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Itamar Nego Dito Assumpção, ano 71 – e além
Publicado em 07/06/2019

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2019 marca as sete décadas de nascimento de um dos expoentes da Vanguarda Paulista, cuja importante obra segue viva e influenciando gerações, 16 anos após sua morte física

Por Gilberto Porcidonio, do Rio

Foto de Vania Toledo

Benedito João dos Santos Silva Beleléu, vulgo Nego Dito. Ou pode chamar de Itamar Assumpção mesmo. Compositor, cantor, instrumentista, arranjador, produtor musical, poeta, nascido em 13 de setembro de 1949 na pequena cidade paulista de Tietê, o criador do invocado Nego Dito cascavé completa, daqui a pouco, 70 anos de idade. E o tempo do verbo está correto. Apesar de sua morte física ter se dado em 2003 por conta de um câncer no intestino, a obra de Itamar segue forte, firme, inspiradora e cantada por diversas gerações.

Com um estilo único em que unia poesia, recitação, trocadilhos, trava-línguas e melodias que variam do altamente complexo para uma simplicidade quase punk, ele lançou sete discos — entre os quais se destacam “Beleléu, Leléu, Eu”, com a banda Isca de Polícia, e a trilogia “Bicho de Sete Cabeças”, com o grupo Orquídeas do Brasil. Sua facilidade lírica, que o consagrou como um dos principais expoentes da chamada Vanguarda Paulista, teve início na década de 70, quando Itamar despontou no Teatro Lira Paulistana junto de seus contemporâneos Arrigo Barnabé e outros grupos intelectualizados, como Premeditando o Breque (o Premê), Patife Band e Língua de Trapo.

Como um indie muito antes de esse termo circular entre nós, Itamar pavimentou um caminho muito importante para a música independente brasileira, tendo temas cantados por Ney Matogrosso, Tom Zé, Branca de Neve, Ná Ozzetti, Cássia Eller, Alzira e Tetê Espíndola. Além de, ultimamente, Curumin, Simone Mazzer, Liniker e o grupo Metá Metá. 

Zélia Duncan cantou Itamar, pela primeira vez, em 1982, quando se apresentava profissionalmente havia só um ano. Até hoje, ela já gravou 23 músicos do paulistano e, inclusive, um álbum inteiro só de Itamar, “Tudo Esclarecido”, de 2012. “O contato com sua obra foi um choque irreversível na minha vida de ouvinte de música brasileira. Aquela rapidez de ideias, aqueles ritmos silábicos, aquela voz que me empurrava e me acolhia. Itamar tem uma obra rica, imensa, ainda por ser descoberta no sentido mais profundo, no sentido popular. Da poderosa vanguarda paulista, arrisco dizer que ele é o representante que mais tem potencial para atingir a massa. E, pessoalmente, já tive o prazer de ouvir muitas plateias cantando comigo suas canções”, contou Zélia.

As sete décadas do artista começam já a ganhar comemorações especiais. Durante a última Virada Cultural de São Paulo, em 18 de maio passado, Tulipa Ruiz e Anelis Assumpção fizeram-lhe uma bonita homenagem cantando “Batuque” e “Sexto Sentido”. Além de já terem participado, diversas vezes, uma do show da outra, o pai de Tulipa, o guitarrista Luiz Chagas, integrou a banda Isca de Polícia, capitaneada pelo pai de Anelis, Itamar.

“Meu pai escreveu e editou o songbook, eram muito amigos e próximos, por isso conheço Anelis desde a juventude. Sempre soubemos uma da outra e, hoje, somos vizinhas em São Paulo. Por que não pensamos nisso antes?”, surpreendeu-se Tulipa.

Anelis, cujo último disco,”Taurina”, se encerra com a faixa “Receita Rápida”, composição de seu pai, prometeu muito mais por vir.“Estou coordenando uma opereta, a 'Preta Opereta', além de lançar os dois primeiros livros dele e também um infantil. Meu pai é referência para que eu não dependesse de ninguém na hora de fazer o que eu quisesse. Isso pode ajudar a atravessar este clima político com mais sanidade. A busca pela verdade artística de cada um é que vai nos salvar”, analisou Anelis.
E como estaria o Beleléu hoje, com todas essas maiores facilidades de produção e gravação?

“Eu sonho com isso o tempo inteiro. Gosto de pensar que ele estaria produzindo incansavelmente. Penso que, diante das possibilidades de gravar e colocar, ele, nossa!, ele produziria demais… Ele já teria quebrado a internet. Era um grande comunicador, e o que adoeceu ele foi ser tolhido de se comunicar. A grande busca dele era se sentir livre de verdade, por isso gosto de pensar que, quando escrevo, ele pode me ler”, disse Anelis.
 


 

 



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