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“Uma mensagem a favor do direito de cada um ser como quer”
Publicado em 26/10/2018

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Carlos Linhares, líder do grupo Nem Secos, critica a onda de conservadorismo, comenta o que chama de ameaça à arte e à criação e diz o que representa, para ele, o recém-lançado disco que celebra os 15 anos do grupo

Do Rio

Foto de Fernando Prates

Há 15 anos, o mineiro Carlos Linhares fundou em Belo Horizonte uma das mais interessantes bandas da cena alternativa da cidade, o Nem Secos. “Tributários do Tropicalismo e do glam rock andrógino dos Secos & Molhados, não só esteticamente, mas também em questões ideológicas e de comportamento”, como ele descreve, são quatro os seus integrantes fixos: além de Carlos (baixo e voz), Leonardo Clementine (guitarra e voz), Luã Linhares (teclado e voz) e Carolina Claret (voz). Em letras que evocam o espírito libertário dos seus inspiradores, eles criticam a onda de conservadorismo que tomou o país no seu mais recente álbum, “Anti-Heróis Dançando a Vida”. Numa das canções, “A Seita que Não Aceita”, pregam: “eu vou fundar uma nova seita que não aceita ninguém com mais uma ideia pronta”. “Fantasmas que pareciam superados, como a da censura às artes e de intervenção militar, voltaram a assombrar. A mídia agiu programaticamente nesse processo, insuflando a polarização”, ataca o compositor em entrevista à UBC.

OUÇA MAIS: O disco "Anti-Heróis Dançando a Vida"

O que significa lançar um disco como “Anti-heróis Dançando a Vida” num momento como este?

“Anti-heróis Dançando a Vida” traz nossa mensagem a favor do direito de cada um ser como quer e de se expressar como quiser, contra todas as formas de preconceito e discriminação. Se esse posicionamento sempre foi necessário, com o aumento da intolerância e de pessoas se achando legitimadas a exercê-la, ele se tornou vital. Queremos nesse momento dar nossa contribuição poética ao discurso a favor da diversidade e do poder criativo que só pode florescer quando há a livre expressão do ser contra toda tentativa de padronização. “Eu vou fundar uma nova seita que não aceita ninguém com mais uma ideia pronta” é um dos refrãos do disco que sintetizam nossa filosofia. Num contexto como o atual, em que a crueldade é banalizada e as pessoas acham normal agredir os que não espelham suas ideias prontas, é sempre importante que arte venha a acenar com a luz das diferenças.

Ao evocar esteticamente bandas libertárias, acima de picuinhas políticas, que surgiram na ditadura militar, há também nisso uma mensagem política?

De uma forma antropofágica, que reprocessa e revitaliza as influências, nós somos tributários do Tropicalismo e do glam rock andrógino dos Secos & Molhados, não só esteticamente, mas também em questões ideológicas e de comportamento. É sabido que, pela sua ousadia, eles desagradavam aos conservadores tanto de direita quanto de esquerda. Nossa evocação deles é orgânica, não panfletária, decorre do que incorporamos dessas influências, mas acaba passando o mesmo recado político, ainda mais com a atual reação conservadora. Essa postura libertária sempre tratou de um espectro de questões mais amplo que as da política em sentido mais estrito, de atuação partidária, mas não que estas fossem necessariamente picuinhas. Eram discursos de universos diferentes. Na verdade, somos fruto de conquistas importantes nessas duas frentes.

Você já gravou músicas cristãs. Como vê a politização da religião e a “religiozação” da política nos últimos tempos?

Há muitos anos, ajudei uma sobrinha minha, cantora gospel, em algumas gravações. Nos últimos tempos, só vimos crescer o fundamentalismo religioso e sua interferência na política. Vivemos na pele esse embate quando começou aquela onda de fechamento de exposições e espetáculos por questões moralistas. O Nem Secos participou da criação da Frente Nacional Contra a Censura, e, junto com vários artistas, organizamos uma vigília de shows durante vinte dias na frente do Palácio das Artes, em BH. Todos os dias, grupos fundamentalistas estavam ali carregando velas para protestar contra a exposição de Pedro Moraleida. Graças à resistência dos artistas, a exposição acabou sendo mantida até o final. No confronto de ideias que vivemos naquele período, ficou claro que grupos religiosos operam na política da mesma forma que na sua prática doutrinária, ou seja, com base na aceitação cega dos fiéis. Muita gente estava ali protestando contra a exposição sem saber nada sobre ela, apenas porque o padre ou o pastor mandou. Na campanha agora, vemos esse fenômeno amplificado, com os líderes religiosos usando descaradamente sua influência sobre os fiéis com fins políticos. E pior, na maioria das vezes em favor de uma plataforma de violência e preconceitos, que contraria as próprias escrituras que eles dizem defender.  

Haverá outras apresentações do show de 15 anos? Pode nos contar um pouco sobre a turnê?

O Show de 15 anos foi uma celebração especial, mas, claro, pode haver outras apresentações, não necessariamente no mesmo formato do Teatro Francisco Nunes, já que foram vários os artistas convidados. Com o lançamento do CD “Anti-heróis Dançando a Vida”, que já está disponível em todas as plataformas, vamos prosseguir com os shows de divulgação. E continuamos também a apresentar o espetáculo “Tropicália 50 Anos”. Além disso, estamos gravando um single novo. Quem quiser ficar a par das novidades, é só seguir as páginas e canais nas redes sociais. É sempre um prazer para nós interagir com todos e poder levar o nosso recado.



 


 

 



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