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Livros oferecem diferentes leituras sobre Wilson Simonal
Publicado em 27/04/2009

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RIO - Artista que rivalizava em êxito com Roberto Carlos no fim dos anos 60, o cantor Wilson Simonal (1939-2000), homenageado com o filme Simonal: Ninguém sabe o duro que dei, de Claudio Manoel, Calvito Leal e Micael Langer (em cartaz no dia 15 de maio), mesmo com todo o sucesso, foi relegado a bem mais do que o ostracismo. Após a acusação de delatar artistas de esquerda ¿ causada pelo fato de, em 1972, ter chamado amigos policiais do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) para pressionar seu contador Rafael Viviani, a quem acusara de roubo ¿ foi tirado dos verbetes sobre MPB, como se nunca tivesse existido. Trazê-lo de volta à literatura sobre música é o objetivo do jornalista Ricardo Alexandre, diretor de redação da revista Época e ex-editor da Bizz, e do historiador Gustavo Alonso Ferreira, que lançam em breve livros que relatam a trajetória do cantor.


Enquanto o jornalista lança a primeira biografia oficial de Simonal (ainda sem título, a ser lançada no segundo semestre pela editora Globo), Ferreira assina Simonal: Quem não tem swing morre com a boca cheia de formiga (Record), fruto de uma tese de doutorado em História pela Universidade Federal Fluminense, previsto para junho. Uma tarefa aprazível para ambos, fãs de Simonal, mas nem por isso menos trabalhosa, porque envolve um personagem cujas esferas pessoal, musical e política se entrelaçam. E que ainda suscita grandes dúvidas a serem respondidas.


¿ No livro, forneço matéria-prima para o leitor entender se Simonal foi ou não delator ¿ afirma Alexandre, que entrevistou o cantor em 1998 e cuidou da produção editorial da caixa Wilson Simonal na Odeon (EMI, 2003), que revê a discografia do ídolo dos anos 60 e 70. ¿ Progredi muito em relação ao texto que acompanhou a caixa. Ouvi mais de 60 pessoas. Durante a carreira, ele teve turmas e subturmas diferentes. Só no caso do contrato que ele fez com a Shell em 1968 (que envolvia propagandas e patrocínios de turnês) havia diversas pessoas, no Brasil e no exterior. Fui atrás do presidente da Shell na época e dos publicitários que se envolveram com ele.


Boatos sobre bombas


Apesar do lado político ser importante, Alexandre diz que é impossível deixar o que aconteceu com Simonal restrito a isso.


¿ É uma história que tem várias leituras. Tem a questão do racismo, o fato de ele ter sido um cara sem condições para gerir a própria carreira, algo que veio de suas origens. ¿ lembra. ¿ Simonal era um cara sem estrutura familiar, teve poucas pessoas para orientá-lo e estava sozinho na época que foi acusado, sem banda e trocando de gravadora.


Ferreira, por sua vez, tencionou chegar a um resultado que lembra o fio condutor de Roberto Carlos em detalhes, de Paulo César de Araújo. Seu objetivo é contar a história da MPB dos anos 60 e 70 por intermédio da trajetória de Simonal ¿ um cantor que, antes mesmo de ganhar a pecha de dedo duro, já não contava com a simpatia das esquerdas. Em 1969, diz o autor, Simonal teria mandado uma carta ao Dops pedindo reforço policial para seu espetáculo De Cabral a Simonal. Justificou o pedido alegando ter ouvido boatos a respeito de bombas em seus shows.


¿ Existe o fato de ele ter sido um dos artífices de um tipo de música chamada pilantragem, movimento cujos participantes não se viam como tal, talvez por vergonha. E Simonal fazia música alegre em tempos de ditadura, ironizava os universitários e os sambistas que faziam música batendo em caixas de fósforos. Alegava que estes não sabiam fazer música para o povo ¿ observa o autor. ¿ Aquela época se prestava a distorções, ainda não resolvidas. Hoje fala-se que o Simonal era adesista. Mesmo os artistas exilados passaram por esse tipo de acusação. O Chico Buarque lançou em 1968 a música Bom tempo. Os tropicalistas também eram mal-vistos pelas esquerdas.



 

 



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