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Por uma música mais inclusiva
Publicado em 21/09/2018

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Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência joga luz sobre a baixa representação de um contingente de pessoas que chega a quase 25% da população nacional

Por Ricardo Silva, de São Paulo

Minoria, mas não tanto. Quase um quarto da população brasileira tem algum tipo de deficiência, segundo o Censo do IBGE, o que faz da sua busca por igualdade de condições de acesso ao trabalho, ao consumo, à cultura, aos serviços e ao espaço público uma causa justa que mobiliza ao redor de 50 milhões de pessoas. Nesta sexta-feira (21) em que se comemora o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, é possível que você veja por aí alguma reportagem ou post de rede social que mencione esse contingente tão expressivo. Mas isso não quer dizer que sua demanda por visibilidade seja parte da agenda cotidiana da sociedade, mesmo numa arte por definição democrática como a música.

A busca por criadores musicais com deficiência nos mecanismos de pesquisa da internet devolve só um punhado de resultados. São mais do que conhecidos alguns exemplos de músicos e compositores com deficiência visual (Kátia, Stevie Wonder, Ray Charles, Andrea Bocelli), surdos (Beethoven), com condições como nanismo (Nelson Ned) ou com problemas locomotores (Herbert Vianna, Marcelo Yuka, Billy Saga, Le Batilli, Jackeline Du Pré). Mas reproduzir seus exemplos, abrindo oportunidades para outros na cadeia de produção de cultura, é um desafio que o país patina sem conseguir concretizar.

As portas fechadas e o preconceito da sociedade são barreiras sempre presentes, na avaliação de Yuka, que, certa vez, declarou: “O erro é como as pessoas tratam os deficientes. A educação é o sangue desta mudança.” Ex-baterista da banda O Rappa, eleficou paraplégico após levar um tiro durante um assalto no Rio de Janeiro.

A Lei de Diretrizes e Base da Educação (9.394/96) prevê, em seu artigo 59, currículos, métodos, técnicas e recursos educativos e organizações para atender às necessidades dos alunos com deficiência em todas as disciplinas, inclusive as de educação artística e musical. Mas a prática mostra que isso não se dá. “O educador não sabe trabalhar com essa clientela, e falta material específico, diminuindo suas oportunidades de acesso à música e comprometendo também sua inclusão”, descreveu Isabel Cristina Bertelli, pesquisadora e especialista em educação musical em braile. 

Não é à toa que a criação de um grande sucesso de 2012, “Ser Diferente É Normal”, cantado por nomes como Gilberto Gil e Lenine para uma campanha de visibilização da pessoa com Down, foi encomendado a artistas sem deficiência. Um dos autores (ao lado de Adilson Xavier), Vinicius Castro usou sua sensibilidade para traduzir o pedido por diversidade e aceitação. “Ser compositor é colocar-se no lugar do outro, ter empatia, saber dar vida a uma realidade diferente. Essa música acaba falando de todos nós, das diferenças que todos temos de alguma forma. Inclusão é isso, não sectarizar. Todos somos iguais nas dificuldades e facilidades. Falar disso é falar de um assunto intrinsecamente humano”, afirma Castro.

Se o tema nasceu depois de um convite ao músico feito pelo Instituto MetaSocial, que atende jovens com Down, seus versos de fato extrapolaram, apelando a questões universais. “Todo mundo tem seu jeito singular/ De ser feliz, de viver e enxergar/ Se os olhos são maiores ou são orientais/ E daí, que diferença faz?/ Todo mundo tem que ser especial/ Em oportunidades, em direitos, coisa e tal/ Seja branco, preto, verde, azul ou lilás/ E daí, que diferença faz?”, prega a canção.

Outro que se aventurou num tema de inclusão e cujo videoclipe dialoga diretamente com a deficiência física foi Daniel. Em “Pra Ser Feliz”, sucesso de 2012 do sertanejo escrito por Elias Muniz, os versos dizem “Já imaginou de onde vem/ A luz de um cego/ Já cogitou descer/ De cima do seu ego/ Tem tanta gente por aí/ Na exclusão, e ainda sorri”. “Essa letra vem ao encontro de muita coisa que estou passando. Creio que temos que buscar a alegria sempre. Tenho como missão levar essa mensagem adiante”, afirmou Daniel em entrevista ao portal G1.

Nada como a música para isso. Ainda a sofrer as consequências de um trágico acidente de ultraleve que o deixou paraplégico e matou sua então esposa, Lucy Needham, em 2001, Herbert Vianna dá vazão a seus sentimentos na criação. "Uma peculiaridade da questão da música é você conseguir canalizar com igual intensidade alegrias e tristezas profundas”, ele disse à TV Bahia, afiliada da Rede Globo. "Um exemplo peculiar disso é quando eu, através de uma canção em que há uma resposta muito bonita, digo: 'Olhos fechados pra te encontrar, não estou ao seu lado, mas posso sonhar. Aonde quer que eu vá, levo você no olhar.'”


 


 

 



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