Em livro recém-lançado, o jornalista Leo Feijó traz números exclusivos sobre a desigualdade de gênero e raça na indústria musical brasileira
Do Rio
Em um país onde mais de 56% da população é negra, segundo dados oficiais do governo (IBGE, 2019), a desigualdade se mostra, ainda, preocupante. Realizada em 2021, a pesquisa para o recém-lançado livro “Diversidade na Indústria da Música no Brasil: um olhar sobre a diversidade étnica e de gênero nas empresas da música”, do jornalista Leo Feijó reforça esse fato. Os dados indicam que, na maioria das organizações analisadas (62,5% empresas), menos de 5% dos cargos executivos são ocupados por pessoas negras. Além disso, em mais de 46% das organizações da música brasileira, a presença de negros é de 0% a 15% em relação ao total de empregados. Já no que diz respeito aos cargos no quadro total de funcionários, apenas 26,5% são negros.
A pesquisa analisa as desigualdades raciais e de gênero, principalmente dentro da indústria fonográfica, como gravadoras, distribuidoras, editoras e agências. Os resultados foram obtidos a partir de métodos quantitativos, por meio de formulários, e qualitativos, a partir de entrevistas com dez profissionais do mercado. Com números exclusivos, o também empreendedor e pesquisador da economia da música comprova que o setor musical brasileiro possui, sim, gênero e cor. Mas ele não se limita somente a realidade do Brasil. O jornalista soma os seus estudos aos de outros pesquisadores, como o relatório da USC Annenberg, que mostra que as posições de liderança nos EUA ainda favorecem esmagadoramente os homens brancos (apenas 13,9% dos executivos pertenciam a grupos raciais sub-representados, 4,2% eram negros; as mulheres configuram 13,9% dessas funções). De volta aos números do Brasil, de acordo com o Ecad, entre os 100 compositores com maior receita, há apenas duas mulheres.
Imagem: Reprodução capa do livro do Leo Feijó
Para Leo, além de um compromisso, debater sobre desigualdades é um passo importante para refletir sobre a necessidade de mudança no setor musical:
“Eu venho de uma posição de privilégio por ser um homem branco com acesso a escolas privadas. As oportunidades não são iguais na vida e nem na música, e penso que devemos agir para que as transformações aconteçam de forma mais rápida, com diretrizes mais ousadas nas organizações do setor.”
Em entrevista exclusiva para a pesquisa, Ed Harsh, um dos fundadores e CEO da New Music USA, afirmou que, quando se trata de representatividade negra, a música clássica se destaca:
“A mudança é frustrantemente lenta. Minha impressão é que no campo da música clássica temos sido um pouco mais bem-sucedidos em elevar artistas negros do que na área técnica ou de suporte”
Artistas & Repertório e Tendências na Indústria da Música
Além de jornalista, escritor, empreendedor e pesquisador sobre economia criativa, Leo Feijó também é coordenador e fundador da Escola Música & Negócios. Na última semana, a Casa UBC recebeu a palestra da instituição com o tema "Artistas & Repertório e Tendências na Indústria da Música”. O debate contou com a participação do presidente da Sony Music Brasil, Paulo Junqueiro, do Gerente de A&R da UBC, Chico Ribeiro, e do CEO da UBC, Marcelo Castello Branco. No bate-papo, Paulo destacou que não existe fórmula para viralizar uma música:
“Trabalhar pra viralizar é uma loucura, porque você não prepara uma ‘coisa’ para viralizar. O público é quem manda, é 100% orgânico. Não adianta campanha de marketing, não adianta impulsionamento, não adianta mídia comprada. Só vai viralizar porque o público quer que viralize.”
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