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80 anos em grande forma
Publicado em 06/08/2020

Letrista campeão de sucessos, o também escritor, esportista e Presidente da UBC, Paulo Sérgio Valle, mantém seu ritmo de intensa produção

Por Rodrigo Faour

            Poucas figuras de nossa música popular podem se orgulhar de chegarem tão bem, intelectual e fisicamente, aos 80. O pragmático, organizado, cordato e dono de imensa sensibilidade Paulo Sérgio Valle é dos que podem bater no peito e encarar suas oito décadas completas hoje com a naturalidade de um garoto que sempre teve uma vida estável, por ter sabido conciliar sua arte – a música, a poesia, a prosa (escreveu sete livros) – com seu dever como cidadão da cultura – atuando na defesa dos direitos dos compositores – e a prática de seus hobbies, que incluem o esporte e uma alta dosagem de aventura. Sim, ele é triatleta, adora surfar, voar de ultraleve e correr a maratona com a mesma naturalidade que escreve canções das mais chiques e refinadas às mais deliciosamente bregas, acumulando um número invejável de hits há quase 60 anos, ainda que se passar na rua, poucos serão capazes de reconhecê-lo. Nunca foi de ficar sob os holofotes.

Eleito Presidente da UBC em março de 2017, este é o mais novo ofício de surpreendente de uma carreira sem declínios. Formado em Direito, a profissão de seu pai, Paulo Sérgio jamais chegou a advogar, mas sempre esteve envolvido no debate da defesa dos direitos autorais no país. Participou da reconstrução da UBC nos anos 90, sendo convidado para exercer o cargo de secretário-geral por dois mandatos, inclusive representando a sociedade nos foros internacionais. Mesmo após o término do mandato, se fez presente em debates, congressos e reuniões com autoridades. “Paulo é pura sensibilidade e objetividade. É uma honra contar com um autor com sua representatividade na Presidência do Conselho de Diretores da UBC. Aprendemos muito com ele e sua visão de mundo e de como enfrentar nossos desafios diários”, atesta Marcelo Castello Branco, diretor executivo da entidade.

Paulo Sergio Valle presidente da UBC

Paulo Sergio Valle, compositor de sucessos, triatleta e presidente da UBC

 

De piloto a letrista de sucesso

 A trajetória profissional de Paulo Sérgio começou quando, aos 19, foi ser piloto da Cruzeiro do Sul, enquanto, nas folgas, escrevia poesia. Tudo mudou quando um dos quatro irmãos, Marcos Valle, três anos mais novo que ele, revelou-se um grande músico e Paulo, encantado pelo que ouvia, ofereceu-se para letrar uma de suas melodias. “Em 1961, comecei a fazer as primeiras músicas mais bem acabadas, e uma delas, que viria a se chamar ‘Desejo do mar’, ele ouviu e me perguntou se podia experimentar fazer uma letra. Ele já lia muito, ia muito à biblioteca do papai e tinha um conhecimento de música porque tinha estudado um pouco de acordeon. Também nos ajudou essa vantagem de sermos irmãos, morarmos na mesma casa e termos uma proximidade de idade que fazia com que ele soubesse exatamente o que estava na minha mente ao fazer música”, explica Marcos que gostou do resultado e logo ganharia do irmão um desafio inverso.

“Ele me apresentou uma poesia, que a gente ia chamar no futuro de ‘Sonho de Maria’. Era complicado porque tinha uma métrica muito diversa, quase quatro variações, mas resolvi tentar fazer quase como um exercício de composição. E isso enriqueceu a música, porque ficou bem rica, justamente por ter quatro climas diferentes, e esta acabou sendo nossa primeira música gravada”, atesta. Isto se deu em 1963, quando Marcos a tocou na casa do letrista Lula Freire, e o pessoal do Tamba Trio se apaixonou pela canção, gravando-a no legendário LP “Avanço”. “Pouco a pouco, ele foi se aprimorando, procurando criar um estilo próprio e quando chegou o meu primeiro disco, ‘Samba demais’, coloquei seis músicas nossas. Ali então já estava selada a parceria”.      

