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Casas de shows pós-pandemia: luz no fim do túnel
Publicado em 18/05/2020

Conheça soluções que espaços de música ao vivo têm adotado em diversas partes do país e no exterior para quando a 'normalidade' voltar

Por Leo Feijó, de Londres

Quem atua no setor da música sabe que todo o ecossistema sofreu um impacto econômico brutal por conta da pandemia, mas um segmento parece viver uma situação ainda mais dramática: o das casas de shows, que emprega milhares de pessoas e é essencial para a construção de audiência e a sobrevivência da maioria dos artistas e diversos profissionais.

Com portões fechados e sem previsão de retorno, como estão agindo gestores de arenas, casas de espetáculo, teatros, casas de show e bares com música ao vivo? As ações imediatas mais comuns são a renegociação dos contratos de aluguel, a busca por linhas de crédito, o lançamento de vouchers, a presença nas mídias sociais e nas lives em parceria com artistas e a criação de fundos colaborativos. Além disso, os donos e produtores negociam com patrocinadores e pensam em formatos com redução da capacidade de público e protocolos sanitários rígidos para a retomada das atividades.

Em São Paulo, um enorme hub de música ao vivo na América Latina, gestores de palcos preparam suas estratégias para o momento pós-pandemia. O empresário Facundo Guerra, diretor-executivo do Grupo Vegas, é responsável por operações como Blue Note SP, Cine Joia, Lions, Z Carniceria, entre outros, com centenas de shows todos os anos, e recomenda seguir a receita básica nessa crise: a renegociação.

“Como na maioria dos setores da economia, é válido renegociar aluguéis e manter uma conversa direta com seus fornecedores. Temos patrocinadores para a programação artística que mantiveram os pagamentos mesmo com a suspensão dos shows. Estamos pensando em mecanismos para viabilizar tips diretamente para os artistas. E, provavelmente, depois da reabertura das casas vamos transmitir os shows no canal do artista e da casa também”, diz Facundo.

"Talvez a partir de agosto haja um reinício, mas em outubro imagino que possamos voltar a atuar com mais segurança e protocolos de saúde, com utilização de máscaras, distribuição de álcool gel, equipes treinadas, redução da capacidade e higienização de todos os ambientes."

Bernardo Amaral, produtor e fundador da associação Apresenta Rio

Com o fim do confinamento, espera-se uma corrida aos espaços com música ao vivo menores, com capacidade para até 600 pessoas, que podem ser beneficiados antes que as grandes casas. É o que prevê o empresário artístico Geraldinho Magalhães. “Será o momento de valorizar esse circuito”, aposta.

Para o produtor Marcelo Damaso, de Belém do Pará, um dos organizadores do Festival Se Rasgum, parte do público está apenas esperando a primeira oportunidade. “As pessoas estão loucas para ir ao bar ou ao espaço cultural e assistir a um show”, opina. “Eu apostaria na criatividade, é preciso desenvolver algo novo. Quem conseguir ter essa paciência e capacidade de manter o espaço pode ter uma boa chance. Já imaginou Londres sem os pubs e as music venues? O Brasil sem bares e espaços de música? Esses espaços talvez sofram menos do que um festival. Já desistimos de fazer (o festival) em 2020. Estamos organizando festivais no meio digital e pensando em como sobreviver como produtores”, aponta Damaso, que realizou há alguns dias o Devassa Tropical Ao Vivo, com verba de patrocínio para os profissionais da base da cadeia produtiva. Foram arrecadados R$ 70 mil em cestas básicas.

Casa Natura Musical e Manouche: nos encontramos na música

Na Casa Natura Musical, espaço aberto em 2017 na capital paulista, a política é de defesa da música. O espaço lançou a série “Sala da Casa”, no Instagram. De acordo com a diretora-executiva, Suyanne Keidel, o momento é de união e solidariedade. “Em momentos de incerteza, é a música que nos faz sonhar, traz novas conexões e promove transformações. Nos unir para barrar o contágio da Covid-19 é essencial, assim como também é essencial continuarmos a nos encontrar na música”, reflete Suyanne.

É nessa mesma linha que segue o Club Manouche, no Rio de Janeiro, um espaço dedicado à música e à palavra, que já recebeu em seu palco para entrevistas Gilberto Gil, Maria Bethânia e, em temporadas de shows, Orquestra Imperial, Letrux e o cantor Zé Ricardo. “É um momento de reconhecer nossos talentos. Estamos começando lives do Manouche para recuperar as coisas que têm importância nas artes. A premissa é levar beleza e ideias para o mundo. Estamos fazendo isso como é possível”, explica Alessandra Debs, diretora artística da casa. “Temos uma área externa que favorece o uso cultural. Sabemos que algo vai mudar”, completa.

Na Lapa: caminhos diferentes para Fundição Progresso e Circo Voador

Ainda no Rio, espaços como Fundição Progresso e Áudio Rebel apelam para a fidelidade do público e oferecem vouchers para a troca por ingressos após a reabertura. Situada na Lapa, Centro do Rio, a Fundição não tem patrocinadores e depende da renda dos eventos para sua permanência. O espaço lançou há poucos dias uma grande campanha. Unindo forças a artistas como Lenine, Thiaguinho, Monobloco, Baianasystem, Ferrugem, Nando Reis Vanessa da Matta, Criolo e Paula Lima, a campanha “Salve Salve Fundição” prevê manutenção do espaço e doação de cestas básicas.

