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Falsa atribuição de autoria deixa de ser tabu no mundo da música
Publicado em 01/04/2021

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Prática de algumas estrelas de exigir parte do crédito em troca de lançar uma canção escrita por um compositor vira tema de campanha internacional, na mesma semana em que iniciativa ataca o buy-out de trilhas sonoras audiovisuais

Do Rio

O mundo da música foi sacudido esta semana por uma campanha movida por compositores que denunciam uma prática tão antiga quanto o próprio pop – e, ainda assim, um tabu que poucos ousam abordar diretamente. Grandes cantores e intérpretes, sabedores do poder que têm em mãos – catapultar a carreira de criadores musicais – exigiriam coautoria de determinadas canções como condição para gravá-las e lançá-las, mesmo sem ter contribuído com mais do que uma mudança de palavra ou, muitas vezes, nem isso. 

A prática agora vira tema de uma iniciativa internacional movida por um grupo liderado por compositores de hits de Dua Lipa e Ariana Grande, entre outros. Em redes sociais (na foto, a reprodução de um post no Instagram), esse grupo, autodenominado The Pact (O Pacto), publicou um manifesto que diz assim: 

“Como um artista ganha dinheiro? Shows ao vivo/turnês, apresentações na TV, meet & greet e eventos VIP, parcerias com marcas, patrocínios, cachês de apresentações privadas, execução pública, gravações e edição das suas obras. Como um compositor ganha dinheiro? Com a edição da sua obra. Ainda assim, cada vez mais compositores são impelidos a abrir mão dos seus direitos de edição para beneficiar artistas que não contribuíram com a criação de nenhuma forma. Chegou a hora de mudar as coisas. #ThePact.”

Apesar de a mensagem não estar firmada por ninguém especificamente, a rede de televisão BBC, do Reino Unido, mostrou que, por trás do grupo, há criadores como Justin Tranter, Emily Warren, Ross Golan, Amy Allen, Savan Kotecha, Joel Little e Victoria Monét. Se alguns deles podem não parecer conhecidos à primeira vista, saiba que estes são nomes que respondem por hits globais de Lady Gaba, Britney Spears, One Direction, Michael Bublé, Lorde, Shawn Mendes e Selena Gomez, entre vários outros. Nenhum desses cantores, cantoras e bandas foi acusado diretamente pelos compositores. 

A mensagem não só estourou como uma bomba no mercado, provocando discussão sobre uma prática amplamente conhecida mas pouco questionada. Ela se somou a outro tema recorrente na indústria nos últimos tempos, o buy-out (ou compra total) imposto por grandes produtores audiovisuais a criadores de trilhas sonoras em troca do “privilégio” de ter suas músicas sincronizadas em filmes, séries e outras produções. Denunciado por autores mundo afora, entre eles brasileiros, e pela Cisac, o problema tem ganhado maior repercussão num momento de grande aceleração nas produções audiovisuais e na explosão do seu consumo durante a pandemia. 

LEIA MAIS: Cisac e campanha Your Music Your Future lançam plataforma educativa sobre o buy-out

LEIA MAIS: A reportagem de capa da edição 44 da Revista UBC sobre o buy-out

A Ivors Academy, uma das maiores instituições para compositores musicais da Europa, sediada em Londres, e a União dos Músicos britânicos lançaram, também esta semana, a campanha Compositores Contra o Buyout, uma declaração de princípios que questiona a imposição desses contratos, sem que sejam dadas alternativas aos criadores das trilhas. “Como uma comunidade de compositores que somos, a Ivors Academy tem se oposto há muito tempo contra a compra total de royalties futuros”, disse Graham Davies, diretor-executivo da instituição, num comunicado oficial. “Nossa campanha se propõe a empoderar e apoiar os compositores de trilhas, para que possam negociar melhor com os contratantes e manter uma carreira sustentável.”

Uma pesquisa da Ivors Academy mostrou que, nos últimos dois anos, 64% dos compositores de trilhas sonoras no Reino Unido viram sua renda cair consideravelmente ao abrir mão dos seus royalties em contratos leoninos impostos por produtoras de filmes, séries e outras obras audiovisuais. Segundo o mesmo levantamento, 70% dos criadores musicais disseram ter trabalhado de graça em algum momento das suas carreiras. 

Assim também se sentem os que embarcam na campanha do grupo The Pact. “O representante de um artista muito famoso me disse há pouquíssimo tempo que, apesar de essa pessoa não ter contribuído em nada com a música de um compositor, conceder-lhe a coautoria seria 'uma taxa a pagar para estar no álbum'”, escreveu Gabz Landman, executivo de A&R e gerente de composição na Warner inglesa, ao repostar a mensagem do The Pact. “Essa prática me deixa doente. É roubo, pura e simplesmente. Não conheço NENHUMA outra indústria que faça isso. A única fonte de renda de um compositor é a edição da sua obra e, ainda assim, intérpretes reduzem seu ganho por absolutamente nenhuma razão além da ganância.”

 


 

 



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