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Uma festa, quatro maravilhas de cenários
Publicado em 30/01/2018

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A preparação para o carnaval em Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador e Recife através de quatro blocos ou artistas que representam a folia em cada praça

Por Alessandro Soler, de São Paulo

Bruno Albertim, do Recife

Kamille Viola, do Rio

e Luciano Matos, de Salvador

 

Dentro de dez dias, o espírito carnavalesco — que já está bem solto por aí — terá tomado de vez o país inteiro, de Norte a Sul. Quatro das maiores cidades do Brasil estão vivendo com expectativa a preparação para a grande festa. Uma delas é uma relativa novata nos festejos de rua, mas chegou chegando, com o recorde de mais de 3,5 milhões de pessoas no ano passado, espalhadas por centenas de blocos oficiais e extraoficiais. É São Paulo, que espera passar dos 4,5 milhões de foliões em 2018 e já começa a se preocupar com a saturação que caracteriza outros dos polos momescos nacionais, como Rio (estimativa de 6 milhões este ano), Salvador (2,5 milhões) e Recife (1,5 milhão).

Tanta gente é sinônimo de muitas apresentações artísticas — e, potencialmente, de bons ganhos para os compositores das músicas executadas. Em 2017, segundo o Ecad, foram R$ 17 milhões distribuídos a mais de 15 mil titulares, um número que deve ser superado este ano, com o gigantismo das principais festas e a eclosão de São Paulo como a segunda maior praça, atrás somente do Rio.

Falamos com um representante de bloco em cada uma das quatro cidades. Eles comentam a preparação, o sentimento de participar da maior festa popular do mundo e como se dividem entre as atividades cotidianas durante o ano e neste período de ofegante epidemia. 

No final do texto, veja quais são os critérios de arrecadação e distribuição do Ecad nos blocos de rua.

 

Rio: Pedro Luís e o Monobloco

Foto de Fernando Maia/Riotur

No Rio de Janeiro, o carnaval de rua reúne mais de 473 blocos oficiais, num total de 596 desfiles, número que cresce a cada ano. Desfilando desde 2000, o Monobloco tem papel importante na força que a folia de rua voltou a ter na cidade. Foi um dos primeiros a apresentar repertório que não era tradicionalmente carnavalesco (com músicas de Raul Seixas, Tim Maia e Jorge Ben Jor, entre outros artistas) e a unir baixo e guitarra aos instrumentos do samba.

Além de inspirar o surgimento de novos blocos, dos mais diversos estilos, também foi pioneiro nas oficinas de percussão, que trouxeram mais músicos para a folia. “Costumo dizer que o desfile do Monobloco é a colação de grau de nossos alunos, e tomamos todo o cuidado de entregar a melhor festa pra eles”, comenta o cantor e compositor Pedro Luís, um dos fundadores do bloco.

No ano em que atinge a maioridade, o cordão ganhou uma canção de Moraes Moreira, feita sob encomenda: “Amor de Carnaval”. O Monobloco sai no domingo depois da folia, que este ano cai dia 18 de fevereiro, e seu desfile mudou do Centro para o Aterro do Flamengo, indo no sentido de Botafogo – o que é comemorado por Pedro Luís. “O carnaval de rua carioca é cada ano mais diverso. E mais procurado, também. Isso faz com que a infraestrutura tenha sempre que melhorar”, defende.

São Paulo: Simoninha e o Acadêmicos do Baixo Augusta

Um dos maiores e mais destacados blocos da cidade, o Academicos do Baixo Augusta realiza seu décimo desfile (em 9 anos de existência) esperando arrastar quase um milhão de foliões já no domingo que antecede o carnaval (4 de fevereiro). Vai ser só um dos mais de 400 blocos oficiais — entre outros tantos extraoficiais ou espontâneos esperados pelas ruas paulistanas. Os R$ 750 milhões que o carnaval de rua de SP já movimenta vêm empolgando tanto as autoridades que a SPTuris, empresa de turismo municipal, já o coloca ao lado da Parada LGBT e da Fórmula 1 como um dos principais eventos do calendário anual da cidade. “Já é o segundo maior carnaval do Brasil. E nossa expectativa é que não pare por aí”, diz David Barioni, presidente do órgão.

