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Qual o lugar perfeito para fazer um show? A tecnologia responde
Publicado em 28/06/2017

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Ferramentas de redes sociais e plataformas de música mapeiam interações virtuais de fãs e ajudam artistas a decidirem aonde levar sua turnê

Por Kamille Viola, do Rio

Todo artista tem de ir aonde o povo está, já ensinavam há tempos Milton Nascimento e Fernando Brant. Nos dias de hoje, os versos ganham novo significado, já que é possível utilizar a tecnologia a seu favor para localizar os fãs. Facebook, Spotify e a plataforma Queremos! são algumas das ferramentas disponíveis para quem quer ser a atração certa no lugar certo.

A cantora inglesa Lucy Rose foi uma que apostou no recurso — e de forma bastante ousada. Em 2015, ela fez um post em sua página no Facebook, hoje com mais de 165 mil seguidores, pedindo a seus fãs na América do Sul para dizer em que lugares ela deveria tocar no continente, acompanhada apenas por seu violão. Ela se hospedou nas casas de seus admiradores, que também ficaram responsáveis por agendar os shows. Lucy pegou suas economias e, em oito semanas, passou por Chile, Uruguai, Argentina, Peru e Brasil.

“Eu venho lendo tweets e mensagens de pessoas da América do Sul há muito tempo dizendo 'queria que você viesse aqui'. Olhamos para elas e pensamos: 'Isso é muito legal, por que a gente não vai até a América do Sul e diz 'muito obrigada pelo apoio e por ouvir minha música'? Isso é muito importante. Então decidi que estava na hora de eu ir”, conta ela em um trecho do documentário Something's Changing, lançado este ano, que mostra os bastidores da turnê.

No Rio de Janeiro, ela fez duas apresentações, uma delas organizada pelo Queremos!, uma plataforma de interação direta com o público. Nela, os fãs podem pedir que seu artista preferido faça um show em sua cidade e compartilhar o pedido com outros fãs. Para os artistas, ela dá acesso aos dados gerados pelos fãs e um canal de comunicação direto para identificar as melhores rotas para uma turnê. Atualmente, o Queremos! atua no Brasil e nos Estados Unidos.

“A gente é surpreendido por coisas que surgem na plataforma e que não conhecia ou não imaginava que tinham público no Brasil. Perguntamos efetivamente ao público o que ele quer ver. Nossa ferramenta é específica para isso. A cada dois pedidos, um se converte em ingresso vendido, o que é uma taxa alta”, comemora Bruno Natal, um dos sócios do Queremos!. Quando há um número significativo de pedidos de um show em um determinado local, eles entram em ação. “A gente fala com empresário, pergunta se tem contratante local, se quer algum apoio. E não importa o estilo musical. Qualquer projeto que envolva música ou engajamento vale”, explica Pedro Seiler, também sócio do Queremos!.

Já os artistas podem ter acesso ao perfil de seu público na plataforma, na seção Backstage. “Qualquer músico pode se cadastrar e ele tem acesso aos dados relativos os fãs: de onde eles são, qual o gênero, idade, estado, cidade e até bairro. É uma forma de conhecer o próprio público e até entrar em contato direto por e-mail, de graça. Nas redes sociais, você tem que pagar para falar, se quiser visibilidade. E, no streaming, como hoje as pessoas ouvem playlists, ninguém garante que quem ouviu sua música é realmente seu fã”, comenta Seiler. Bruno Natal lembra que a ferramenta ajuda a criar a rota de uma turnê. “O artista não é obrigado a honrar todos os pedidos. Ele determina onde faz sentido se apresentar naquele momento”, frisa.


O show de Lucy em SP, no segundo andar de uma lavanderia 

O Spotify é outra plataforma que oferece um serviço de localização do público. Através da ferramenta Spotify for Artists, é possível ter acesso a dados demográficos dos ouvintes — idade, gênero, localização —, além de informação sobre streams em tempo real, desempenho e dados sobre playlists, além das diferentes formas pelas quais os usuários chegaram até sua música. Tudo isso, claro, pode pautar um produtor na hora de decidir se vale fazer uma parada de uma turnê num determinado lugar.

Até o Facebook dispõe de recursos semelhantes. O cantor carioca Qinho foi um dos que apostaram nessa rede social para descobrir em que lugares no Estado do Rio estavam seus fãs. A ausência de um projeto de circulação de cultura (nos moldes dos da rede Sesc no Estado de São Paulo, por exemplo) foi o que motivou o cantor a buscar novos ares e palcos para além do eixo Centro-Zona Sul, depois de dez anos praticamente restrito a ele no Rio de Janeiro.

O pontapé inicial foi semelhante ao de Lucy Rose: ele fez um post em sua página oficial, que tem mais de 9.200 curtidas, e em seu perfil pessoal pedindo indicações de lugares onde tocar. “A galera vai se marcando nos comentários, já manda um inbox, pega o telefone, liga... Teve muito isso, e o próprio público também se manifestando, dando sugestões”, lembra. “Na hora de divulgar os shows, também foi bacana essa coisa de agora poder definir a área onde você quer que seu anúncio ocorra. Então, se eu estava indo tocar na Zona Norte, eu botava um anúncio focado na Zona Norte. Se eu estava tocando na Zona Oeste, botava focado na Zona Oeste”, ensina Qinho, que já passou por Barra da Tijuca, Jardim Sulacap, Bangu e Rocha.

“Para minha grande surpresa, muitas pessoas de lugares onde eu não imaginava (ter público), e por onde nunca passei, conhecem meu trabalho, porque estão online, ligadas em tudo”, comenta. “Então, decidi: não tem um circuito cultural? Vou fazer o meu. O melhor caminho é identificar quais são os projetos dos agentes culturais desses locais que já articulam um público fã de música autoral, que já se comunicam com eles, e aí, dentro desses eventos, de fato conseguir encontrar uma galera que tem um maior potencial de gostar do seu som. Comecei a entender quais iniciativas eram essas, fui procurando e fui marcando”, diz.

A ferramenta do Facebook foi importante em três sentidos, ele explica. “Ela me ajudou, primeiro, a encontrar essas iniciativas, esses projetos, esses festivais, essas pessoas. Segundo, ajudou a conseguir divulgar meu trabalho especificamente para cada um desses lugares. E, terceiro, depois desses shows, ainda conseguir puxar essas pessoas para dentro das minhas redes. E sempre fiz tudo partindo da minha página, marcando a opção 'seguidores e amigos' na hora de fazer campanha, porque são as pessoas que têm mais potencial de engajamento mesmo”, Qinho ensina. Agora, ele quer fazer apresentações nos mesmos locais com alguma frequência. “A ideia é que todo ano eu passe por esses lugares e, a cada ano, consiga engajar mais 50, 100 pessoas”, planeja.  


 

 



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