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Ações do streaming 'ladeira abaixo'. O que está acontecendo?
Publicado em 13/07/2022

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Analistas falam sobre a crise no modelo de negócio e preveem afunilamento do mercado

De Madri

Faz uma semana que a Deezer realizou sua oferta pública inicial na Bolsa de Paris. Na véspera de a plataforma francesa — muito popular no Brasil — se tornar uma empresa aberta, cada ação valia € 8,6. No dia da estreia, o preço já havia sido ajustado para € 6. Ontem, 12 de julho, fechou a € 4,72, 41% menos que a cifra inicial. Não é um caso isolado. Spotify (tombo de 73% em relação ao pico de valorização, em fevereiro de 2021) e Tidal (redução de 78% no valor da sua controladora, Block, Inc., também em comparação com seu auge, em 2021) exemplificam uma crise de confiança do mercado que, em maior ou menor grau, vem afetando as plataformas de streaming como um todo. O que está acontecendo, afinal?

O analista de mercado espanhol Ramón Bermejo confirma que a desconfiança em relação aos grandes serviços de streaming — não só musicais, e o derretimento de 73% das ações da Netflix desde o ápice de valorização, em novembro de 2021, o comprova — é geral.

"Estão ladeira abaixo e sem freio. O problema de base é a dificuldade de aumentar o volume de novas assinaturas, depois da bonança da pandemia, quando todas cresceram muitíssimo. Netflix anunciou, no primeiro trimestre, uma perda importante de pagantes. Os custos que todas têm são muitos altos, e a capacidade de honrá-los está sob intensa dúvida por parte dos investidores no mundo todo", disse. 

No caso do Spotify, como mostramos há alguns dias aqui no site, até houve crescimento na base de assinantes premium no primeiro trimestre de 2022: 2 milhões se somaram, totalizando 182 milhões. Mas Wall Street esperava mais, e as previsões rondavam os 184 milhões, segundo a Bloomberg. Em parte, a saída do Spotify do mercado russo, como sanção pela invasão do país à Ucrânia, contribuiu para o "mau" resultado, já que, só por lá, a principal plataforma musical do mundo perdeu 1,5 milhão de assinantes premium de uma vez. 

Num evento para investidores há algumas semanas, Daniel Ek, fundador e diretor-executivo do Spotify, tentou tranquilizá-los: 

"Atenção, não somos a Netflix. Eu já disse antes, mas repetirei: ambas somos empresas de conteúdos baseadas em assinaturas, mas é só até aí que vão as semelhanças. Nossa capacidade de continuar a crescer é sólida, nosso modelo é sólido", reiterou. 

O mercado, porém, parece cada vez mais cético. E não ajuda muito a crise de imagem provocada pelo caso do famoso podcast liderado pelo americano Joe Rogan, que difundiu informações falsas sobre a pandemia de Covid-19, levando artistas como Neil Young a ameaçarem retirar seu catálogo da plataforma sueca. 

"Os problemas de imagem ajudam a aumentar o mau humor dos investidores, sem dúvida. Mas o principal é que, depois das cifras exuberantes durante o período mais duro da pandemia, agora as plataformas parecem ter perdido o caminho do crescimento. As pessoas estão fazendo mais coisas fora de casa, muitas estão cancelando suas assinaturas", afirmou o analista Michael Nathanson à Bloomberg. "A inflação mundial tampouco ajuda. Com menos receitas e custos mais altos, as plataformas verão um afunilamento do mercado nos próximos tempos."

A concorrência entre tantos serviços diferentes de streaming, de fato, é cada vez mais acirrada. Alguns poderão ficar pelo caminho, sobretudo os que não têm o colchão de uma holding poderosa por trás. Não é o caso de duas das principais plataformas de streaming musical atualmente, Amazon Music e Apple Music. Nenhuma delas tem suas ações negociadas separadamente em bolsa, integrando, respectivamente, as todo-poderosas Amazon.com Inc. e Apple Inc. 

A fabricante do iPhone vive um período de relativa estabilidade no valor das suas ações. Seu valor de mercado de US$ 2,2 trilhões (US$ 600 bilhões mais que todo o PIB do Brasil em 2021) dá a cada uma das suas divisões — Apple Music entre elas — uma segurança de que não gozam as plataformas de streaming musical que operam independentemente.

O mesmo ocorre com a Amazon. Impactada pela redução drástica nos pedidos de entregas em casa, com a reabertura pós-pandêmica, a gigante americana do varejo online viu suas ações caírem 46% em relação a julho de 2021. Mas, como ocorre com a Apple, o seu valor de mercado de US$ 1,116 trilhão de dólares (ou coisa de 70% do PIB do Brasil), além da enorme diversidade de produtos e serviços oferecidos pela empresa, são garantia de grande competitividade para a Amazon Music em tempos difíceis. 

O mesmo não se pode dizer da Tidal, por exemplo. A plataforma de streaming fundada pelo superastro da música Jay-Z em 2014, e vendida em 2021 à Block, Inc., uma empresa de investimentos digitais de San Francisco, vem acumulando prejuízos seguidos na bolsa de Nova York, com queda de 56% no valor de mercado da holding só no último semestre. O momento é mesmo de investidores bastante ariscos e temerosos de que as plataformas musicais, ao ter que pagar altas somas em direitos autorais a gravadoras, sobretudo, mas também a editores e outros titulares, não consigam fechar suas contas.

“2022 é o ano que inaugura a volatilidade no mercado de streaming. Nada é uma solução absoluta e definitiva. Há uma competição brutal do mercado pelo tempo do consumidor, uma selva de conteúdos de diferentes e atrativas origens e uma overdose de oferta sem filtro e sem precedentes", avaliou Marcelo Castello Branco, diretor-executivo da UBC, que previu a necessidade de uma reinveção do modelo de negócio do streaming para seguir atraindo a atenção (e o dinheiro, claro) das pessoas: 

"Depois de um período de êxtase infantil e adolescente sobre como desfrutar de tudo isso, chega a incerteza de uma maturidade e de um futuro que requer novas respostas e caminhos. A velocidade frenética de opções precisa ser acompanhada e repensada para atrair novos consumidores dispostos a entregar seu tempo e dinheiro com consciência, e para seguirmos crescendo e oferecendo novas alternativas."

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