Marcos caracteriza o estilo de letra do irmão como “bem aberta e direta” e explica que a parceria foi frutífera porque Paulo soube acompanhar a evolução de seu trabalho como compositor. “Meu primeiro disco é bem bossa nova e trazia letras que acompanhavam o estilo do que eu estava fazendo, tipo ‘sol, sal e sul’. Mais tarde, quando deixo aflorar as outras influências musicais que tanto tive, ele começa a me acompanhar, tendo essa mesma versatilidade na poética que a minha música tinha”, conta ele, lembrando suas músicas subsequentes mais ligadas ao pop, ao rock e à black music. De fato, foi uma parceria inesquecível, que ajudou o engrossar o movimento da bossa nova, para além das canções de Tom, Vinicius, Menescal, Bôscoli e Carlos Lyra.

 

Um mar de sucessos requintados

Marcos e Paulo Sérgio Valle criaram uma usina de sucessos da mais alta qualidade musical e poética, incluindo a antológica “Preciso aprender a ser só”, outras igualmente derramadas, como “O amor é chama”, “Passa por mim”, “Seu encanto” (esta, também com Pingarilho), algumas suingadas, como “Batucada surgiu”, “Os grilos”, “E vem o sol”, e ainda outras com conotação política, já que entrávamos na ditadura militar, como “Terra de ninguém”, que foi a primeira gravação de Elis Regina na fase “adulta”, se tornando o prefixo do Fino da Bossa, da TV Record; “Gente” e sua continuação, “A resposta”, mais “Dia de vitória” e o clássico “Viola enluarada” – algumas delas, devidamente banidas das rádios por ordens superiores. E no meio disso tudo, “Samba de verão”, lançada em 1964, possivelmente a segunda música brasileira mais regravada no mundo inteiro, perdendo apenas para a “Garota de Ipanema”. Há duas décadas, Paulo Sérgio ganhou um prêmio da sociedade internacional BMI, por seus então dois milhões de execuções num mundo ainda sem internet, a vice-campeã da associação. Perdia apenas para “Imagine”, de John Lennon.

Há duas décadas, Paulo Sérgio ganhou um prêmio da sociedade internacional BMI, por seus então dois milhões de execuções num mundo ainda sem internet, a vice-campeã da associação. Perdia apenas para “Imagine”, de John Lennon.

Sem Marcos, Paulo Sérgio ainda emplacou três raras parcerias: com Eumir Deodato em 64, “Razão de viver”, outro clássico instantâneo da bossa nova; “Quem diz que sabe”, com João Donato, em 67, e numa levada estética totalmente diferente, a canção de protesto “Atento, alerta”, com Egberto Gismonti, para Maysa, em 69.

A fase bossa mais castiça estava mesmo com os dias contados, pois os rumos do país e da própria MPB estavam em franca fase de mudanças. “Quando minha música caminha mais pelo lado pop, a letra acompanha no sentido de trazer críticas de comportamento, à sociedade industrial, com várias mensagens como ‘Eu acordo pra trabalhar, durmo pra trabalhar’ ou ‘Não cofie em ninguém com mais de trinta anos’”, lembra Marcos referindo-se a mais dois sucessos, respectivamente, “Capitão de indústria” e “Com mais de trinta”, este, um emblema na voz de Cláudia, mesma que tirou primeiro lugar na Olimpíada da Canção na Grécia, em 1971, com outra música da dupla, “Minha voz virá do sol da América”. Aliás, ainda neste ano, Paulo e Marcos foram brevemente detidos pelo DOPS, após assinarem com diversos pesos-pesados da MPB, um abaixo-assinado contra as regras impostas pelos militares ao VI Festival Internacional da Canção da TV Globo.

“Garra”, também com Cláudia, “Os dentes brancos do mundo”, com Claudette Soares e Evinha; “Mustang cor de sangue” na voz de Wilson Simonal e, sobretudo, “Black is beautiful” na de Elis Regina foram outros grandes êxitos dessa nova fase da parceria. “Em Los Angeles, fiz um blues no meio do movimento negro, o ‘Black is beautiful’, então ele veio muito coeso comigo, quando minha música caminhava para vários lados”, elogia Marcos. Mesmo com censura à letra original que deixava os negros em situação superior (“Eu quero uma dama de cor que melhore o meu sangue europeu”), Elis cantou-a no feminino e foi um sucesso retumbante, um marco do amor “inter-racial” na MPB. Também fizeram a seis mãos “Ao amigo Tom”, com Osmar Milito, “Fittipaldi show”, com Novelli (para o documentário “O fabuloso Fittipaldi”), “Frevo novo”, com Novelli e Taiguara, e “Que bandeira”, com Mariozinho Rocha – este um grande sucesso de Evinha, cuja letra é um tremendo trava-língua para por à prova grandes intérpretes.

