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45 anos depois, Lô Borges faz show de 'lançamento' do mítico 'disco do tênis'
Publicado em 20/02/2017

Pela primeira vez, o artista mineiro apresenta no palco, e nos arranjos originais, o repertório completo do seu álbum de estreia, que tem ainda canções de “Clube da Esquina”. As duas obras ganham novas edições em vinil

Por Kamille Viola, do Rio

Quarenta e cinco anos se passaram desde que um grupo de amigos, despretensiosamente, se uniu para gravar um disco. Suas músicas viraram hinos que atravessaram gerações e arrebataram corações no Brasil e fora dele, e o movimento até hoje é citado como influência por muitos. No mesmo ano, meses depois, um dos cantores e compositores daquele álbum lançava seu primeiro disco solo. Aos 20 anos, ele tinha composto mais de 20 músicas em curto espaço de tempo. Tonto com tanta pressão, tomou uma decisão radical: resolveu abandonar a carreira artística para viajar país afora.

A turma era o Clube da Esquina, e o artista em questão era o mineiro Lô Borges, parceiro de Milton Nascimento no mítico álbum de 1972, que acaba de ser lançado em vinil duplo (assim como o segundo disco do coletivo). Em breve, também sairá no mesmo formato o primeiro trabalho solo de Lô, o "disco do tênis", como ficou conhecido por causa da sua bonita capa com um bar de tênis surrados em destaque. O mais surpreendente é que “Lô Borges” nunca chegou a ser apresentado ao vivo, lacuna que o artista decidiu corrigir agora: ele está em turnê com o repertório dos dois álbuns, com os arranjos originais.

"(O Clube da Esquina) foi um encontro iluminado de jovens cantores, compositores, escritores, letristas. Fizemos uma obra que não tínhamos noção de que ia virar uma obra histórica, que ia ser referência 45 anos depois. A gente fez despojado de qualquer espírito histórico, exercendo nosso talento, nossa musicalidade, sem nenhuma pretensão de marcar a história. Queríamos fazer um disco muito bom. Só tínhamos uma pequena pretensão: queriamos mudar o mundo (risos)", resume Lô Borges. "A gente vivia debaixo de uma grande ditadura militar, sanguinária. Nossa resistência era através de música de qualidade, um disco em que eu estou envolvido até o pescoço, foi quando fui lançado como artista. Devo isso ao Milton, toda vez que nos encontramos, eu digo: 'Bituca, obrigado por ter me tirado da esquina e ter levado a esquina para o Rio'", lembra o mineiro.

Parece incrível que o trabalho de estreia do artista nunca tenha sido apresentado ao vivo, mas Lô Borges conta que isso foi resultado da pressão sofrida por ele à época. "Com 20 anos, eu já tinha mais de 20 músicas gravadas, nove do Clube da Esquina e 15 do 'disco do tênis'. Devo ser o compositor no 'Guinness' com mais canções gravadas aos 20 anos (risos). Isso mexeu tanto comigo que parei minha carreira. Pensei: 'Quero que a música sobreviva dentro de mim, em vez de ter a obrigatoriedade de fazer.' Quis mostrar logo a minha visão libertária da vida, e a minha maneira foi largar a gravadora e viajar o Brasil. Por isso também não estou na capa do disco", explica Borges.


Lô Borges e Milton Nascimento

Ele só voltaria a cantar anos depois. "Em 1978, eu já estava mais estruturado como ser humano, como compositor. Quando quis fazer um disco, liguei logo para o Milton Nascimento e disse: 'Quero conversar com os caras da gravadora, eles nem querem falar comigo, me ajuda?' Ele produziu o disco e foi um dos melhores que fiz, 'Via Láctea' (lançado em 1979), e assim voltei com a minha carreira", recorda o artista.

Animado com a atual turnê, o cantor e compositor também comemora o relançamento dos trabalhos em novo formato. "Eu acho maravilhoso poder disponibilizar o velho e bom vinil para as pessoas que têm interesse nesse tipo de formato tão presente na música mundial nos anos 60 e 70 e que, com o tempo, perdeu lugar para o CD e paras outras mídias. É diferente ouvir em vinil de ouvir em CD. Traz um resgate de um tempo em que se ouvia música com cuidado, com atenção. Até os ruídos você ouve, barulho do que está acontecendo no estúdio, tem uma fidelidade de som muito mais legal do que a coisa pasteurizada que vem com o CD. Eu acho que o vinil respira, ele é vivo, tem barulho, você ouve faixa a faixa, pega com a mão e troca de uma faixa para outra, ele tem uma coisa humana que os outros formatos não têm", defende.


 

 



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