Ele não está só na empolgação. De olho na folia crescente dos paulistanos, medalhões ou agremiações alternativas do carnaval do Rio (Orquestra Voadora, Monobloco, Viemos do Egyto) e da Bahia (Daniela Mercury) já têm suas datas de desfile reservadas na capital paulista. Por isso, o Acadêmicos mantém intacto seu dia de desfile, antes mesmo do início oficial da folia. “Antes, os paulistanos fugiam da cidade no carnaval. Fazer antes da festa era uma tentativa de ter público. Agora, queremos é nos destacar em meio ao mar de blocos que tomou conta da cidade”, diz Simoninha, diretor artístico da agremiação e um dos responsáveis pelo crescimento extraordinário da cena carnavalesca paulistana nos últimos anos. “A gente tem um discurso de cidadania. Nossos desfiles trazem essa questão. Queremos estimular a ocupação da rua, algo de que São Paulo sempre careceu. Essa possibilidade de tomar conta da cidade, de fazê-la sua, mexeu com a cabeça das pessoas, daí o sucesso tão grande dos blocos nos últimos tempos.”

Simoninha estruturou o Acadêmicos de modo que as formações da banda tenham autonomia durante suas apresentações, seja no desfile, seja nos muitos ensaios que arrastam até 15 mil foliões por evento, além das viagens e das diversas outras atividades realizadas por eles ao longo do ano. “Desde que inauguramos a nossa casa, tem debates, oficinas das mais variadas áreas culturais, lançamentos de livros, debates sobre o racha político do Brasil. É mais que um bloco. E eu também toco minha carreira de músico concomitantemente. Não paro os shows, com o projeto Filho dos Caras, que divido com Leo Maia e Luciana Mello e que antes tinha o Jair Oliveira. Estou gravando um disco, tenho a minha produtora, a S de Samba, com milhões de demandas, inclusive uma operação que devemos abrir em breve em Nova York... Então, é num ritmo alucinado, acelerado, quase carnavalesco, que vamos levando tudo, fazendo a coisa acontecer.”

Salvador: Roberto Barreto e o BaianaSystem

Há muito tempo o Carnaval de Salvador não passava por um momento tão forte de transição e transformação. A crise da axé music já é uma realidade palpável, e os grandes blocos e suas estrelas há algum tempo perderam o poder que tinham na festa. Com isso, o carnaval de rua, sem cordas, gratuito e sem delimitações, chamado em Salvador de pipoca, voltou a ganhar força, seja pela demanda dos foliões, ou pela impossibilidade que os empresários estão tendo de colocar os blocos na rua. Este ano, o poder público voltou a investir pesado nas atrações para esses trios elétricos sem cordas. Estrelas do carnaval baiano como Daniela Mercury, Psirico, Bell Marques, Léo Santana e BaianaSystem e são alguns desses nomes já confirmados. Além disso, os blocos afro e afoxés, como Olodum, Ilê Aiyê e Filhos de Gandhy, permanecem desfilando com seus milhares de filiados e mantendo a tradição de levar cores, ritmos e fantasias para as ruas de Salvador.

O futuro do Carnaval de Salvador está em aberto, e é esse questionamento que o BaianaSystem (desfiles e apresentações, sempre sem cordas ou ingressos, nos dias 10, 11 e 13, seja no Circuito Dodô, seja no Pelourinho) faz desde a primeira participação na festa e continua fazendo.

“Como sempre, trazemos um tema para nosso carnaval, uma coisa que levanta tudo o que está passando por nós artisticamente e, musicalmente, diz o que queremos comunicar. Esse ano é o carnaval Alfazema, que é uma faixa que a gente vai lançar junto com a Nação Zumbi. Ela parte desse simbolismo que a alfazema traz de ser uma coisa apaziguadora, uma coisa que pega as pessoas pelo cheiro. Tem a ver com essa sensação que a gente está sentindo, de que vivemos um momento muito tumultuado, com todo mundo falando muito, escrevendo muito, os estímulos são todos através do olhar, da tela, dos posts. A alfazema eleva para a coisa do cheiro, da sensação, o cheiro do carnaval, o cheiro da rua e tem associação também com a coisa de benzer, batizar e de apaziguar”, diz Roberto Barreto, um dos integrantes do bloco que, em sua formação banda, virou sensação no país inteiro, com shows lotados e o estilo do carnaval soteropolitano na veia: rodinhas de pogo, misturas potencialmente infinitas de estilos e mensagens agregadoras.

“Desde o primeiro ano em que saímos no carnaval, queremos contestar o formato que a festa tinha, de exclusão de pessoas, exaltando a multiplicidade e a explosão social que a festa significa”, completa Roberto.

