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Álbum de covers mostra os sons e influências que habitam a Nação Zumbi
Publicado em 15/12/2017

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O baixista Alexandre Dengue fala sobre “Radiola NZ, Vol. 1”, recheado de coisas que “fazem parte da nossa formação” reprocessadas com “a nossa musicalidade”, como ele define

Por Bruno Albertim, de Olinda (PE)

Foto de Tom Cabral

O peso nebuloso nas guitarras sugere trovoadas na introdução. No final, trombones condensados mantêm a cadência de uma espécie de heavy metal dilatado nesta versão de “Refazenda”. Primeiro single divulgado do novo álbum da banda, o clássico de Gilberto Gil de 1975 é uma das peças de resistência do novo disco da Nação Zumbi, o primeiro oficial de covers assinado pelo grupo cujas história e genealogia confundem-se, primordialmente, com o surgimento do manguebeat no Recife dos anos 1990, abrindo uma avenida de lama no pop brasileiro a partir dali.

“No disco, tocamos as músicas que fazem parte da nossa formação, as músicas que nos acompanham sempre”, resume o baixista Alexandre Dengue, numa pausa entre viagens para os shows da nova turnê. “Radiola NZ Vol 1” é o nome do álbum em que a Nação apresenta, reprocessada, a música que, desde antes da tenra infância da banda, habitou a cabeça dos malungos, conformando o pacote de influências e sonoridades que os levaram a ser comumente incluídos entre as bandas mais importantes do Brasil. Sem heresias nem subserviência excessiva:

“Não tinha como ser de outra forma. Trouxemos as músicas originais para a nossa musicalidade, para a musicalidade da Nação”, diz Alexandre Dengue.

Dentre as versões, uma das poucas que quase respeitam os arranjos originais é “Purple Haze”, o hinaço hendrixiano. Sob a guitarra ondulosa de Lúcio Maia, os vocais de Jorge du Peixe não chegam perto da cor original da voz sinuosa de Jimi Hendrix, mas emulam com eficiência suas curvas. De voz sabidamente de menos recursos, poucas notas, Du Peixe se vale justamente de sua monotonia grave para imprimir personalidade às canções — sejam clássicos gringos absolutos , sejam hits brasileiros que, a plateia sabe, comumente aparecem nos shows da NZ.

Sob a cortina de guitarras e percussões, a voz de Du Peixe, por exemplo, quase se esconde na versão de “Tomorrow Never Knows”, dos Beatles. Mas ajuda a imprimir atmosfera. Contundente, randômico, o baixo de Dengue é quase o mesmo da gravação original de Roberto Carlos para “Não Há Dinheiro Que Pague”.  “São hits de todas as épocas”, simplifica ele.

O repertório eleito pela Nação Zumbi para sua “Radiola Vol. 1” vale por uma antologia geracional. Tem o soul brasileiro de Tim Maia em “O Balanço”; o ska inglês do The Specials em “Do Nothing”; e uma corajosa recriação da hormonal “Sexual Healing”, de Marvin Gaye. “Amor”, parceria com Ney Matogrosso para o show do Rock in Rio interpretando Secos & Molhados, também aportou no disco.

Com projetos paralelos como a banda Los Sebosos Postizos, dedicada à obra de Jorge Ben antes do Jor, incursão pelo repertório alheio não é novidade na carreira da NZ. Ainda com Chico Science vivo, “Macô”, gravada a contragosto e a “pedido” da gravadora, se tornaria um dos emblemas da banda e maior sucesso do álbum “Afrociberdelia”.

Com Lúcio Maia finalizando um álbum solo, e tantos projetos e desencontros pessoais paralelos, como terem acompanhado Marisa Monte na última turnê ou dispensar o baterista e produtor Pupilo para produzir o último disco de Gal, a Nação Zumbi simplesmente não conseguiu ainda se reunir para tocar um novo álbum de inéditas, que deve ficar para o próximo ano. “Gravamos o 'Radiola' em estúdios espalhados em várias cidades do Brasil: em Fortaleza, no Rio, em São Paulo”, lembra Dengue.

No “Radiola NZ Vol. 1”, é apenas meia verdade que a banda tenha convertido o cancioneiro que a inspira para sua musicalidade mais característica. No disco, a torrente de alfaias está ainda mais suavizada, uma tendência que, crescente nos últimos álbuns, parece só se acentuar.

OUÇA MAIS: O álbum completo para audição


 

 



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