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Dados: eu analiso, tu analisas, nós lucramos
Publicado em 28/05/2019

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Artistas da música estão cada vez mais ligados nas detalhadas informações sobre hábitos de consumo fornecidas por aplicativos de plataformas de streaming e redes sociais; confira alguns usos que vêm-se dando a essa imensa quantidade de números

Por José Alsanne, do Rio

A coleta e a análise de dados são atividades comuns a diversas áreas do conhecimento, principalmente para estudos sociais e estratégias de marketing. Elas ajudam a identificar problemas e apontar para possíveis soluções — além, é claro, de estar a serviço de empresas que buscam uma estratégia mais certeira para vender produtos ou serviços aos seus clientes. No mercado da música, não é diferente. Plataformas deste segmento também fornecem dados sobre performance de execução musical e arrecadação de rendimentos de direitos autorais, às vezes através de aplicações próprias, que chegam ao nível do detalhe, com informações sobre os lugares onde determinadas canções mais repercutem, a quantidade de execuções e até o horário mais propício para publicar uma canção de um determinado gênero.

Como já explicamos aqui no site, esse tipo de dado permite ao artista tomar decisões mais certeiras relacionadas à sua carreira.

O Spotify For Artists e o Apple Music for Artists estão entre os aplicativos que, hoje, oferecem informações mais completas sobre o repertório e sua performance. Além dos dados geográficos, etários e de gênero, por exemplo, o primeiro permite verificar as playlists em que sua música está inserida e a performance obtida em cada uma; e o segundo tem a vantagem de fornecer dados de venda e streaming.

No YouTube — que, mesmo sendo audiovisual, é hoje um dos meios preferidos para se ouvir música —, informações sobre o público e a performance de cada vídeo (mesmo que seja o áudio da música junto a uma imagem fixa ilustrativa) também são disponibilizadas aos artistas. Outros serviços musicais que também compilam tudo isso são SoundCloud e o Shazam.

Marisa Monte, criadora que fez de forma muito fluida e natural a passagem entre a era analógica das gravadoras — quando não havia tantos dados à disposição — e a era digital, de muito mais participação do artista na tomada de decisões, elogia o nível de detalhe e a transparência propiciada por esse tipo de aplicativos. Pioneira na criação de um selo próprio, dona da sua obra editorial, dos seus fonogramas, ela disse, em entrevista à UBC, ser usuária frequente de aplicativos de dados das principais plataformas, sobretudo o Spotify for Artists.

“O serviço de controle (dos aplicativos) é impecável. Mesmo que seja pouca a remuneração por cada stream, você consegue ter tudo ali. É dado, não tem por que não estar disponível. A Altafonte (sua distribuidora digital), como o Spotify, também disponibiliza os dados, consigo ver os relatórios em detalhes. Sabem o horário que a pessoa entra na internet, do que gosta, do que não gosta, do que potencialmente pode vir a gostar. A tecnologia tem muitas vantagens. Ainda falta melhor regulamentação, melhores remunerações, mas o potencial de crescimento é gigantesco”, ela afirma.

Para Marcão Baixada, artista do rap que começou sua carreira no início desta década, as ferramentas são fundamentais para medir e ter controle sobre o alcance de suas músicas. A distribuidora digital OneRPM, com a qual ele tem contrato, fornece informações, por exemplo, sobre o Content ID do YouTube. Esta ferramenta consegue identificar se sua música foi utilizada em algum vídeo colocado por qualquer usuário e, através da identificação, lhe permite monetizar com esse uso ou vetá-lo, caso deseje.

“Eu acompanho muito a página no Facebook, por exemplo. Ela me ajuda a saber qual o pico de horário em que o meu público está online. E isso sempre varia de uma semana para outra. No início do mês por exemplo, quando as pessoas receberam seu pagamento, elas estão na internet procurando coisas para comprar, eventos para ir. Já o Spotify tem me ajudado a entender os hábitos de consumo musical do meu público. Se eu for tocar em um show diurno, com menores de idade, já sei o que essa faixa etária anda ouvindo. Se é um show à noite, na balada, com público entre 18 e 24 anos, também penso o repertório orientado para eles”, Marcão detalha.

