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'Você deve se sentir a ferramenta do diretor'
Publicado em 05/12/2016

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Um dos mais destacados produtores de trilhas para TV e cinema no país, Daniel Figueiredo fala sobre essa área e prevê expansão para os próximos anos

Do Rio

Com mais de 20 anos de uma bem-sucedida carreira como músico, produtor musical e compositor de trilhas sonoras, o mineiro Daniel Figueiredo vê um momento particularmente bom para o mercado musical ligado ao audiovisual no país. O boom de produções e, principalmente, a profissionalização das relações entre produtores de cinema e TV e os compositores das trilhas tornam essa seara atrativa e cheia de possibilidades. De volta à UBC depois de um hiato de alguns anos, ele conta um pouco da sua própria experiência – sobretudo na Rede Record, onde criou as trilhas de incontáveis novelas e séries – e dá a fórmula para prosperar na área: ter interesse por, virtualmente, todos os estilos e saber traduzir as ideias dos diretores. 

Você tem um trabalho sólido como produtor musical de obras de televisão - novelas e séries - além de trilhas para filmes. Como vê esse mercado no Brasil hoje?

DANIEL FIGUEIREDO: Em ascensão. A capacidade das pessoas hoje de criar produtos audiovisuais é muito grande. Todo mundo tem equipamento, todo mundo tem canal no YouTube. Se faz um vídeo, começa a precisar de trilha sonora, começa a valorizar a trilha sonora… Nada melhor do que se sentar no lugar da pessoa para entender e valorizar o profissional. A gente vai ter muito mais, daqui para a frente, o reconhecimento dos profissionais do audiovisual. E começa-se a encarar os problemas de composição, cenário, microfonação, problemas em gerais. Vai ser necessário ter em muitos  profissionais  para atender a essas produções. Por  isso, vejo esse como um campo em expansão. 

Como começou seu envolvimento com trilhas sonoras? 

Eu já tinha feito algumas coisas esporádicas, mas em 2005, o Marcio Antonucci, que trabalhou na Globo por anos, foi chamado para ser diretor musical da Record e me convidou para assinar produção musical de novela. Eu era produtor fonográfico, fazia arranjos para artistas. Ele conhecia meu trabalho, gostava e me convidou para trabalhar com ele na Record. Era um desses caras que têm capacidade de ver o futuro do profissional. Ele era uma dessas  pessoas que têm  a capacidade de ver o futuro do profissional.  Fiz já a primeira novela da Record no Rio, dirigida pelo (Alexandre) Avancini e escrita por Tiago Santiago,  “Prova de Amor”. Foi legal porque participei quase da criação de uma televisão, o Recnov (núcleo de dramaturgia da Record) não existia. Ver isso surgir e fazer parte foi um  grande aprendizado.

O que é preciso para ter sucesso nesse mundo?

Você deve se sentir a ferramenta do diretor. Porque alguns te dão liberdade e outros querem que você traduza o que está na cabeça dele, o “clima” da história, o “tom”. Eu tenho facilidade com isso: pensar com a cabeça do diretor ou do autor , de alguma forma. Sentir o que ele quer, do que ele gosta. Se você tiver bloqueio e quiser fazer do seu jeito, vai ficar muito frustrado. Tem que estar ali sendo ferramenta, assim como cenografia , figurino, câmera etc... . Agora, se você prospera, consegue se dar bem com o diretor, ganha dele liberdade para testar tuas próprias ideias. O Avancini, em “A Lei e o Crime”, não gostou de uma proposta minha original. Tinha  muitas guitarra s distorcidas e elementos de samba misturados.  Ele  me pediu para apresentar outra concepção e cheguei então, a meu ver, a  algo  muito melhor em todos os aspectos. Outros podiam achar uma frustração, para mim foi um aprendizado e que melhorou muito a minha obra. O diretor é o responsável pelo produto. Outra questão importante é que é preciso ter, antes de mais nada, um conhecimento muito amplo de música, não se fechar jamais. O compositor de trilha deve ser o cara que entende de todo tipo de música: árabe, indiana, country, forró, o que for. E para amanhã (risos). Se tiver "ouvido fechado", se limita muito, e talvez não consiga sobreviver no mercado. Você não vai ser o melhor "forrozista" do momento, mas, sabendo do que se trata, não vai produzir uma coisa "esdrúxula".

Você toca muitos instrumentos? 

Comecei na guitarra. Depois, por saber que no estúdio é muito importante tocar teclado - já que é mais rápido e versátil -, aprendi o mais rápido possível. Toquei guitarra em banda, depois toquei teclado muito tempo, também, em banda… E isso ajudou. Mas sou apaixonado por instrumentos, e sei do retorno que um instrumento diferente dá para a expansão artística. Tenho instrumentos superdiferentes, porque gosto de experimentar, conhecer. Infelizmente não tenho é tempo para manter a execução de um virtuose de guitarra ou piano. Toco bateria e outros instrumentos sempre quando possível. Mas o tempo tem sido cada vez mais curto. 

E seu processo de criação? Como funciona? Que tipo de 'start' necessita para criar uma trilha?

