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Carteira digital de Nando Reis surpreende, um mês após lançamento
Publicado em 25/07/2022

Mercado observa com atenção experiência de negociações com fãs baseada em blockchain; entenda

De Madri 

Foto: divulgação

Um mês depois do lançamento da Nando Reis Wallet, uma carteira digital de experiências para os fãs baseada na tecnologia blockchain, o artista e a Relicário Produções, empresa que o assessorou nesse projeto, estão surpresos com a resposta "muito acima do planejado". A arquitetura blockchain permite uma completa traçabilidade das ações executadas dentro dela, e, no caso da carteira de Nando, as interações entre fãs e artistas — como curtidas a posts dele nas redes ou a suas músicas no Spotify, por exemplo — geram tokens, códigos acumuláveis que foram batizados de "nandos" e podem ser trocados por ingressos para shows, lançamentos exclusivos e outras várias experiências. Mais de 700 mil deles já foram gerados nesse período. 

Além disso, foram vendidos 200 NFTs — certificados digitais colecionáveis e exclusivos de imagens 3D ligadas à obra do músico —, e mais de mil já são os "superfãs" inscritos e altamente atuantes nessas negociações. Dentro do pack que pôs o nome de Nando entre os tópicos do momento do mundo musical está também o relançamento do álbum “Para Quando o Arco-Íris Encontrar o Pote de Ouro” (2000), com edição comemorativa em vinil remixada pelo produtor musical Jack Endino.

A experiência do cantor e compositor vem sendo observada com atenção pelo mercado, que espera que a tecnologia blockchain transforme por completo não só a relação entre os artistas e quem os segue, mas também os negócios do universo musical — incluindo, potencialmente, a cobrança de direitos autorais, as autorizações de usos de música e outras transações que exigem a alta confiabilidade propiciada por essa arquitetura digital.

"O Nando Reis é um artista com uma grande narrativa. Sua história se reflete em suas músicas. Muitos de seus fãs estão dispostos a adquirir conteúdo exclusivo e autêntico. Com a Nando Reis Wallet, os fãs poderão ter acesso a esse universo. (Em termos de experiências oferecidas), o céu é o limite", disseram Diogo Damascena e Marcelo Rodrigues, diretores na Relicário Produções, que citam entre os potenciais NFTs a serem oferecidos músicas inteiras de Nando e experiências ligadas a elas. 

Tudo isso pode vir a ser comercializado entre os próprios fãs nos market places, plataformas online onde já são realizadas, todos os dias, milhares de negociações de certificados digitais mundialmente, e que tendem a se popularizar nos próximos anos.

Damascena e Rodrigues contaram que precisaram aprender tudo sobre a potencialidade do blockchain — assim como Nando — antes do projeto. E mencionaram ter tido em conta as preocupações ambientais com a crescente quantidade de energia gasta mundialmente para gerar os NFTs e analisar o imenso volume de dados das transações, um tema que vem sendo cada vez mais debatido. "Não estávamos familiarizados com o mundo da criptoeconomia, blockchain e NFTs, e, por existirem questões sérias, que envolvem situações técnicas e ambientais, fomos atrás de parceiros estratégicos, como o Renato Varella e o time da Abrakazum, que nos ajudaram a tornar esse projeto possível."

As experiências oferecidas pela carteira, segundo eles, têm como filosofia prolongar o contato mais estreito entre Nando e os fãs, antes praticamente restrito só aos shows. Os tokens acumuláveis poderão permitir aos seus proprietários, por exemplo, participar de encontros — virtuais ou presenciais — com ele. "A 'Nando Reis Wallet' é o centro de um ecossistema onde iremos amplificar a experiência do artista com os fãs, e essa jornada será original, autêntica e exclusiva. Existirão vários lançamentos em diversos formatos", afirmaram os executivos. 

Para além dos questionamentos que vêm sendo feitos no mercado musical sobre o potencial de longo prazo dos NFTs — afinal, o que garante que esses certificados terão valor futuro e que haverá quem queira recomprá-los para manter a roda dos market places sempre girando? —, não há dúvida de que a tecnologia que é a espinha dorsal de tudo, o blockchain, veio para ficar. 

Luciana Pegorer, fundadora e codiretora da plataforma brasileira de soluções musicais em blockchain Kickoff Music — e também fundadora e curadora da conferência Trends Brasil —, comparou a revolução futura do blockchain ao modelo principal que temos hoje no mercado da música, o streaming:

"O streaming, que ajudou o mercado da música num momento difícil, é um modelo de massificação que só funciona para quem tem repertório de massa. Para quem não tem, não há remuneração satisfatória ou suficiente. O pessoal da MPB, jazz, clássico… esses gêneros sumiram. Você não tem um produto para trocar, a não ser shows, concertos. O blockchain vem para fornecer uma nova forma de criação de produtos e experiências, permitindo aos artistas de fora do mainstream gerar renda."

Por enquanto, fala-se muito em potencialidade justamente porque ainda não temos um modo altamente difundido para usufruir dessas experiências. Ele virá, como descreve Pegorer, quando for implantada a chamada web 3, o novo padrão de internet que ganhará força com a expansão do 5G. "A web 1, a primeira, eram os clássicos sites estáticos da internet dos anos 1990. A web 2 é o que a gente vive hoje: redes sociais, internet interativa. A web 3 será imersiva. E descentralizada. É muito favorável para a música e a certificação de blockchain: dá para certificar arquivos digitais, garantindo a traçabilidade das negociações que forem feitas com eles; dá para criar experiências para os fãs, mesmo no ambiente físico, seja através de realidade aumentada ou tirando a pessoa de casa e levando-a para perto do artista. A pessoa compra um NFT, e aquilo dá acesso a uma entrada para uma experiência exclusiva, rara, única."

Foi assim, por exemplo, com a bem-sucedida venda dos ingressos para o "pré-show" da última turnê de Milton Nascimento, recentemente, no Rio de Janeiro. Foram vendidos 400 NFTs que davam aos seus proprietários o direito de ver o concerto exclusivo presencialmente. Mas, agora que o evento já passou, esses NFTs podem ser revendidos pelos seus donos nos market places a, por exemplo, outros fãs de Milton que queiram ter certificados exclusivos sobre esse momento tão especial da carreira do artista: 

"Como tudo é traçável no blockchain, o próprio Milton poderá ganhar um percentual sobre a diferença de valor que a revenda trouxer, coisa que não acontece atualmente. É um ganho enorme para o artista: com o blockchain, tudo o que for feito sobre a sua obra é verificável, mensurável."

Para a especialista, a possibilidade de o artista monetizar melhor sobre seus lançamentos e experiências exclusivas tende a tornar esses conteúdos cada vez mais especiais.

"Atualmente, no modelo streaming, se um artista gasta para produzir um show no Central Park (em Nova York) e masterizar no (lendário estúdio londrino) Abbey Road, vai colocar aquilo na plataforma e ganhar o mesmo por stream que um outro que fez seu disco indie no quarto de casa. O blockchain permite agregar valor, vender produtos exclusivos ligados a esse show, NFTs, experiências com os fãs... Isso tende a se refletir em experiências mais trabalhadas, vai valer a pena investir. Já não depende de ter 10 milhões de seguidores para ganhar na quantidade. Mesmo poucos - mas bons - fãs poderão garantir melhor renda aos artistas. O streaming foi uma evolução importante do rádio. Mas chegou a hora da revolução de verdade para a distribuição de música", ela finalizou.

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