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Entrevista: Marcelo Castelo Branco
Publicado em 05/08/2019

Diretor-executivo da UBC fala à revista “Show Business” sobre os desafios à frente do Conselho de Administração da Cisac

Diretor Geral da Cisac Gadi Oron, Vice-Chair Patrick Raude (SACD), Chair Marcelo Castello Branco (UBC) and Vice-Chair Asaishi Michio (JASRAC) with outgoing Board Chair Eric Baptiste (SOCAN). Photo ©: JASRAC

Diretor Geral da Cisac Gadi Oron, Vice-presidente Patrick Raude (SACD), Presidente Marcelo Castello Branco (UBC) e Vice-presidente Asaishi Michio (JASRAC) com o ex-presidente Eric Baptiste (SOCAN). Foto ©: JASRAC
 

Por Gilmar Laurindo, de São Paulo*

Executivo com larga experiência na indústria fonográfica, e há três anos diretor-geral da UBC, Marcelo Castello Branco foi eleito no início de junho presidente do Conselho de Administração da Confederação Internacional das Sociedades de Autores e Compositores (Cisac), cuja sede é na França — em substituição ao canadense Eric Baptiste. As eleições aconteceram durante a Assembleia Geral da Cisac, organizada pela Sociedade Japonesa de Direitos dos Autores, Compositores e Editores (JASRAC) e realizada em Tóquio.

A assembleia elegeu o novo Conselho de Administração, composto de 20 sociedades membros, e cada uma delas, a partir de agora, terá mandato de três anos. Castello Branco foi nomeado presidente para o triênio 2019/2022. Aliás, ele passa a ser o primeiro brasileiro e primeiro executivo latino-americano a exercer um dos principais postos da Cisac desde a sua fundação, em 1926. “Me sinto honrado e consciente da imensa nova responsabilidade que isso representa. Tenho uma vida intensa no mundo da música, no Brasil e na América Latina, com passagem pela Península Ibérica. E um respeito supremo pelo trabalhador criativo, pelos autores de todas as manifestações culturais. Vou encarar esse desafio e aprender com seus caminhos e seus protagonistas, no mundo inteiro. Gosto de aprender e de observar com uma visão proativa. Estamos vivendo um momento histórico na criação, distribuição e no consumo da propriedade intelectual, em todas as suas manifestações. E, como diz Jean-Michel Jarre (presidente da Cisac), “somos nós, os criadores, não as empresas de tecnologia, que estamos fornecendo o combustível do mundo digital”, afirma.

Formada por 238 associações de 121 países, a confederação protege e defende os direitos de mais de quatro milhões de criadores artísticos. A UBC ingressou na Cisac em 1946, quatro anos após sua fundação. Desde então, participa das lutas da entidade internacional. Segundo Castello Branco, a Cisac serve a seus membros em muitas áreas, particularmente em novas tecnologias e ferramentas de identificação de obras, aperfeiçoamento da governança, treinamento de sociedades carentes (África, Ásia e América Central, por exemplo) e advocacia na parte de direitos autorais. “O time global da Cisac está comprometido em ajudar as 238 sociedades do mundo inteiro a elevar sua arrecadação e sua distribuição e a modernizar o panorama legal para milhares de criadores, consequentemente aumentando seus rendimentos. Além disso, trabalha incansavelmente no lobby dos interesses da economia criativa, questões como a mais justa transferência de valores no mundo digital e uma remuneração justa para o setor audiovisual”, elenca o executivo.

Castello Branco conduzirá o conselho sem precisar se afastar do comando da UBC. “A UBC já era a única sociedade brasileira a fazer parte do conselho da Cisac e a única latina a fazer parte do seu Comitê Executivo. Portanto, eu já participava ativamente das discussões e decisões. Neste sentido, a alocação de tempo pouco muda, ainda que com mais responsabilidade e mais representatividade. O Comitê Executivo recomenda para o Conselho de Administração, que, por sua vez, após intensos debate e reflexão, recomenda para a Assembleia Geral. Esta, sim, é soberana em seus votos e decisões. É uma verdadeira ONU em suas ramificações e tentáculos pelo universo criativo global, em várias disciplinas e atividades. Enfim, assim como a ONU, é um colegiado de muitos países e demandas diferentes, particulares”, explica.

Ele ressalta, no entanto, que o dia a dia na Cisac é diferente da UBC. “Acabo de ser nomeado, e há todo um processo de aprendizado que se iniciou imediatamente. O trabalho é absolutamente coletivo, de todo o Conselho de Administração que foi eleito recentemente no Japão. Em nível global, crescemos 28,2% em distribuição desde 2013, com uma arrecadação de mais de € 9,6 bilhões. A gestão coletiva, hoje, é uma realidade dentro do novo ecossistema da música. Como o nome já diz, é um trabalho de muitos, de um exército de profissionais no mundo todo. O trabalho na UBC obedece a um planejamento estratégico avalizado por sua diretoria e executado por seu corpo de funcionários, no qual me incluo. Sou mais um. Dentro disso, temos uma margem de liberdade delegada, dinâmica, no modo como atuamos, para valorizar todos os titulares de direitos no Brasil”, explica.

Castello Branco avalia a situação atual dos direitos autorais no Brasil, em comparação a outros países: “Por serem imateriais, os direitos autorais são frequentemente desprezados ou relegados a um segundo plano. Felizmente estamos melhorando, mas as ameaças são constantes e se renovam. Precisamos estar sempre atentos e fortes. Com a criação do Ecad, há mais de 40 anos, de certa forma estamos na vanguarda em muitos sentidos, mas precisamos nos autocriticar com frequência e buscar o melhor. A nova dinâmica do mundo digital é uma oportunidade que requer visão estrtégia e capacidade constante de mudança.”

Conhecido pelo estilo arrojado, dinâmico e moderno de trabalhar, ele promete continuar focado no crescimento da UBC. “Serviço, formação, informação e tecnologia. Estes são os pilares da nova UBC, que segue crescendo com a ambição responsável de valorizar cada titular por sua particularidade e sua potencialidade. Pessoas são mais importantes que ferramentas, e nossa imersão em tecnologia respeita esta verdade. Dados nos ensinam a ler melhor cada titular e o itinerário cada vez mais febril de suas obras num mundo globalizado e pulverizado em muitas plataformas, senhas, códigos e identificadores”, afirma o executivo, que, além de comandar a UBC e o Conselho de Administração da Cisac, integra o grupo de membros da academia de música que entrega o Grammy Latino. “Tenho uma paixão imensa e um compromisso de relacionar o Brasil com a América Latina, onde transito profissionalmente e onde vivi. Economia não traduz liderança; entendimento e cultura, sim”, pontua.

*Publicado originalmente na revista “Show Business”.


 

 



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