RIO - Ele mal sabia armar um dó maior no braço do violão quando ainda criança zanzava de um lado para o outro na casa dos avós Salomão e Maricota Borges, entre violões no jardim e o grande piano da sala, tocados pelo pai e pelos 10 tios e tias nas usuais cantorias que por lá acontecem até hoje. Mais novo herdeiro da musical família que contabiliza os notáveis cantores, compositores e instrumentistas Lô, Márcio, Marilton e Telo, Rodrigo Borges está tirando Qualquer palavra do forno, que será lançado em agosto.
¿ Conviver nesse ambiente repleto de música foi um privilégio ¿ lembra o músico, de 34 anos. ¿ Além de ter crescido na barra do piano do meu pai (Marilton Borges), presenciei os processos de criação do Lô e do Marcinho (o letrista Márcio Borges). Muitas canções eram apresentadas em primeira mão para a família. O Lô faz isso até hoje.
Diferentemente do tio famoso, que estreou em vinil com apenas 17 anos no histórico álbum Clube da Esquina, o sobrinho lança tardiamente seu primeiro registro sonoro.
¿ Toco e componho profissionalmente há muito tempo, desde adolescente ¿ conta Rodrigo, que hoje divide a carreira na música com a direção artística da rádio Oi FM. ¿ Demorei para reunir minhas composições num álbum porque, diferente dos tempos da época do meu pai e do meu tio, acredito que isso não é mais condição para levar seu trabalho para o mundo. Além do disco, que é independente, vou disponibilizar as músicas num site.
Um som com Bituca
Como que repetindo espontaneamente a parceria dos amigos de infância Lô Borges e Beto Guedes, Rodrigo ensaiou um encontro musical da segunda geração do Clube da Esquina, na aproximação com Gabriel Guedes (filho do Beto).
¿ Fizemos diversos shows e composições juntos, mas cada um acabou seguindo seu trabalho individual. O Gabriel é bem voltado ao choro, e no momento está gravando um disco onde recupera as músicas do avô, Godofredo Guedes.
De agenda cheia, Lô Borges ainda não travou contato com o CD do sobrinho.
¿ Meu tio sempre foi super receptivo, e é uma grande referência como compositor. Estou doido para encontrá-lo e mostrar o disco, que tem muito de seu DNA.
Aval positivo já teve de Milton Nascimento.
¿ O Bituca é a minha maior referência, com quem tive a honra de dar uma canja. Era a turnê Crooner, um tributo aos músicos da noite. Ele homenageou meu pai, que tocou muito em bandas de baile. Inclusive, os dois tiveram um grupo juntos, o Evolussamba ¿ relata. ¿ De tarde, o Milton me chamou para tocar guitarra. Foi um medley do lendário Ed Lincoln, uma ocasião inesquecível. Outro dia fui à sua casa mostrar esse CD. Ele elogiou bastante e é um dos que mais me entusiasmam.
O pai também não mede incentivos. Marilton não está mais diretamente ligado à música, mas mantém o astral da casa de Salomão e Maricota no bar Marilton's, que abriu em Belo Horizonte, palco de diversas temporadas do filho e onde as jams varam a madrugada.
Leandro Souto Maior, Jornal do Brasil