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O disco mais autoral de Vanessa da Mata
Publicado em 04/07/2019

Com uma ideia amadurecida por longo tempo, canções criadas em estúdio e produção assinada por ela mesma, a cantora e compositora mato-grossense fala sobre amor em tempos de intolerância em “Quando Deixamos Nossos Beijos na Esquina”

Por Andrea Menezes, de Brasília 

Foto de Rodolfo Magalhães

Pela primeira vez em cinco anos, um disco de inéditas. Pela primeira vez, um trabalho esmagadoramente autoral. Pela primeira vez em todos os tempos, uma produção assinada por ela. Em tudo parece novo, fresco, o recém-lançado “Quando Deixamos Nossos Beijos na Esquina”, disco de Vanessa da Mata que, no entanto, evoca algo muito familiar, muito característico da artista mato-grossense: seu espírito solar, sua forma positiva de ver as coisas, mesmo quando o céu parece estar nublado, seja no Planalto Central, seja em outras paragens. 

“Acho (o disco) fundamental para este momento. Um momento em que nós não sabemos dialogar nem temos o discernimento de aceitar um ser diferente de nós, achando que por ele ter uma opinião diferente está cometendo uma ofensa pessoal. Esse disco tem essa eloquência, essas várias sensibilidades. Ele tenta explicar, de alguma forma, o lugar do amor neste conjunto que hoje nós temos de intolerância, preconceito por todos os lados e a eclosão de todos os tipos de preconceito”, ela conta nesta entrevista por e-mail para o site da UBC.

O trabalho traz músicas de autoria própria, como “Só Você e Eu”, o primeiro single, “Nossa Geração”, “Vá Com Deus”, “Dance Um Reggae Comigo” e “Tenha Dó de Mim”, que conta com a participação do rapper Baco Exu do Blues. “Baco Exu me impressionou muito desde o início. Nas letras, na juventude dele, de sabe o que quer, nas brincadeiras de ser um rapper diferente, de não trazer essa dureza, de poder sorrir e falar de coisa séria ao mesmo tempo em que tem um lado feliz. Ele tem um discurso político interessante, fortalecedor, empreendedor, mas também tem a molecagem dele viva ali. Isso me acomete e me emociona”, elogia Vanessa.
 

No novo álbum, predominam as luzes, o tom solar tão característico da sua obra. Mas há espaço também para alguma sombra, alguma citação aos tempos estranhos que vivemos, na faixa-título e em “Nossa Geração”, por exemplo. Está difícil ser totalmente positivo estes dias?

VANESSA DA MATA: Justamente por isso eu resolvi fazer esse disco. Eu acho ele fundamental para esse momento. Um momento em que nós não sabemos dialogar nem temos o discernimento de aceitar um ser diferente de nós, achando que, por ele ter uma opinião diferente, está cometendo uma ofensa pessoal. Esse disco tem essa eloquência, essas várias sensibilidades. Ele tenta explicar, de alguma forma, o lugar do amor nesse conjunto que hoje nós temos de intolerância, preconceito por todos os lados e a eclosão de todos os tipos de preconceito. Nós vimos isso aparecer de uma maneira muito feia nos últimos tempos. A falta de carinho com o próximo, a falta de empatia, de esclarecimento e de educação fazem com que o ser humano não consiga conversar. A falta de educação faz isso, nos torna animalescos, por isso eu acho que o saber é extremamente importante. Apesar de tudo isso, não podemos nunca deixar de ser positivos. 

Como foi o processo de composição? Você escreveu tudo antes de entrar em estúdio? Ou algumas faixas foram surgindo durante o trabalho de gravação? 

A liberdade de criar e recriar foi total neste disco, justamente por ser o trabalho mais autoral de todos. Para muitas músicas eu só tinha pequenas partes da melodia, que me diziam que tinham um bom potencial. Terminei todas as músicas no estúdio. Muitas foram gravadas sem a letra pronta, enquanto fazíamos os arranjos coletivos, com voz apenas gravada no dia em que eu fazia as letras. Funcionou bem. Eu já tinha ideias de temas e queria entrelaçá-las.

E o convite para a parceria com o Baco, como se deu? Foi a primeira vez que vocês compuseram juntos?

Baco Exu me impressionou muito desde o início. Nas letras, na juventude dele, de sabe o que quer, nas brincadeiras de ser um rapper diferente, de não trazer essa dureza, de poder sorrir e falar de coisa sérias ao mesmo tempo em que tem um lado feliz. Ele tem um discurso político interessante, fortalecedor, empreendedor, mas também tem a molecagem dele viva ali. Isso me acomete e me emociona. Nos conhecemos através de um amigo. Ele estava no Rio e aceitou prontamente meu convite. Minha parte na música já estava pronta, ele acrescentou a parte masculina, que eu gostei muito. Foi a nossa primeira composição juntos. 

Pode-se dizer que este disco conta uma história? Caso sim, qual seria ela?

Acho que cada um interpreta a história e as letras de maneiras distintas, eu respeito isso. Já falaram, por exemplo, que é um disco romântico, mas é muito mais que isso. Tem muito diálogo, discurso, como na música “Nossa Geração” ou “Vá com Deus”, proposta como em “Só Você e Eu”, sensações demasiadas como “Demais Pra Mim”, ou mesmo da independência de “Hoje Eu Sei”. Tem diálogo e sensações no disco todo. É um disco sobre tudo isso, junto com uma comemoração do amor, um pedido de amor, crônicas de um cotidiano brasileiro que me incomodam e me aliviam. Essa é a ideia do disco. 

Num tempo de consumo fragmentado, que privilegia os singles, você apostou no lançamento de um álbum todo. Por quê?

Eu realmente tive muita dúvida. Não por ninguém, mas por uma nova ideia de mercado de que todo mundo deveria lançar músicas independentes e que o disco era uma coisa ultrapassada. Mas eu notei uma outra tendência nos Estados Unidos e outros lugares do mundo, das pessoas voltando a ouvir o disco. A minha crise foi tão grande que eu, por fim, decidi. Eu já tinha um álbum inteiro na minha cabeça. Comecei com algumas melodias que eu tinha, amarrei algumas ideias e letras que complementavam outras, e assim foi. A decisão foi realmente por um álbum porque a minha cabeça continuava compondo para álbum e a minha inquietação, também. Meu lado compositora estava o tempo todo trabalhando. Hoje, tenho certeza que foi uma decisão acertada. 

Em termos de autocontrole sobre sua carreira, algo mudou entre aquele início e hoje em dia?

Mudou muito em todos os sentidos. Acho que existem vantagens excepcionais em amadurecer e ter experiência na carreira, é justamente ter mais autocontrole. O começo da minha carreira foi muito sofrido, cheio de medos e timidez, isso me atrapalhava um pouco. Hoje existe mais segurança para fazer as músicas, existe mais soltura, divertimento e entrega no palco – e isso faz ficar mais gostoso. 

 

 


 

 



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