O projeto tem curadoria da Dubas Música e lança semanalmente playlists imprevisíveis e plurais
Do Rio
Quem acompanha o Spotify da UBC já deve ter percebido que, desde o início do mês, estão sendo lançadas playlists semanais em homenagem a artistas renomados que participaram de edições da revista UBC. O projeto surgiu com o intuito de consagrar grandes nomes que estiveram presentes ao longo da ainda breve existência da revista. Mas o planejamento não se limita aos periódicos. Os Prêmios UBC também serão temas de playlists e a possibilidade de playlists extraordinárias também não é descartada. Para a criação das edições serem feitas com uma visão autoral e sensível dos artistas, a Dubas Música, sob responsabilidade dos produtores Ronaldo Bastos e Leonel Pereda, assumiu a curadoria.
O diretor executivo da UBC, Marcelo Castello Branco, conta que não teve dúvidas quanto a escolha da Dubas Música para somar no projeto:
“Quando pensamos em um projeto de Playlists da UBC, os primeiros nomes que nos vieram à cabeça foram os de Ronaldo Bastos e Leonel Pereda. As compilações da Dubas ainda na era analógica eram obras de arte em si, do projeto gráfico a cada faixa escolhida por uma razão meticulosa qualquer, que você ia descobrindo enquanto ouvia de forma quase demencial.”
O programa está sendo desenvolvido com muito capricho e dedicação para chegar até os ouvintes. “É um projeto que vai tomar forma com o tempo, que tudo muda e inunda. Nosso objetivo é retratar a diversidade e riqueza da música brasileira e seu mosaico autoral ilimitado”, revela Marcelo.
As playlists retratam musicais dinâmicos, plurais e não têm a pretensão de repetir o óbvio já tão predominante e previsível dos algoritmos.
CURADORIA VERSUS ALGORITMO
Por Ronaldo Bastos
Seleções de músicas feitas para o público existem desde sempre: antologias em discos de vinil, fitas k7, CDs, playlists oficiais. Muitas vezes são feitas exclusivamente para reunir sucessos, em outras oportunidades pretendem jogar luz em fases ou produções mais obscuras do artista ou estilo em questão, e outras vezes procuram reunir todas as nuances num mesmo universo sonoro. Eu comecei a fazer compilações temáticas no final dos anos 90 - paralelamente ao meu trabalho como compositor e produtor - e mergulhei mais profundamente nessa atividade na década de 2000, quando me associei ao pesquisador e produtor Leonel Pereda.
Naquele tempo, ter acesso à discografia de todos os artistas ou gêneros que se quisesse revisitar representava ter força de vontade para achar o máximo de informação e material possível, além de contar com os recursos necessários para adquirir discos. Hoje temos acesso a discografias inteiras e podemos fazer nossos próprios recortes a qualquer hora. Podemos ficar com nossas playlists para audições particulares ou deixá-las públicas e até mesmo divulgá-las nas nossas redes, o que eu considero saudável.
Temos também a função dos robôs das plataformas de streaming. Na minha experiência, eles não têm sido tão competentes nas 'sugestões da semana', mas têm acertado bastante nas 'rádios' que podem ser criadas a partir de uma determinada música. Mesmo assim, eu observo que muitos padrões e músicas se repetem com frequência e às vezes tudo fica previsível demais. Seja como for, se todos os detentores de direitos estiverem recebendo o que lhes corresponde, só temos a comemorar esses movimentos.
Mas eu quero falar de curadoria, pois mergulhar no repertório de compositores ou artistas não é tarefa simples. E é preciso entender as músicas para além de contagens de reproduções ou visualizações isoladas. Como compositor, eu dou muito valor a quem se interessa por canções minhas que passam desapercebidas. Muitas delas eu considero até melhores que alguns dos meus grandes sucessos. Acredito que isso também aconteça com meus colegas. Fico feliz quando algum intérprete pesca alguma coisa perdida em discos do passado ou quando essas músicas entram em novas playlists. Isso, o algoritmo não faz...
Por isso, eu fiquei feliz com o convite da UBC para reeditar minha parceria com Leonel Pereda, estreando em grande estilo no perfil da UBC no Spotify com um recorte da obra de um artista fundamental para nossa cultura: "Alceu Valença - de 2001 a 2021" é a primeira playlist a ficar disponível, acompanhando o lançamento do número 48 da Revista UBC. Em 20 músicas apresentamos a vocês nosso olhar para a brilhante discografia que Alceu produziu nesse período. Na semana seguinte ao lançamento da Revista UBC #48, começamos a disponibilizar semanalmente as playlists correspondentes a cada número da revista, começando pela #1. Sigam o perfil e espalhem à vontade. A música agradece.