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'Qualquer carreira artística atualmente depende da internet'
Publicado em 16/02/2017

Marcelo Segreto, da Filarmônica de Pasárgada, fala de era digital e outros temas que habitam o universo em expansão do grupo, presentes no álbum “Algorritmos”

De São Paulo

Com quase 10 anos de estrada, a Filarmônica de Pasárgada é uma usina de ideias em atividade constante. Dá fé disso o mais recente CD da banda, “Algorritmos”. Todo dedicado ao universo digital e da internet, o trabalho, concebido por Marcelo Segreto, líder da trupe que bebe na fonte da Vanguarda Paulista e de tantos precursores da MIP (música inteligente paulistana), revela extensa pesquisa e muita criatividade ao costurar temas oriundos de redes sociais, da linguagem binária, da navegabilidade em rede, da solidão em meio à hiperconexão. Com participações de Tom Zé, Guilherme Arantes, José Miguel Wisnik, Juçara Marçal, Luiz Tatit e até da cartunista Laerte, propõe uma interessante reflexão sobre a relação homem x máquina em canções como “144 Caracteres” (cuja letra tem o tamanho máximo de um texto permitido no Twitter), “Tribunal do Facebook” ou “WWW”, uma colagem, bem ao modo da web, de clássicos de Caetano, Beatles, Shakira...

Num papo com o site da UBC, Marcelo Segreto fala sobre “Algorritmos”, era digital e processo de produção. E, neste simpático vídeo abaixo, convida os leitores a ler a entrevista.

De “Cérebro Eletrônico” a “Algorritmos”, o que mudou na relação homem x máquina? O olhar agridoce de Gilberto Gil sobre a tecnologia é compartilhado por vocês?

MARCELO SEGRETO: Esse assunto é muito legal, pois, realmente, se pensarmos nessa questão da relação do homem com a tecnologia, veremos que há sempre esse vagar entre o lado doce da máquina e o seu lado amargo. Muito interessante a pergunta ter citado a canção do Gil, pois ela toca num ponto importante: por mais que a tecnologia (ou o “cérebro eletrônico”) queira fazer tudo, ele jamais será capaz de desumanizar o ser humano. É igualzinho com a internet. Ela jamais será capaz de desumanizá-lo. Transformá-lo, sim, sem dúvida. Na canção do Gil, surge a ideia de morte como um “impulso primitivo” ou de como o “caminho inevitável para a morte” jamais poderá ser impedido pela tecnologia (acho improvável que inventem a vida eterna... [risos]). Enfim, por mais que a tecnologia se desenvolva de um modo inimaginável, haverá sempre espaço para o humano, sabe? Até porque o homem sempre humaniza a máquina. O Facebook não nasceu do nada. Ele nasceu de questões e necessidades de interação muito humanas.

Que relação vocês têm, como banda, com os novos meios, as redes sociais, os gadgets, as novas tecnologias? Fazem questão de uma presença em rede? Interagem com os fãs por meio desses canais?
Acho que toda banda, assim como qualquer projeto autoral ou empresa, não pode, de modo algum, dispensar a internet como meio de divulgação do seu trabalho. Nós não somos diferentes. A interação nas redes sociais com os fãs da banda é uma atividade essencial do trabalho. Enfim, sem essas ferramentas (que hoje são praticamente um modo de vida, e não apenas simples ferramentas), não conseguiríamos divulgar os shows e o lançamento dos novos discos, por exemplo. Acho que qualquer carreira artística atualmente depende da internet, ou melhor, nasce com ela. São coisas absolutamente entrelaçadas.

E os serviços de streaming de música? São mais dor ou delícia? O que opinam sobre a remuneração aos artistas na era digital?
Esse é um sistema que ainda está se firmando, e as coisas estão sempre mudando, né? Sabemos que a mentalidade do usuário brasileiro era muito avessa ao pagamento de downloads, por exemplo. Atualmente, já observamos que muitas pessoas aderiram ao pagamento mensal de sites de música, o que rende remuneração. Enfim, o sistema em si é ótimo. A dificuldade real para as bandas independentes é fazer com que o número de execuções de suas músicas aumente. Ou seja, no fundo, o problema se mantém exatamente o mesmo. A dificuldade está na distribuição, isto é, na visibilidade do artista nos meios de comunicação.

Além da sociedade em rede, que outros temas têm habitado o universo de Pasárgada?
Atualmente, estou compondo canções para o próximo disco da Filarmônica, que será todo dedicado à cidade de São Paulo. Então, acho que os temas paulistanos estão sendo frequentes nas novas letras e canções. Ando estudando bastante a história da cidade e tenho percebido que esse tema, por sua riqueza e complexidade, dará muito pano pra manga :)

Que planos vocês têm para 2017? Vem trabalho novo por aí? Turnê? Ano sabático?
Neste ano de 2017, ainda queremos trabalhar o show do CD “Algorritmos”, com um lançamento no Rio de Janeiro e shows por outros municípios do Estado de São Paulo. Lançaremos videoclipes desse disco e trabalharemos na divulgação desse projeto. Ao mesmo tempo, já estarei preparando as canções e arranjos do próximo disco, chamado “P.S.:SP” que, como comentei acima, é dedicado à cidade de São Paulo.

A cena musical paulistana é, de longe, a mais rica, plural e magnética (no sentido de que atrai tantos talentos do resto do país). A que se pode atribuir esse encontro feliz aqui e agora?
Acho que a cena musical de São Paulo é mais plural ou complexa pois ela reflete a história da própria cidade, também plural e complexa. É o resultado natural de tantas ondas migratórias ao longo de décadas e décadas. É o resultado do crescimento industrial que ocorreu no começo do século XX e que gerou maior concentração de dinheiro na cidade e, consequentemente, maiores oportunidades de negócio na área da cultura. Enfim, num certo sentido, São Paulo é rica musicalmente por causa da riqueza cultural trazida pelas pessoas que migraram para cá. 


 

 



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