A dupla mostrou sua excelência também na TV Globo. A começar pelas trilhas das novelas “Assim na terra como no céu” (“Quarentão simpático”), “Pigmalião 70” (“Pigmalião”), “O cafona” (a famosa canção-tema), além de assinarem todas as músicas das trilhas de “Os ossos do barão” e “Selva de pedra” (incluindo “Capitão de indústria”), todas, grandes sucessos de audiência. Também se mostraram versáteis, compondo para seriados infantis da emissora, como “Vila Sésamo” (“Funga, funga”, “Cinto de inutilidades”, esta também com Nelson Motta), e até mesmo seu famoso jingle de fim de ano, até hoje cantado, a valsa pop “Um novo tempo”, outra a seis mãos com Nelsinho: “Hoje a festa é sua/ Hoje a festa é nossa/ É de quem quiser/ Quem vier”. Originalmente foi cantada por um coral reunindo todo o elenco da Globo, lançada num compacto no final de 1972.

Ronaldo Bastos Erasmo Carlos Aloisio Reis e Paulo Sergio Valle

Paulo Sergio Valle entregando o Prêmio do Compositor Brasileiro de 2018 a Erasmo Carlos ao lado de Ronaldo Bastos e Aloysio Reis

 

A diversificação de parceiros e a paixão pelo esporte e a natureza

Em 1975, Marcos se desencanta com os anos de chumbo no país, e parte para os Estados Unidos, fazendo novas parcerias com músicos americanos. Por sua vez, Paulo Sérgio também começa se diversificar. No mesmo ano, logo viria o primeiro sucesso, “Linha do horizonte”, em parceria com Paraná, na interpretação do grupo Azimuth. Dois anos depois, começava uma virada rumo a uma estética mais popular, com a balada soul “Mais uma vez”, com melodia de Mariozinho Rocha e Renato Corrêa, interpretada pela irmã mais nova do clã dos Golden Boys e do Trio Esperança, Marizinha, então com 20 anos.  Logo entrou na trilha da novela “O astro” e estourou, com versos açucarados que caíam como luva à estética romântica de mocinha de folhetim: “Quando algum amigo perguntar por mim/ Diga que eu estou apaixonada/ E se algum amigo duvidar de mim/ Simplesmente não responda nada”. O mesmo trio assinou a estreia da futura diva brega, hoje cult, Rosana, com a disco music “Muito independente”, em 1978. No mesmo ano, o trio compôs para o cantor romântico José Augusto. Os dois aproveitaram então para iniciar uma parceria que daria sucessos mais contundentes na década seguinte.

Em 1979, novos acertos. Para começar, Sergio Mendes, de volta ao país, gravava um disco no Brasil compondo com ele e Guto Graça Mello a deslumbrante faixa-título, “Horizonte aberto”, sendo tema de abertura da novela “Os gigantes”. Depois, Maria Bethânia, encantada com um jingle de motel de Duda Mendonça, Jota e Ribeiro, que ouviu no rádio do carro quando esteve na Bahia, pediu uma letra adicional a Paulo Sérgio. Virou “Cheiro de amor”, uma das faixas mais executadas de seu LP “Mel” (“De repente fico rindo à toa/ Sem saber por quê...”). Nesse meio tempo, compõe com Tavito e Ney Azambuja “Começo meio e fim”, gravado pelo primeiro, uma canção que seria sucesso novamente em 86, com Zizi Possi, e mais ainda em 91 com Roupa Nova, sendo tema da novela “Felicidade”. Ainda em 79, Os amigos Fábio e Tim Maia registram o delicioso soul “Até parece que foi sonho”, de Fábio, Diogo e Paulo Sérgio. Finalmente, o maestro Eduardo Lajes, de Roberto Carlos, sonhando em ser gravado pelo “Rei”, pede a Paulo uma letra. Após muita expectativa, a balada “Às vezes penso” seria a primeira das 19 canções que ele registraria com letra sua, cujo maior sucesso talvez tenha sido “Coisas do coração”, em 87: “Pode ser amor, pode ser paixão/ Mas seja qual for a explicação/ Meu bem, por que querer saber/ Coisas do coração”.

