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O baile black de Gabriel Moura
Publicado em 07/12/2017

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Ex-Farofa Carioca e parceiro de Ana Carolina e Seu Jorge, ele avança em seu lado intérprete e lança seu terceiro álbum solo, uma potente mistura de carnaval, baile charme com pitadas de Tim Maia 

Por Kamille Viola, do Rio

Com mais de 300 canções gravadas por outros artistas, Gabriel Moura é um dos compositores mais produtivos de sua geração. Nomes como Ivete Sangalo, Zeca Pagodinho, Ana Carolina e Seu Jorge (seu parceiro musical e ao lado de quem integrou o Farofa Carioca) estão entre os que registraram as composições do artista. Mas agora o seu lado intérprete pede passagem: ele acaba de lançar seu terceiro disco solo, "Quem Não Se Mexer Vai Dançar", produzido pelo lendário Liminha, que terá seu primeiro show de lançamento dia 18 de janeiro na casa de shows Blue Note Rio, no Rio de Janeiro.

VEJA MAIS: Num convite à leitura desta reportagem nas nossas redes sociais, Gabriel Moura dá uma rápida palinha

Em suas dez faixas — todas de autoria de Moura, sozinho ou com parceiros —, o disco passeia pelo universo do soul e da black music, indo das baladas (como "Pensando em Você" e a música de trabalho, "Ela Mora Longe") às dançantes ("Pedra Noventa" e "Vamo Aí"). Mas a sonoridade do trabalho surgiu, quem diria?, por causa do carnaval. "Eu morava em Laranjeiras (bairro do Rio), na Rua General Glicério, e, no carnaval, uns cinco ou seis blocos passavam embaixo da minha janela. Eu via o percurso do bloco, tocavam marcha, samba, não sei o quê, mas a hora em que o público crescia, explodia mesmo, era quando rolava Tim Maia. Então falei para o Rogê: 'Temos que fazer uma música com essa energia'", lembra Moura. 

"É uma felicidade o artista gravar, principalmente quando faz sucesso e rende direitos pela UBC (risos)."

A canção que nasceu dessa ideia, "Mundo Coloridão", acabou não entrando em "Quem Não Se Mexer Vai Dançar", mas está no próximo álbum do cantor italiano Mario Biondi. No entanto, o universo musical de Tim serviu como uma das inspirações para o disco, e o artista foi homenageado em "Um Hit do Tim Maia", assinada por Moura. "Ali, eu pensei: 'Caramba, achei um caminho. Procurei pensar na coisa da dança, da diversão, da alegria de você estar junto, tanto no bloco de carnaval como no baile charme. Comecei a escrever as músicas especialmente para o disco e parei de enviar para os outros. Tem que ficar se controlando para não mandar para ninguém, porque as pessoas ficam pedindo", diverte-se ele.

Mas que não se pense que Gabriel Moura tem ciúmes de suas composições. "Eu adoro que as pessoas gravem as minhas músicas, trabalho semanalmente pensando nisso, encontro meus parceiros, Pretinho da Serrinha, Rogê, Leandro Fab... E, mesmo sem encontrá-los, componho e envio, paro uns dias para tentar fazer, mandar e torcer para que o artista grave. É uma felicidade o artista gravar, principalmente quando faz sucesso e rende direitos pela UBC (risos)", brinca.

O gosto pelo soul, ele conta, vem da adolescência. "Eu escutava muito, só não tocava na noite (ele começou a se apresentar em bares aos 13 anos) porque não falava inglês, iria sair tudo errado. Na hora de montar o repertório do álbum, me lembrei do baile que eu ia na igreja, no Lins, onde eu morava. Eu não podia nem entrar, por causa da idade, mas entrava e me escondia atrás da cortina quando o padre passava", diverte-se.  

Também vem dos tempos do bairro da Zona Norte carioca do Lins de Vasconcelos o contato com Mart'nália, que ele chamou para uma participação em "Dengo, Cafuné, Chamego". "O Paulo Moura, meu tio, e o Martinho da Vila foram grandes amigos. O Martinho produziu um dos discos mais importantes do Paulo, 'Confusão Urbana, Suburbana e Rural' (de 1976). Então algumas vezes ele aparecia lá em casa, ia almoçar e tal. Além disso, a gente se cruzava quando era pequeno, porque a mãe da Mart'nália (a cantora Anália Mendonça, já morta) morava no Lins, perto da minha casa. A gente vive se encontrando nos lugares, eventos, e é sempre muito carinhoso, tem uma empatia muito grande. Ela tem essa coisa do samba, da Vila Isabel, do Martinho, mas ela também é soul, é muito black. Eu gosto que as pessoas que venham participar dos meus discos tenham algum envolvimento pessoal emocional comigo. Foi uma escolha afetiva, mas ao mesmo tempo acertada. A Mart'nália é um pouco como o Seu Jorge, no lugar em que você jogar ela, seja no jazz, funk, soul, ela vai chegar com propriedade e vai dar tudo certo, porque ela tem muita musicalidade", elogia.

O trabalho foi produzido por Liminha, de quem Gabriel Moura se aproximou em 2015, quando participou do festival Back2Black — dirigido pelo produtor e por Kassin. Os dois, aliás, assinam uma faixa juntos no álbum, "O Amor é In". "Para mim, foi uma honra, porque todos os artistas que eu curtia na época de garoto, Milton, Djavan, Lulu Santos e muitos outros, foram produzidos pelo Liminha, no estúdio onde ele trabalha, o Nas Nuvens. Eu sempre via nas fichas técnicas dos discos. Então, quando ele topou, foi uma realização, e uma volta da vida, porque a gente sonha com as coisa e elas são possíveis, desde que a gente corra atrás e faça por onde", acredita ele.

"O artista tem que estar livre para  fazer a sua história e fazer de cada álbum uma história diferente. Senão fica aquela coisa óbvia."

Além da MPB e da black music, ele conta que sua formação musical inclui o samba ("na minha adolescência tinha uma rádio, a Tropical, que tocava tudo de samba, Fundo de Quintal, Arlindo Cruz, Zeca e outros artistas dessa geração, e eu ouvia pra caramba"), o jazz e a música instrumental, influências de seu tio Paulo Moura (que produziu o primeiro trabalho solo de Gabriel, o álbum "Brasis", de 2006), e diversos outros gêneros brasileiros. Por isso, garante, não quer se prender a nenhum estilo.

"Já fiz quase 50 direções musicais de teatro. Já teve espetáculo que era só música nordestina, por exemplo. Então a cada disco eu posso fazer uma coisa completamente diferente, porque tudo faz parte da minha formação, sempre gostei de tudo, sempre procurei absorver tudo o que me tocava: Michael Jackson, Zeca Pagodinho, orquestra de frevo de Pernambuco... Ficam tentando te colocar prateleira, as pessoas falam: 'A onda do Gabriel é tal.' Mas a minha onda é tudo. Acho que tenho capacidade para compor em estilos muito diferentes, não preciso ficar fazendo só soul e balanço, estilos assim. Componho bossa, frevo, de repente o próximo disco pode ser de samba (risos). O artista tem que estar livre para  fazer a sua história e fazer de cada álbum uma história diferente e tentar um outro contato com a música, outras possibilidades. Senão fica aquela coisa amarradinha, óbvia", pondera.


 

 



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