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Pitching show: 30 minutos para brilhar — ou tropeçar
Publicado em 07/05/2019

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Formato de venda de projetos se espalha entre festivais e feiras; a convite do site da UBC, jornalista especializada faz seu resumo das sessões que ocuparam quatro jornadas durante o recém-terminado evento Rio2C

Do Rio 

Foto de Simone Mazzer feita pela equipe do Rio2C durante sua apresentação

Foram dezenove minishows de meia hora cada, distribuídos em quatro intensas jornadas. As sessões de pitching musical do Rio2C, realizadas há alguns dias durante a superfeira de música, audiovisual e inovação, mostraram um panorama surpreendente, cheio de jovens talentosos que dificilmente teriam a chance de mostrar, lado a lado, do que são capazes.

Em comum a todos eles, a coragem de enfrentar o julgamento do público, do mercado, em apresentações curtas e que, por definição, devem ser certeiras, prender, seduzir. Num pitching, ou sessão de “venda” de um projeto, o clima de tudo ou nada é palpável, permeia o ambiente. Um grupo de juízes — empresários de gravadoras, curadores, agenciadores, jornalistas — se senta diante da banda, com o testemunho (ou não) de uma plateia, e avalia com olhos críticos cada detalhe. Portanto, corrigir a timidez, uma escorregada na afinação da voz ou do instrumento, ou um eventual branco, e tocar a bola para a frente marca a diferença entre quem mostra ter a talha necessária para o palco e quem se abala e desaba. 

Desabar, contudo, não é perder a guerra. O crescente número de feiras e festivais que incluem sessões de pitchings em sua programação — ou, sobretudo, em seu processo seletivo — faz com que os artistas que optarem por esse formato possam aprimorá-lo com a experiência. A prática, afinal, faz a perfeição, e algumas das bandas que se inscreveram para as sessões de exibição a nomes especializados do mercado, durante o Rio2C, já haviam passado por provas de fogo similares.

A convite do nosso site, a jornalista e curadora Fabiane Pereira, criadora e apresentadora do programa de rádio “Faro” (SulAmérica Paradiso FM, RJ), especializado em novos sons e novas cenas musicais, contou sua experiência como integrante da banca avaliadora e fez um resumo do que viu ao longo dos quatro dias de minishows. 

 

Uma experiência enriquecedora

Por Fabiane Pereira

A convite do Zé Ricardo, curador de música do Rio2C, maior evento de criatividade e inovação da América Latina, passei quatro tardes assistindo a shows de artistas que estão dando seus primeiros passos na carreira. Ao lado de outros profissionais atuantes do mercado da música, assisti a quase todas as 19 apresentações, e algumas me surpreenderam muito positivamente. Pude conhecer o trabalho de alguns jovens talentos que dificilmente chegariam até mim se não fosse o Pitching Show do Rio2C. Revi outros que, apesar de já conhecer, me fizeram vibrar como se fosse a primeira vez que os visse. Música conecta e, em tempos de cólera, é bom estar entre nossos pares. 

Abrimos os trabalhos na terça, 23 de abril, com um show da cantora e guitarrista Anna Tréa. Não conhecia a Anna cantora, só a instrumentista. Anna já integrou a banda do Emicida, acompanhou Gaby Amarantos e fez parte da banda do programa de TV "Conversa com Bial". Carismática, apresentou algumas canções de seu trabalho solo e seduziu uma plateia que também só conhecia a instrumentista. 

Na sequencia, André Macambira subiu ao palco com suas influências musicais oriundas de várias partes do Brasil. A apresentação foi permeada por xote, coco, xaxado, maracatu, boi e ciranda, com toque marcante dos violões. Eu não conhecia o trabalho do André e gostei bastante do que vi. Trabalhos com raízes sertanejas me conquistam logo de cara. Tenho uma queda pelo nosso “Brasil profundo”. 

