Instagram Feed

ubcmusica

No

cias

Notícias

Transferência de valor: soa bem, mas não para você
Publicado em 17/10/2017

Imagem da notícia

A concentração dos principais lucros com os gigantes digitais, e não com os compositores, está no centro das preocupações da indústria musical, mostra relatório internacional

Por Alessandro Soler, de Madri

A transferência de valor está no centro das preocupações da indústria criativa. Expressão que soa positiva, essa transferência na verdade traduz a distorção que leva à grande concentração dos lucros decorrentes da exploração digital de obras musicais nas mãos dos gigantes da rede — e não nas dos criadores das músicas. E aparece como um tema de destaque na edição 2017 do relatório sobre o comportamento do consumidor de música elaborado anualmente pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI) e que você pode ler aqui, em inglês.

Se 45% das pessoas disseram ter escutado música este ano através de serviços de streaming licenciados, 55% dessas reproduções se deram em sites de vídeos publicados pelos próprios usuários, como o YouTube, que, sozinho, respondeu por 46% do total geral de streams. Como o gigante do conglomerado Google está há anos sob a mira da indústria por pagar muito pouco aos criadores das músicas que seus usuários publicam — alegando justamente não ser responsável por esses uploads —, o dinheiro gerado (com anúncios, com execução pública e com licenciamentos) não chega até os criadores. Daí se falar em transferência de valor — neste caso, para o próprio YouTube ou, em menor escala, para os donos dos canais que exploram essas músicas e lucram com os anúncios dos vídeos.

Isso se prova por números. Segundo cálculos da IFPI a partir de repasses feitos pelas plataformas digitais, cada usuário do Spotify, o maior serviço de streaming de música do mundo, gera US$ 20, parte dos quais é distribuída a titulares de direitos autorais e conexos. O YouTube sequer alcança US$ 1. Quando se sabe que 85% dos usuários do YouTube no mundo todo, coisa de 1,3 bilhão de pessoas, ouviram música através dessa plataforma somente no mês passado, chega-se à escala das perdas para os criadores.

Outro problema relacionado ao YouTube que o relatório volta a destacar é o do stream ripping, ou a extração ilegal de arquivos de sites de vídeo e sua posterior conversão em arquivos de áudio para compartilhamento ilegal. Como o site da UBC mostrou em agosto passado, vídeos publicados em portais como o YouTube estão na origem de até 70% desses arquivos piratas. Agora, o relatório da IFPI revela que 35% dos usuários de internet fazem ripping de arquivos, contra 30% no ano passado. Entre os usuários de 16 e 24 anos, o índice salta para 53%.

Brasil

O estudo da IFPI, mais uma vez, centrou-se em 13 dos principais mercados consumidores de música e que dispõem de dados fiáveis. São eles, em tamanho descrescente: Estados Unidos, Japão, Reino Unido, Alemanha, França, Canadá, Austrália, Coreia do Sul, Itália, Brasil, Suécia, Espanha e México. No caso de Brasil e México, com taxas de penetração de internet de 67,5% e 56%, respectivamente, a IFPI afirma que os dados não são totalmente comparáveis aos dos demais países, com mais de 90% de penetração. Isso porque, ao ser mais baixa, a disseminação da internet se dá principalmente através das classes mais altas, que têm hábitos digitais mais consolidados. Por isso, esses dois países latino-americanos são os que apresentam os índices mais altos de consumo de música pela internet, bem acima dos demais, o que certamente não representa toda a população nacional.

Com 97% e 95%, respectivamente, México e Brasil são os que mais usam YouTube para ouvir música (o terceiro lugar, Itália, tem percentual de 90%, e o último dos 13 países, o Japão, “apenas” 72%). Os gigantes latino-americanos do Norte (com 91%) e do Sul (com 85%) também foram os países que apareceram no topo do uso de smartphones para consumo musical, crescimentos significativos em relação ao ano passado (77% e 69%, respectivamente). Coreia do Sul, Itália e Espanha completam o top 5 dessa verdadeira migração da música para dispositivos móveis, tendência captada por grupos como o brasileiro Tribalistas, que, em seu último lançamento, uniu Facebook, Spotify e Altafonte no conceito do hand album, ou álbum de mão, uma interface que reúne no celular todos os conteúdos de áudio, vídeo e textos. O Japão, com somente 44% das pessoas usando o smartphone para escutar música, é um dos países mais arraigados às mídias tradicionais (CDs e vinis, por exemplo), mas mesmo lá o crescimento da nova modalidade é notável, quase 13% em um ano.

Todos os detalhes sobre a inovadora estratégia dos Tribalistas você vai poderá conferir na próxima edição da Revista UBC, daqui a uns dias na íntegra aqui no site.


 

 



Voltar