circenses, piadas e improvisos. Como os outros músicos dessa cena musical vigorosa para crianças, há na trupe uma vontade grande de não esperar as coisas acontecerem. Empreender e criar são palavras na pauta de quem deseja se comunicar com crianças - e conta com a música para isso.


 

 



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