André Macambira e banda durante sua apresentação

A terceira apresentação do primeiro dia de Pitching Show foi do jovem (e talentosíssimo) cantor e compositor Jota Pê. Conheci o trabalho do artista no programa “The Voice Brasil” – que, aliás, faz um excelente trabalho no quesito revelar artistas – e, ao vivo, sua apresentação me causou a mesma boa impressão. 

Finalizando os shows de terça, a extraordinária Simone Mazzer. A cantora já está na estrada há bastante tempo, e todas as apresentações dela que já vi fora de série. No Pitching Show do Rio2C não foi diferente. 

Quem abriu a tarde de quarta, 24, foi a banda de rock metal Maquinários. Com suas guitarras distorcidas, o trio fez muito barulho, literalmente. Em seguida, o rapper Rashid, artista pronto para cruzar a fronteira do sucesso e se tornar um dos rappers da nova geração mais influentes do país. 

Depois, coube à banda Auri, de Vitória, dar continuidade às apresentações. Combinando rock alternativo e indie, eles fizeram um show correto. A dupla pop carioca Cai Sahra fez o penúltimo show do dia. O duo formado pelos jovens Felipe Ricca e Rodrigo Silvestrini já soma mais de 1,4 milhões de visualizações do single“Meu Bem” e tem tudo pra ganhar os dials por sua sonoridade radiofônica. Encerrando o segundo dia de Pitching Show, a cantora paulista Lia Paris subiu ao palco amparada por uma forte diversidade musical, que vai do pop/rock ao eletrônico/indie. Com uma longa estrada no currículo, a artista fez no Rio2C um show que correspondeu às expectativas. 

Um momento do show do Maquinários

Quinta, dia 25, já cansada da maratona de shows, fui surpreendida muito positivamente pelo trabalho do Anderson Primo. Não conhecia o som do mineiro que cursou canto popular na Fundação Clóvis Salgado (Palácio das Artes), em Belo Horizonte. Com 15 anos de carreira, Anderson está se arriscando pela primeira vez em um trabalho solo, e posso garantir que seu espetáculo é um olhar dadaísta sobre a vida recheado de humor irônico e nonsense. Eu adorei. 

Depois de Primo, foi a vez da incrível Jesuton surpreender a todos que não a conheciam. Quem a conhece já estava preparado para assistir a uma baita apresentação. E assim foi. 

Após dois concertos de tirar o fôlego, a cantora Giulia Be fez um show mais cool. Contratada da Warner, a carioca já emplacou sua primeira música, “Too Bad”, na trilha sonora da novela “O Sétimo Guardião”. Está bem encaminhada.

A penúltima apresentação do dia foi da Gabz (Gabrielly Nunes), e eu acabei o show querendo ser presidenta do seu fã-clube. Nascida no Irajá, Zona Norte do Rio, a artista mistura funk e rap com toda a malícia carioca. Suas letras cheias de metáforas e trocadilhos falam sobre feminismo, negritude e resistência. Como eu já disse, gosto mesmo é do Brasil profundo.

Por fim, Mariana Volker, acompanhadade uma banda incrível, encerrou o terceiro dia de shows no pitching. 

Dia 26, último dia de pitching show, e comecei boquiaberta com o pernambucano Martins. Integrante da nova cena musical daquele estado, o compositor mostrou canções com letras rebuscadas que continuaram ecoando mesmo após o encerramento do show. 

Duda Brack em sua apresentação 

Fechando os destaques do dia — e do festival —, a gaúcha Duda Brack. Radicada no Rio há alguns anos, a cantora e compositora é muito talentosa, e certamente seu nome ainda vai circular muito por aí. 

Participar de eventos como este aproxima o artista dos profissionais que trabalham no mercado, estreitam as relações entre eles, e todos saem ganhando. Não me canso de exaltar a coragem desses artistas que se expõem, quase visceralmente, em nome da arte. É enriquecedor para todo o ecossistema da música que essa fórmula ecoe, levando estes novos nomes às resenhas dos jornais, às rádios e aos line-ups de festivais. 

LEIA MAIS: Um resumo das principais tendências da música debatidas durante o Rio2C


 

 



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