Temos acesso à sinopse, capítulos etc. com antecedência. No caso da novela, raramente tem o vídeo. Sempre estou em contato com o diretor e o autor para saber se está tudo andando a contento, faço muitas músicas baseado nas necessidades do produto, nas solicitações do diretor e do autor. Há pesquisa do universo, de outras coisas que cercam a novela. Há toda uma preparação antes, um planejamento… E você vai gerenciando o que funcionou, o que não funcionou. O sonoplasta escolhe as músicas disponíveis para cada  cena, e o diretor aprova. Em filme tem a cena para compor em cima. Na novela geralmente você faz a música sem assistir à cena. Isso acaba prejudicando na maioria das vezes e surpreendendo positivamente em outras. Quando se tem acesso às imagens, conseguimos "vestir" a cena completamente, em cada detalhe, como fiz, por exemplo nas cenas das pragas da novela "Os Dez Mandamentos". O processo de "produção industrial" das novelas não permite isso. Mesmo em minisséries, nunca fiz uma em que tivesse toda ela no vídeo com antecedência, somente filmes, longas e curtas. Inclusive, quando faço música para a cena, a música fica tão personalizada e sincronizada que, às vezes, fica difícil usar a música em outra cena. É um trabalho totalmente diferente com ou sem imagem. Um personagem que você achava que era tenso, mas que na interpretação o ator leva mais para o lado sarcástico, por exemplo. Em um caso recente no texto havia menção de uma “harpa chata”. Fiz uma harpa chata, monótona. Quando vi o vídeo, felizmente antes de ir ao ar, constatei que a interpretação dos atores foi diferente: eles interpretaram como se a música da harpa era  uma coisa insuportável. Então, tive que fazer às pressas outra, que levasse o telespectador à vontade de também tapar os ouvidos (risos) mas, que era importantíssimo para passar a emoção da cena.

Seu trabalho é essencialmente de bastidores. Nunca a pulguinha do palco o mordeu?

Eu sempre fui muito fascinado com estúdio. O lance do show é envolto em tanta dificuldade, mesmo você tendo hotel de cinco estrelas, voo de primeira classe, é para mim uma coisa muito cansativa. Conheço gente que se não fizer show no fim de semana fica em depressão. Mesmo viajando 600km na van e tomando café frio, precisa disso. Eu não sou assim! Eu sou o contrário. Quero tranquilidade da minha casa, do meu estúdio, trabalhar com meu cérebro… com o corpo não! (risos).

E a sua empresa Up-Rights, como surgiu? O que ela faz exatamente?

Ela surgiu em 2008, quando comecei a achar que o que eu recebia não era o que deveria. Mas, antes de acusar e criticar o Ecad, como a maioria faz, eu queria entender a situação. Então percebi que o que faltava era um trabalho específico e que cabe ao compositor/produtor/intérprete fazer, principalmente quem produz em grande quantidade e que tem muita coisa sendo executada. O cadastro, o acompanhamento, os créditos retidos, que são imprevisíveis… Nesse trabalho de imersão nesse mundo minha arrecadação aumentou bastante. Quis propor isso a outros artistas que, como eu era antes, não fazem esse acompanhamento e acabam perdendo muito dinheiro e o controle de suas obras. Para os artistas, fica muito complexo gerenciar isso. É como um contador, mas que cuida dos direitos autorais e da administração de suas editoras/fonogramas etc. Acredito que empresas como a Up-Rights são totalmente necessárias para o mercado atual, se eu não a tivesse criado, em algum momento alguém o faria. Muitos artistas não querem contato com editora ou gravadora, querem ter total controle de suas obras, o que é o ideal mas é inviável fazer sozinho. Tenho muito orgulho dessa empresa, inclusive das parcerias e amizades que surgiram através dela, e de clientes tão emblemáticos como Beth Carvalho e Roupa Nova, que admiro imensamente.

E as suas outras empresas, de que tratam?

A de trilhas sonoras é a Music Solution. Com a minha visibilidade, sempre recebo propostas para trabalhos que não consigo ter tempo para fazer. As pessoas querem o meu "controle de qualidade". Então, me juntei a um produtor e compositor de São Paulo, que trabalhou na Record de lá por mais de 10 anos  (o Júlio Cesar) e ao Luis Helenio, fundador e diretor do Iatec, e criamos a Music Solution. A área de trilha sonora original no Brasil ainda não se profissionalizou o suficiente a meu ver. É preciso ter empresas como essa para fornecer de modo profissional, cumprindo prazos, com garantia de qualidade e em qualquer quantidade necessária para evitar que diretores e produtores se estressem, o que os leva, às vezes, a utilizar soluções de fora, como banco de trilhas bancas. A outra é a Paratela, para desenvolver aplicativos.

Você voltou agora para a UBC depois de ter ficado um tempo fora. Como avalia o trabalho da UBC?

Eu já admirava demais o trabalho do Marcio Ferreira, gerente de Atendimento, e de seu funcionário Ariel Carvalho. Com a vinda do Marcelo Castello Branco, o trabalho deles ganhou ainda mais segurança. O Marcelo também é um cara muito respeitado no mercado, a UBC está de parabéns pela escolha, e acredito que todo o mercado tenha ganhado muito com isso também.


 

 



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