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Profissão: cantora, compositora e mãe
Publicado em 12/05/2018

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Artistas falam sobre questões comuns que enfrentam para conciliar a maternidade e o ofício que escolheram 

Por Kamille Viola, do Rio

Foto: reprodução do Instragram de Pitty

Semanas longe da família e dos amigos, trabalho enquanto boa parte das pessoas está de folga, pouco tempo para comer, descansar ou dormir: são muitos os percalços da vida de quem trabalha nos palcos. Quando a artista em questão é mãe de criança pequena, então, a coisa se torna ainda mais complicada: como conciliar os cuidados que o filho exige com uma rotina tão atípica?

O ajuste à nova realidade é especialmente complicado para aquelas que estão tendo que lidar com a questão pela primeira vez. Mãe de Madalena, de 1 ano e 9 meses, com quem aparece nesta foto aí ao lado durante uma visita a um estúdio, a cantora e compositora Pitty lançou em março deste ano o documentário “Do Ventre à Volta”, dela e de Otavio Sousa, disponível na internet, que marca sua volta aos palcos depois do repouso (ela precisou parar desde o início da gestação, por conta de uma insuficiência istmocervical, ou colo do útero curto). No filme, mostra os preparativos para o primeiro show desse hiato enquanto busca se adaptar à nova rotina com a filha.

“Uma coisa que me chamou atenção, além do prazer de tocar aquelas músicas todas de novo, foi essa coisa de eu estar experimentando agora um momento de me reorganizar como um todo. Eu estava muito cansada no último ensaio. Acordei às seis da manhã para dar de mamar, dormi um pouquinho mais assim até as oito, mas aí já tive que levantar, porque passei o dia inteiro trabalhando, e de lá eu fui direto para o ensaio. Então, eu cheguei ao ensaio lutando com todas as minhas forças para conseguir me concentrar naquilo, que era o que eu queria fazer, porque agora eu estou lidando com essa questão de ser uma mãe, uma mulher que trabalha e que tem uma vida ativa e que precisa conciliar isso tudo”, comenta Pitty no filme.

Para a cantora Kelly Key, que tem três filhos — Suzanna, 17 anos, com Latino, e Jaime Vitor, 13, e Artur, 1, com Mico Freitas, seu marido —, a maior dificuldade para as mães que vivem de música são as frequentes noites dormindo longe de casa. “Porque, no fundo, se você sai para um ensaio de manhã e volta mais tarde, tem um horário de trabalho normal de qualquer brasileira atualmente, que sai para trabalhar de manhã, volta de noite, deixa o filho na escola, depois pega, dá banho, a janta e tal”, analisa ela.

Mãe de Rubi, 16 anos, e Benedito, 6, a cantora e compositora Anelis Assumpção conta que, como teve sua primeira filha aos 23 anos, aprendeu a se virar desde cedo. “Uma avó aqui, uma amiga ali (ajudando). Levava junto. Nos adaptamos uma à rotina da outra. Quando o Benedito veio, dez anos depois, eu já sabia alguns caminhos possíveis”, explica ela. 

Ela lembra que, enquanto amamentava os filhos, os levava o tempo todo consigo aonde fosse. “Benedito começou a viajar comigo aos seis meses. Ou o pai (o também cantor e compositor Curumin) ia junto, ou uma amiga. Nessa toada, ele viajou para sete cidades no Brasil e uma viagem internacional antes de completar 2 anos”, recorda Anelis. Se parte da rotina acaba sendo atípica, a vida artística acaba permitindo que ela passe bastante tempo em casa quando não está em turnê. “Tenho o privilégio de trabalhar com uma agenda irregular, com longos períodos em casa. A rotina das crianças acaba virando o centro da organização”, garante.

Já Kelly Key, que deu à luz Suzanna quando tinha apenas 17 anos, nem sempre levava a filha em turnê — ela estourou no ano seguinte ao do nascimento da menina. “Nos shows maiores e nas principais capitais, ela ia comigo, sim. E, às vezes, quando era fim de semana, para algum lugar que tivesse mais estabilidade, né? O problema dessa vida é que você tem noites maldormidas, acorda um dia num estado e, de repente, já está em outro... Isso é cansativo para qualquer adulto, imagina para uma criança!”, conta a cantora. “Então, ainda bem que eu tinha a minha mãe em casa, junto de uma pessoa que ajudava. Juntas, elas podiam me dar esse suporte”, diz.

"O problema é sempre esse, é dormir fora, o que nos custa mais."

Kelly Key

Anelis, que foi a primeira de seu grupo de amigas mais íntimas a ser mãe, lembra que cada experiência é única. “Algumas mulheres têm outras necessidades ou até mesmo possibilidades. Eu nunca tive babá, por exemplo. Não pude pagar por uma. Essa figura muda muito a dinâmica. Permite que a rotina do bebê seja menos alterada. Tem seus contras, mas não há um caminho único para a maternidade”, argumenta. 

Elas contam que conversam com frequência com outras mulheres do meio musical sobre como conciliar maternidade e carreira artística. “O problema é sempre esse, é dormir fora, o que nos custa mais. Custa muito fazer uma mala, saber que a gente vai dormir duas ou três noites fora, e a gente volta para casa cansada e não descansa, porque tem que estar ativa, porque a criança quer brincar e tudo mais. Acho que essa é principal dificuldade da maioria das mulheres que trabalham com música”, defende Kelly Key.

“Trocamos ideias e nos apoiamos. É importante dividir culpas e dúvidas”, analisa Anelis. “Mas acho que eu me exponho mais. Talvez por ter uma experiência adiantada. Tenho uma filha de 16 anos e um filho de 6. Ambos de parto natural. Meu segundo filho nasceu em casa, assistido por uma médica e uma doula. Amamentei no peito por dois anos cada um deles. Acho que tenho algumas coisas para falar sobre ser mãe e ser artista. Acho que também preciso ouvir outras experiências. Isso nos enriquece. Mulheres e seus planetas internos.”


 

 



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