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A dor e a delícia de escolher nossas melhores músicas
Publicado em 04/11/2016

Nelson Motta lança “101 Canções que Tocaram o Brasil”, um livro em que apresenta, não sem muita dificuldade, algumas das peças mais emblemáticas do século XX

Por Alessandro Soler, do Rio
Foto de Bruno Veiga


Nelson Motta é um dos sujeitos com mais predicados no mundo musical brasileiro. O jornalista e produtor e crítico e compositor e analista de mercado e curador é, ele mesmo, o nome por trás de inúmeros sucessos da MPB, seja por meio de suas letras, de suas parcerias, de suas produções, de suas traduções ou da “catapultagem” generosa que ofereceu a tantos cantores e bandas ao longo de décadas de carreira. Agora, ele tomou para si uma tarefa inglória – mas igualmente nobre –, a de oferecer uma lista, para nada definitiva, das peças mais simbólicas do nosso cancioneiro.

No livro “101 Canções Que Tocaram o Brasil”, recém-lançado pelo novo selo pop do grupo Sextante, o Estação Brasil, Motta passeia sobretudo por hits – do rádio, das ruas, dos palcos – que simbolizaram a diversidade musical nacional no século XX. O início é ainda em 1899, com “Ó Abre Alas”, de uma das responsáveis no Brasil pelo movimento de defesa dos direitos autorais, Chiquinha Gonzaga, e o final, com “À Procura da Batida Perfeita”, composta por Marcelo D2 e David Corcos em 2003. Tudo pontuado por comentários artísticos, políticos (caso das acusações de “associação à ditadura” feitas a Jorge Ben Jor quando compôs “País Tropical”, presente na obra) e sociológicos. Sobre a música de D2 que encerra a lista, ele escreve: “A pergunta sem resposta é: por que, com a riqueza rítmica da música brasileira e a tradição do partido alto e dos cantadores nordestinos, demorou tanto a aparecer um rap com base rítmica brasileira?”

O árduo labor de peneirar pepitas em meio a tanto cascalho – “Sempre houve muito barulho, e só uma parcela mínima é aproveitável”, define – ganhou certas mediações para torná-lo viável. Por exemplo: em vez de transitar no incerto terreno do gosto – “Seria impossível escolher as canções mais bonitas, ficaria restrito ao meu próprio gosto” –, Motta acatou a sugestão do amigo Antonio Carlos Miguel, um dos maiores críticos musicais do país, e focou as mais tocadas, mais bem-sucedidas comercialmente. Daí a presença de tantas obras emblemáticas – e populares – de gênios (e quadros vitais da UBC) como Noel Rosa (“Feitiço da Vila”, “Palpite Infeliz”), Ary Barroso (“Na Baixa do Sapateiro”, “Aquarela do Brasil”), Luiz Gonzaga (“Asa Branca”), Tom Jobim e Vinicius de Moraes (“Eu Sei Que Vou Te Amar”), Gilberto Gil (“Domingo no Parque”)... Pixinguinha, Rita Lee, Cartola, Chico Buarque, Dorival Caymmi, Roberto Carlos, Caetano Veloso, Belchior, Lulu Santos. O menu é variado, atraente, cheio de temperos como a nossa música.

Como ponto de partida, as listas “das melhores”, elaboradas por sites e revistas especializados. Depois, pesou sua visão crítica e analítica. A pior parte, como lembra, foi ter de cortar tantas músicas boas e deixar as mais “emblemáticas” ou as que simbolizam fases inteiras de grandes artistas. Caso de “Velha Infância”, composta pelos associados Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown e Marisa Monte. “Foi um dos livros mais difíceis que fiz”, sentenciou ao jornal “O Estado de S. Paulo”.

Numa obra com tal escopo, é claro que a reverência maior cabe a nomes que já inscreveram seu legado na história. Apesar de ressaltar a “decadência” experimentada pela música numa questão de poucas décadas – “Foi muito mais fácil selecionar canções dos anos 1970 que dos anos 1990” –, Nelson vê bons nomes neste momento de uma certa retomada da MPB mais reflexiva, inspirada em outros tempos mais vanguardistas, o que faz prever novas e ampliadas edições para o futuro. “Vejo com alegria nomes como Criolo, Emicida, João Cavalcanti, há muitos artistas bons”, afirmou o especialista à UBC.


 

 



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