No início dos anos 1980, com a volta ao Brasil do irmão Marcos, ele torna a compor uma série de canções com ele, incluindo o apoteótico soul “Estrelar”, dos dois com o americano Leon Ware. A canção torna-se um hit nacional, sinalizando o boom das academias de ginástica e da geração saúde que se instaura no Rio de Janeiro: “Tem que correr/ Tem que suar/ Tem que malhar/ Vamos lá”. Nada mais natural para Paulo, que sempre foi um grande esportista. Poucos podem acreditar, mas como se não bastasse ele foi um dos primeiros surfistas do Brasil, pegando onda no Arpoador ainda com prancha de madeirite, na virada dos anos 50 para os 60, levando a seguir o irmão mais novo a tiracolo. Sua ligação com o mar era tão forte que chegou a ter um barco. E não ficava por aí. Até 1991 participava ativamente de competições de triatlo – natação, corrida e ciclismo. A propósito, outro hit pop da década de 80, cunhado com o irmão foi “Bicicleta” (“Pedalando com você/ Numa bicicleta”). Não seria nada demais então o fato de que por três vezes tenha percorrido de bicicleta o Caminho de Santiago ao lado da segunda mulher, Malena, com quem é casado há 50 anos. Na volta, publicou o livro “Pedalando pelo caminho de Santiago de Compostela”. 

Além de surfar, velejar, nadar, correr e pedalar, sempre foi fascinado por voar.

Além de surfar, velejar, nadar, correr e pedalar, sempre foi fascinado por voar. Após ser piloto na juventude, no fim dos anos 60 chegou a ter uma pequena companhia de aviação que prestava serviços a agricultores do Rio Grande do Sul, pulverizando plantações de soja e trigo. Depois passou a andar de ultraleve. Foi ele quem levaria Herbert Vianna, dos Paralamas, a encarar o esporte, ainda que reprovando as acrobacias que o mesmo começou a fazer, bem como o modelo fatídico que comprara para praticar o esporte antes do terrível acidente que acometeu o amigo em 2001. A amizade, no entanto, nunca acabou e já havia rendido ao menos quatro boas canções pop, “Se eu não te amasse tanto assim”, maior sucesso romântico de Ivete Sangalo, em 1999; “Quando você não está aqui”, com Bethânia; “Hoje canções”, com Herbert em dueto com Nana Caymmi e “Aonde quer que eu vá”, com os Paralamas. Mas, não vamos apressar a história. Ainda estamos nos anos 1980.

Paulo Sergio Valle e bike

Em imagem recente, Paulo Sergio Valle retornando de um treino de triatlo

O compositor romântico-popular e o escritor

            Na segunda metade da década de 80, a música brasileira deu um giro em direção ao brega-romântico, em interpretações, arranjos e letras. A partir de então os irmãos Valle vão passar a compor mais pontualmente, mas não sem antes inaugurar esse novo filão com “Paixão antiga”, na voz de Tim Maia, em 1985, outro grande sucesso. A partir daí, Paulo intensifica suas parcerias com compositores de seara bem popular e incrivelmente cai no gosto do público com uma nova fase de impressionantes e estrondosos hits.Na voz de Elymar Santos, foi de “Mal de amor” (com Chico Roque) e a cabareteira “Escancarando de vez” (com Mauro Motta) (“Eu e você, a dois, a três/ Escancarando de vez”).  Em 1989, no auge da moda da lambada, fez a ótima letra de “Conversa bonita” (com Chico Roque) que estourou com Fafá de Belém. A parceria mais frutífera em hits nesta década foi com José Augusto. Emplacaram “Sábado”, na própria voz do cantor; “Sozinha”, com Fafá; “Metade de mim”, com Alcione; “Separação” e “Tudo por amor”, com Simone, “Página virada” e, principalmente, “Evidências”, em 1990, com Chitãozinho & Xororó. Era uma canção sertaneja pop que a cada década que passa parece ficar mais famosa, virou brega-cult, amada por diversas classes sociais, chegando hoje por vezes a lhe render mais dividendos que todas as suas outras músicas somadas, aqui e em toda a América do Sul: “E nessa loucura de dizer que não te quero/ Vou negando as aparências/ Disfarçando as evidências/ Mas pra que viver fingindo/ Se eu não posso enganar meu coração...”. 