Já o Áudio Rebel – que recebe artistas como Jorge Mautner, Kassin, Ava Rocha e Alberto Continentino — criou uma moeda para “manter a Rebel viva durante a pandemia”. Com 15 anos de história e referência na música de vanguarda, o espaço tem, além do palco, estúdios de gravação e ensaio, oficina de instrumentos e loja de música. A campanha de pré-venda para gerar capital de giro inclui três tipos de pacotes: R$ 20 (vale 20 reais dentro da Rebel para uso futuro), R$ 30 (vale 20 reais + 10 reais de doação) e R$ 50 (vale 40 reais + 10 reais de doação).

Por sua vez, o mítico Circo Voador, uma das principais casas de shows da capital fluminense, prefere aguardar o surgimento de medicamentos eficazes e vacinas antes de anunciar um plano ou venda de ingressos antecipados.

Apresenta Rio: protocolos sanitários e grandes shows adiados para 2021

Na Apresenta Rio (associação que reúne os promotores de eventos no Rio de Janeiro) as estimativas são cautelosas. Cofundador da associação, o executivo e promotor de turnês internacionais Bernardo Amaral – um dos fundadores da casa de espetáculos Metropolitan e ex-diretor de Vivo Rio e HSBC Arena – defende que o importante é desenhar o quanto antes os protocolos sanitários e de segurança e levar as sugestões às autoridades. “Vamos torcer para que a partir de outubro tenhamos uma situação do ‘novo normal’. Talvez a partir de agosto haja um reinício, mas em outubro imagino que possamos voltar a atuar com mais segurança e protocolos de saúde, com utilização de máscaras, distribuição de álcool gel, equipes treinadas, redução da capacidade e higienização de todos os ambientes”, opina Amaral.

Se os grandes promotores e diretores de casas de espetáculos com 5 mil lugares analisam como proceder e aguardam autorizações, os médios e pequenos palcos lutam para conseguir reabrir as portas depois do fim da quarentena. A Rede Palcos do Rio, criada em 2018 — e que reúne cerca de 30 casas de shows de médio e pequeno porte —, lançou um fundo emergencial. Na plataforma digital Benfeitoria, será possível realizar contribuições que serão destinadas ao pagamento de custos fixos (água, luz, funcionários e outros).

Em Brasília, dependência de editais

No Distrito Federal, os espaços musicais também estão tentando diversos formatos. UK Music Hall, Bar Brahma, Bar Primeiro, Casa de Cultura de Brasília, Criolina e Cota Mil Iate Clube apostam, de formas variadas, em lives, em sistemas de delivery, preparação para redução da capacidade e medidas sanitárias. Mesmo tendo o maior PIB per capita do país, por conta da renda dos servidores públicos, a tendência é que as atividades associadas à música devem voltar por último, com bandas com formações reduzidas e com capacidade adaptada. É a aposta do empresário, músico e produtor Gustavo Ribeiro de Vasconcellos, fundador da GRV Música, Media & Entretenimento, organizador do Prêmio Profissionais da Música (PPM) e realizador de eventos em diversos desses espaços.

“Brasília é um polo consumidor, predominantemente, no que se refere a bens culturais e música, de artistas, espetáculos e produções que venham de fora.  Mas temos uma dependência razoável do estado, leis e editais para criar e produzir e uma baixa ou difícil capacidade de circulação, monetização e expansão, se considerarmos o excesso de riqueza, diversidade e qualidade dos bens culturais aqui criados”, diz Gustavo, que prevê momentos difíceis por um longo período, ainda que o ambiente digital da música, com recolhimento de direitos autorais, possa colaborar.

Novos formatos para a música ao vivo no mundo

Em diversos países, em especial na Europa, já há uma flexibilização do distanciamento social. Mas com muitas regras. Na Áustria já se liberaram eventos para 500 pessoas.

Países como Dinamarca e Lituânia autorizaram a experiência com shows em formato de Drive-In (em que as pessoas permanecem dentro de seus carros) e elaboraram um plano urbanístico que transforma o espaço público em um grande “outdoor cafe”. Ou seja, espaços ao ar livre como praças e parques podem sediar a oferta de música e serviços de bares, mantendo o distanciamento social controlado. As máscaras seguirão obrigatórias em espaços públicos na capital da Lituânia, Vilnius. Outra ação elogiada por proprietários de estabelecimentos foi a distribuição de vouchers de consumo para os profissionais de saúde. Um investimento de cerca de R$ 2,4 milhões. Será inicialmente para bares e restaurantes, mas poderia ser ampliado para casas de shows e bares com música ao vivo.

Na Dinamarca, a cidade de Aarthus recebeu 500 fãs de música para uma performance paga ao vivo com Mads Langer. De acordo com a revista Forbes, eles permaneceram dentro dos carros, ouviam as canções por meio de uma frequência de rádio FM local e podiam interagir com o artista utilizando a plataforma Zoom. Foi o primeiro de muitos concertos planejados nesse formato.

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