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Crônica: Saudade daquele Moleque
Publicado em 29/04/2009

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29 de abril de 1991. Acordo com o telefone tocando. Um jornalista queriam saber se eu tinha notícias do Gonzaguinha. Eu apenas sabia que ele estava viajando pelo sul do país. Me informam que ele teria tido um acidente. Acabava-se a minha manhã e iniciava-se um drama que não posso esquecer.Meu amigo, com quem eu estivera dez dias antes, cantando, conversando e bebendo cerveja, não resistira ao desastre. Amigo na profissão, na bola, na conversa, no amor à música e ao Brasil, irmão de vida.

Ele me chegou numa manhã e se foi em outra. Anos antes, ele batera à porta do apartamento carioca de Milton Nascimento. Queria que o Bituca cantasse sua canção classificada num Festival. Milton estava em Belo Horizonte e eu aproveitava uns dias no Rio, com minha mulher. O Milton tinha outros compromissos e, assim, ele mesmo, o magro Gonzaga Jr., cantaria sua canção,¿ O Trem¿, e ganharia o primeiro lugar. ¿ Ei, e vai o trem num sobe serra, desce serra, nessa terra...¿

Sua existência foi uma longa caminhada no rumo da delicadeza, por mais que seu rosto e sua seriedade indicassem o contrário. O tempo passa muito depressa, mas nos vejo, cercados de companheiros, suando e correndo atrás de bola, todas as quartas, na Cachoeirinha. Depois, muita conversa sobre política e futebol, enquanto louras geladas desciam por nossas goelas sedentas. Ele está aqui em casa, horas e horas papeando, sentados que estamos em volta da pequena mesa onde minhas filhas faziam suas refeições.  

Foi chegando a Minas devagar e cautelosamente. Pegava meu chevette branco e embicava pelas terras mineiras, fazendo shows e conhecendo pessoas, ¿coisa mais maior de grande¿. Na volta, ficava em minha casa, sempre trazendo novidades, idéias e canções. Até conhecer a Lelete, se apaixonar, comprar uma casa e se mudar para nossa Belo Horizonte. Foram dez anos de mineiridade, lapidando sua personalidade e seu talento.

Naquela manhã, há dezoito anos, antes de pegar pela última vez no volante de um carro, ele escreveu bilhetes para os filhos e para a mulher. E deixou anotado em sua agenda que, no dia seguinte, haveria a festa de bodas de ouro de meus pais. Não houve tempo de ir ao correio: um caminhão baú atravessou em seu caminho, impedindo que ele chegasse ao próximo destino pretendido.

Nas novelas suas canções continuam emocionando as platéias, que pedem bis. Ele, Elis e Agostinho dos Santos foram as grandes perdas de minha vida de compositor. Ficou-me um vazio que preencho com a memória viva que guardo deles. E ainda bem que suas vozes  podem ser ouvidas e eu as ouço.

Mas este 29 de abril, outono temperado de céu azul, é dia de se lembrarde Luiz Gonzaga do Nascimento Jr., o nosso Gonzaguinha. E a vida? É bonita, é bonita e é bonita.  

FERNANDO BRANT.

fernandobrant@hotmail.com


 

 



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