No meio de tantos dados, outro problema pode surgir. O excesso pode trazer ruídos na hora de fazer análises e interpretações. Para quem gosta de ter em um só local todas as informações juntas, já há serviços que reúnem e combinam os dados de diversas fontes. O Charts Metric, por exemplo, combina os feedbacks fornecidos pelas redes sociais e serviços de streaming como iTunes, Spotify, Youtube, Google, Facebook, Twitter e Instagram. Combinar informações de diferentes plataformas pode otimizar estratégias e obter percepções mais significativas.

Mesmo que o criador não esteja exatamente inserido no mercado formal. Artistas de rua também têm utilizado a resposta da plateia em transportes públicos como dados que influenciam no repertório e no dinheiro que os passageiros depositam no chapéu. “Nós ficamos atentos à resposta do público em relação às apresentações. Seja na contribuição financeira espontânea ou nos aplausos. Quando uma música não é bem recebida, nós retiramos do repertório. Mas, por exemplo, tem música que funciona mais na segunda-feira e não funciona na sexta, e vice-versa”, explica a cantora e compositora Tabatha Aquino, que monta o repertório no papel e, ao longo do dia, anota essas percepções. A música “Sinais de Fogo” (Ana Carolina) é um exemplo de música que só funciona às sextas-feiras. Antes de montar cada repertório diário, ela consulta suas anotações.

UBC App e seus gráficos

A UBC também disponibiliza informações importantes sobre a arrecadação de direitos autorais musicais de execução pública. Todos os artistas associados ganham um login para acessar o UBC App. Através do aplicativo, o titular de direitos autorais pode ver seus rendimentos divididos por mês, fonte pagadora (rádio, tv, streaming, show, digital e etc) e categoria (músico, compositor, intérprete ou produtor fonográfico). Também são listadas as músicas que mais arrecadaram por mês. Essas e outras funcionalidades você encontra acessando aqui.

 

“Mais importante que os dados são os objetivos e as perguntas corretas”, diz diretor de gravadora

Guilherme Figueiredo, responsável por marketing e mundo digital na Som Livre, conta como a empresa vem desenvolvendo estratégias e projetos baseada nos dados. Confira abaixo a entrevista que fizemos com ele.
 

Como os dados disponibilizados por plataformas de streaming têm contribuído de forma geral para a tomada de decisões de carreira musical?

Usamos diferentes dados no processo de orçamento anual, na estruturação das propostas para contratação de artistas, na definição dos investimentos em marketing e na avaliação de performance dos nossos produtos. Tudo isso impacta os projetos de alguma forma. A disponibilidade de dados é maior, mais frequente e mais granular, o que possibilita respostas mais rápidas e precisas. Tomamos decisões diárias levando em conta o consumo, taxas de rejeição de uma faixa, afinidade com playlists e perfil do consumidor. Esses dados podem influenciar desde a segmentação de uma campanha de comunicação até a busca por uma parceria artística que busque novas audiências. Já adaptamos faixas populares para versões acústicas buscando entrar em playlists de comportamento... E vimos como o consumo mensal do artista variou com isso. A velocidade e o volume dos dados têm o lado bom, mas vêm acompanhados do desafio de interpretação e da definição correta da análise. Os dados podem levar a decisões equivocadas sem o contexto correto.

Além do streaming, que outros dados vocês monitoram?

Levantamos dados de redes sociais, sites, rádios. E compramos diferentes pesquisas sobre o mercado e sobre o consumidor. Usamos esses dados para enriquecer nossas análises e criar projetos customizados para marcas. Os dados das redes que têm maior alcance nos passam mais segurança para a tomada de decisão. Os serviços de música por assinatura ainda falam com uma parcela pequena da população e, por isso, não conseguem representar fielmente o consumo do brasileiro. Especialmente das classes mais populares.

Em que tipo de dados os artistas iniciantes devem prestar atenção na hora de construir sua carreira?

Minha sugestão é que, antes de olhar para os dados, os artistas definam seus objetivos e avaliem quais são as perguntas corretas para cada um deles. Os dados que podem responder sobre a próxima cidade para um show podem ser diferentes para a decisão sobre a parceria para a próxima música. Outra coisa é escolher a fonte de dados correta. Um ranking de plays nem sempre representa bem a realidade da venda de ingressos em determinada cidade ou estado.


 

 



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