Recife: Elba Ramalho

Naquele já distante ano de 1983, Elba Ramalho tomava de assalto as paradas do país e levava para casa um cobiçado disco de platina, o equivalente a dez vezes um disco de ouro numa época em que a então mais que sólida indústria fonográfica só faltava comprar terrenos no céu para os artistas com a marca de um milhão de discos vendidos. O inusitado é que, na voz agreste de Elba, o país inteiro cantava e dançava um autêntico frevo pernambucano. “Pela primeira vez, um frevo era executado em todas as rádios FM do Brasil”, lembra a estrela.

Com a canção de Carlos Fernando, Elba não apenas ampliava o ritmo de seu habitat natural, como diluía quaisquer barreiras que pudessem existir entre o frevo, "um ritmo carnavalesco", e a classuda MPB. Elba, desde então, é sinônimo imediato de frevo. A grande dama do carnaval de  Pernambuco, onde, além de outros principados mais recentes na folia do país, reinará outra vez.

"Fiquei muito contente ao ver que, na linha do tempo da história do frevo, a minha apresentação no primeiro Rock in Rio foi um momento muito significativo.  Milhares de pessoas dançaram ao som de 'Banho de Cheiro'", lembra. "Desde que me tornei cantora, eu cantava, gravava e sigo gravando frevos até hoje. Era absolutamente natural pra mim", diz ela, que começou a carreira, ainda no Recife de 1966, justamente cantando o clássico Evocação do Recife, de Capiba, no Coral da Fundação Artística e Cultural Manuel Bandeira, do qual fazia parte, com "Evocação do Recife".

Este ano, quem quiser acompanhar a usina sonora chamada Elba Ramalho vai ter que pular tanto quanto ela. Além de onipresente no carnaval do Recife, ela volta a expandir a voz por outras plagas.  Dia 1º de fevereiro, veste a máscara no elegantíssimo Baile da Vogue, em São Paulo. No dia 2, já está em João Pessoa, para a abertura do Folia de Rua. No dia 3, voa de novo para São Paulo, onde, ao meio-dia, lança, no Parque do Ibirapuera, o trio-elétrico Frevo Mulher. No mesmo dia, já volta ao Recife, onde faz, ao lado da Orquestra do Maestro Spock, uma participação no Baile Municipal. Na sexta-feira, diz 9, faz a abertura oficial do carnaval do Recife no Marco Zero. Dia 10 (ufa), está no gigantesco Galo da Madrugada, o maior bloco do Brasil, no Centro do Recife. Além de outros shows na cidade, faz ainda o apoteótico encerramento do carnaval, no mesmo Marco Zero da cidade. 

"Costumo dizer que minha vida é um eterno carnaval.  Na verdade, meu trabalho é sempre muito intenso, mas procuro me alimentar bem e estar sempre muito hidratada.  Eu realmente amo o que faço e, no Recife, me esforço ao máximo para corresponder às expectativas. Me senti honrada quando me chamaram de Grande Dama do Carnaval de Pernambuco. Preciso retribuir com o que tenho de melhor. Tem muita entrega, tem muito suor e frevo. Termino o circuito do Galo com bolhas em todos os dedos dos pés, mas adoro", ela celebra.

 

Ecad: como são a arrecadação e a distribuição

Quando há cobrança de ingresso ou abadá, o cálculo da retribuição autoral é baseado em um percentual sobre a receita. Quando não há venda de ingressos ou abadá, o cálculo do direito autoral em blocos é realizado tanto pelo critério do custo musical quanto pela área sonorizada ou a quantidade de pessoas presentes.

É importante que os organizadores procurem a unidade do Ecad mais próxima antes do desfile para solicitar o cálculo e realizar o pagamento. Todos os critérios e formas de cálculo estão no Regulamento de Arrecadação e na Tabela de Preços, disponíveis para consulta no site do Ecad.

Para a distribuição, o Ecad utiliza o método de amostragem estatística e faz a captação das músicas tocadas em blocos de carnaval através do equipamento digital Ecad.Tec Som, que tem grande autonomia de gravação. A distribuição dos valores arrecadados é realizada no mês de maio,após a identificação das músicas captadas. A metodologia de amostragem utilizada pelo Ecad neste segmento foi certificada pelo Ibope, referência no mercado de pesquisa. A margem de erro aferida foi de 0,1%, o que significa que as gravações dos eventos captados no período compõem uma amostra fidedigna à realidade do que é tocado nos dias de folia.


 

 



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