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Dudu Borges: 'Nada falso se sustenta'
Publicado em 29/10/2017

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A entrevista completa com o superprodutor sertanejo com seis bilhões de reproduções das suas músicas na rede. Em papo com a Revista UBC, ele explica a razão do fenômeno que saiu do interior e se espalhou por todo o país: as pessoas querem se reconhecer no que escutam
 

De São Paulo
 

Dudu Borges é um dos maiores produtores do sertanejo hoje. E isso é muita coisa. O estilo mais popular do país — só Dudu tem seis bilhões de streams de músicas que produziu — se reinventa misturando-se a ritmos variados, em parte graças ao feeling dele e ao estouro de “Chora Me Liga”, de Euler Coelho e sucesso nas vozes de João Bosco e Vinícius, em 2009. Aos 34 anos, esse campo-grandense se orgulha de captar o espírito do tempo musical: o Brasil das misturas, das raízes populares e interioranas e do hedonismo, que quer se reconhecer nas canções que escuta.

Antes de militar no universo sertanejo, ele era produtor de música gospel, outro dos segmentos com mais rápida expansão país afora. Mas a história de Dudu com a música começou mais cedo, bem mais cedo, aos 12 anos. É o que ele contou nesse papo com a Revista UBC que publicamos na íntegra aqui no site.

 

Como e por que saltou da produção de música religiosa para o sertanejo? Foi uma questão de mercado ou de afinidade?

Foi um processo muito natural. Por ter nascido em Campo Grande, eu sempre convivi muito com o sertanejo, e a primeira produção com o Grupo Tradição, “Campeão de Bilheteria”, aconteceu quando eu quis produzir uma música em que até então não botavam muita fé, mas que, depois de arranjada, tomou as rádios e foi um grande sucesso. Meu relacionamento com a música, porém, não começou nem no gospel e nem no sertanejo. Eu já trabalhava aos 12 anos no estúdio do meu primo e, aos 14, comecei a arranjar jingles, que demandavam um processo completamente diferente de produção musical. Foi uma etapa que me acrescentou muito. Sempre acreditei na música, é só ela que importa, independentemente do estilo.
 

Por que o álbum “Curtição”, de João Bosco e Vinícius, que foi produzido por você, é considerado o estabelecedor de um novo padrão de música sertaneja?

Em 2009, com “Chora Me Liga”, presente neste álbum, um sertanejo foi a música mais tocada no país. E os números não estavam só na rádio, essa é a parte mais legal. As pessoas começaram a se mobilizar através da música. Os jovens das faculdades, das escolas, das festas de rodeio... Surgiu um tipo de música aberta e com muita identidade compatível com o público brasileiro, então esse foi um álbum marcante na história da música porque conectou pessoas.

 

Muitos o consideram o midas do sertanejo. Como transformar uma composição em ouro?

Não tem fórmula, tem uma sequência de fatores que se alinham: o intérprete, o produtor, o momento de carreira, o gerenciamento artístico e, é claro, o mercado. Há pessoas que pretendem apenas seguir o fluxo, fazendo coisas parecidas com o que já toca por aí, e pessoas que têm verdade, mas ainda não têm certeza de como seguir. O compositor tem que sentir a sua própria música e, sendo genuíno, acreditar nesse sentimento. Nada falso se sustenta.

 

Quais as diferenças entre o sertanejo de hoje e o de décadas passadas?

Hoje ele conversa com todos os públicos e abriu um leque de arranjos e melodias que abraçam vários outros gêneros.

 

Por que crê que o fenômeno sertanejo não para de crescer e alcançar até mesmo estados antes resistentes, e polos de grandes movimentos musicais locais, como Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco?

Por que é acessível, tem empatia. O público brasileiro vive tudo o que se escuta no sertanejo, e não tem nada melhor do que se sentir representado através da música.

 

Qual será a próxima grande onda do estilo?

O reggateon veio muito forte, e o hip hop tomou novos caminhos para se popularizar. Minha aposta é música boa com brasilidade, conteúdo e identidade, vejo muito disso no grupo Atitude 67.

 

Chegou a pensar em cantar, tocar e levar seu trabalho para os palcos?

Ocasionalmente toco com os artistas que produzo em lançamentos, gravações de DVD e outras oportunidades. O meu foco é a produção, o processo criativo, mas tenho planos de levar para a estrada um projeto com formato inovador até final do ano que vem.

 

A marca de um bilhão de streams das músicas que produziu é um feito e tanto. Que outras marcas ainda espera bater? Em outras palavras, que metas ainda tem na carreira?

Este ano contabilizamos também as visualizações das produções no YouTube e me surpreendi com mais de 6 bilhões. Os resultados ajudam a impulsionar o trabalho, e o plano é expandir as produções internacionais.


"O compositor necessita dos processos autorais respeitados e em pleno funcionamento."

O sertanejo é um dos estilos que mais se beneficiam dos meios digitais de distribuição e audição, como os serviços de streaming, principalmente porque têm por público alvo os mais jovens, principais usuários dessas plataformas. Como vê a questão da remuneração aos artistas? Acha justa a alcunha de “era dos centavos” atribuída aos serviços de streaming por alguns artistas, principalmente lá fora?

São etapas de transição, cada dia mais a lei faz ajustes para fazer vigorarem esses direitos. E vão continuar a surgir novas plataformas e novos caminhos da música até o ouvinte. O intérprete tem outras vias para se rentabilizar, mas o compositor necessita dos processos autorais respeitados e em pleno funcionamento.
 

Grande parte das suas receitas vem de direitos autorais. Como vê esse setor no país?

Caminha de modo positivo e corresponde às expectativas dos envolvidos por estar sempre atento a novas maneiras de beneficiá-los. Tudo muda muito rápido e é muito novo, mas há firmeza nos órgãos e competência nos profissionais, evolução constante e tecnologia a nosso favor.


 

 



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