Na voz do parceiro José Augusto, naquele mesmo ano de 1990, deu certo a balada “Aguenta coração”, de Paulo Sérgio com melodia do jovemguardista Ed Wilson e Prêntice, sendo tema de abertura da novela “Barriga de aluguel”.  Por sua vez, a década de 90, foi a da explosão do sertanejo mais pop, do pagode romântico e da Axé Music. E Paulo não fez por menos. Ainda na seara sertaneja, foi de “Cada volta é um recomeço”, parceria com Nenéo, na voz de Zezé di Camargo & Luciano. Com Augusto César, que conheceu ainda em 1979, compondo para o cantor-galã-romântico José Luiz, emplacou em 91 “Não tem saída”, num dueto de Sandra de Sá e Tim Maia (depois bisada em 2003 por Alcione e Belo), “Desejos”, com Fábio Júnior, além de canções sob medida para a própria Sandra e Joanna.

No pagode, fizeram história suas parcerias com Chico Roque, nos repertórios do Karametade (“Louca sedução” e “Nunca foi deixar você”); do Negritude Júnior (“Coração cigano”) e principalmente do Só Pra Contrariar, com “Essa tal liberdade”, que ajudou o grupo a vender mais de três milhões de CDs, um dos 10 álbuns mais vendidos da história da indústria fonográfica em todos os tempos: “O que é que eu vou fazer com essa tal liberdade?/ Se estou na solidão, pensando em você/ Eu nunca imaginei sentir tanta saudade/ Meu coração não sabe como te esquecer”. O grupo de Axé Music, Ara Ketu, também emplacou dois pagodes românticos da dupla, “Sempre será” e “Nossa guerra santa”.

            Ainda nos anos 1990, iniciou novas parcerias de teor mais pop com o referido Herbert Vianna e até mesmo com o hitmaker Michael Sullivan, que à certa altura deixava de compor com Paulo Massadas, buscando renovar-se. Com Paulo Sérgio Valle, criou novo hit para Fafá de Belém, a balada apoteótica “Abandonada (por você)”, que estourou entre 1996 e 97. Também compuseram para o grupo Asa de Águia (“Kriptonita”), de Axé Music, e até para Xuxa (“Como o sábio diz”). Aliás, Paulo também cunhou canções para as concorrentes Angélica e Mara. No novo século, talvez seu maior hit tenha sido em 2004, quando Alcione estourou “Você me vira a cabeça (Me tira do sério)”, do refrão-chiclete: “Mas tem que me prender/ Tem que seduzir/ Só pra me deixar/ Louca por você/ Só pra ter alguém/ O dia inteiro a seu dispor/ Por um segundo de amor”. Mas não deixou de comparecer com canções também mais refinadas, como “Nada existe”, no mais recente álbum do irmão Marcos, “Cinzento”, do ano passado.

            Em paralelo à música e ao trabalho junto à UBC, nos últimos anos não deixou para trás o lado escritor. Após uma estreia como poeta de livro ainda em 1981, com “De corpo e alma”, em parceria com Ney Azambuja, lançou nos últimos 25 anos, além do já comentado “Pedalando pelo Caminho de Santiago” (1996), os romances “Ajustador de profecias” (1997), “O segundo sudoeste” (2001), “O homem que venceu Getúlio Vargas” (2011), um de contos, “Se eu não te amasse tanto assim” (2008), e o biográfico “Contos e letras – Uma passagem pelo tempo” (2018). Seu oitavo livro já está a caminho. Ele escreve nas horas vagas, ao mesmo tempo que, em sua atividade na UBC, tem ajudado os autores da música brasileira em dificuldades financeiras devido à pandemia. A entidade criou um fundo com R$ 500 mil, que somados a outros R$ 500 mil do Spotify e a doações externas, já atingiu R$ 1,7 milhão e está beneficiando mais de mil músicos em dificuldades. 

 A energia e a criatividade de Paulo Sérgio Valle não têm limites. Evidências de um oitentão simpático que se entregou sem pensar a essa tal liberdade. Nunca vimos coisa assim...

 

Eu vou sempre devagar
Porque não quero ver
Esse sonho acabar
De brincadeira, subir ladeira
Depois soltar o freio e descer como um cometa
Na bicicleta...

 

Ouça mais: Rodrigo Faour fez a curadoria de uma playlist com artistas interpretando canções de Paulo Sergio Valle.


 

 



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