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SoundCloud despede 20% dos empregados; TikTok começa a demitir
Publicado em 04/08/2022

Como todo o setor tech, empresas de música digital mandam centenas embora; entenda

Por Alessandro Soler, de Madri

Este verão quente do Hemisfério Norte está acumulando milhares de demissões no setor tech — e a música digital não tem escapado. A perspectiva de uma recessão muito próxima, uma guerra da Ucrânia bastante mais duradoura do que os mercados poderiam esperar e as perdas (ou baixo crescimento no número) de assinantes em várias plataformas por razões variadas têm levado a cortes maciços. A crise afeta empresas tão distintas como o serviço de streaming musical SoundCloud, o serviço de streaming de vídeos Netflix, a fabricante de automóveis tech Tesla e a plataforma de operações com criptomoedas Coinbase, entre várias outras. 

Só nos EUA, já são 32 mil os novos desempregados do setor tech desde o início das demissões, há coisa de um trimestre, segundo dados da plataforma de informações sobre o mercado Crunchbase. 

Nesta quarta-feira (3), o diretor-executivo global do SoundCloud, Michael Weissmann, explicou a demissão em massa na empresa de origem alemã num post no LinkedIn. O número exato de demitidos não foi revelado, mas ele afirmou que abarcará 20% do total de empregados da empresa. Em 2017, a empresa já havia realizado um corte de 173 pessoas, na época 40% da força de trabalho. Agora, as demissões ocorrem em meio a números econômicos agridoces recentemente revelados pelo SoundCloud. É que, apesar do crescimento de 31% nas receitas este ano (para € 193,5 milhões), a plataforma continua a ter um prejuízo líquido (embora 31% menor que o de 2021) que totaliza € 15,4 milhões. 

"(A demissão em massa) é uma medida necessária para garantir o sucesso de longo prazo do SoundCloud, dado o complicado clima econômico e os ventos que sopram no mercado financeiro", escreveu no post de ontem o CEO da primeira plataforma de streaming musical a alcançar, há alguns dias, um acordo com uma grande gravadora (Warner) para passar a remunerar os titulares de direitos autorais através do modelo user-centric, no qual as audições de cada assinante são levadas em conta na hora de calcular quem recebe o quê. O modelo é considerado por alguns mais justo que a atual divisão do bolo entre todos os artistas pelo modelo market-centric, método que tende a beneficiar os mais famosos e mais ouvidos.

Os ventos aos quais Weissmann se refere, segundo analistas, se traduzem basicamente em desconfiança dos investidores, que têm diminuído suas posições na maioria das empresas do setor tech. Como mostramos há alguns dias aqui no site da UBC, Deezer (queda de 41% no preço dos recém-lançados papéis em bolsa), Spotify (tombo de 73% no valor de mercado em relação ao auge, em 2021) e Tidal (declínio de nada menos que 78% no valor da sua controladora em poucos meses) são só algumas das empresas de música digital que vêm enfrentando dificuldades para convencer o mercado da solidez do seu negócio.

A Netflix, cujos investimentos bilionários em produções exclusivas de filmes e séries não têm se traduzido em crescimentos sustentáveis na base de assinantes — em grande parte devido à crise e à retomada da vida lá fora pós-pandemia —, é uma das mais castigadas. Depois de anunciar que havia perdido "apenas" 1 milhão de assinantes mundialmente no segundo trimestre, contra a previsão de 2 milhões, houve uma tímida recuperação no valor dos papéis há cerca de duas semanas. Mesmo assim, em um ano, a desvalorização é de 56,17%, segundo dados apurados pela UBC nesta quarta-feira (4). Por isso, em duas rodadas diferentes de demissões, a gigante do streaming de vídeo já mandou para casa 450 pessoas em vários países onde atua, desde maio. 

Num comunicado recente no Twitter, o multibilionário Elon Musk, dono da Tesla, a fabricante de carros de alta tecnologia, disse que deverá se desfazer de 10% da sua força de trabalho. O PayPal, gigante das transações financeiras online, já está demitindo 80 funcionários da sua sede na Califórnia, nos Estados Unidos. O Google e a Amazon congelaram novas contratações, assim como a Meta, holding que administra o Facebook e o Instagram. Segundo analistas ouvidos pelo site Cybernews.com, a companhia criada por Mark Zuckerberg poderá começar a demitir em breve. 

E até o bem-sucedido TikTok entra na dança (com trocadilho) das demissões. 

Há alguns dias, a revista Wired reportou que funcionários da ByteDance, controladora da plataforma de origem chinesa, já começaram a receber avisos de demissão no Reino Unido e outros países da Europa. Trabalhadores nos EUA também estariam na mira. Duas semanas atrás, o ex-diretor de monetização do TikTok David Ortiz, baseado em Nova York, anunciou sua própria demissão no Linkedin:

"Enquanto o TikTok/ByteDance começa a demitir, acabo de saber que o meu cargo foi extinto, num esforço maior de reestruturação", ele escreveu.

O escopo total dos cortes não foi revelado.

Rick Chen, diretor de Recursos Humanos da Blind, uma plataforma global onde empregados de grandes empresas se comunicam anonimamente, tornando-a fonte de informação privilegiada sobre os vaivéns do mundo das contratações e demissões, foi taxativo em entrevista à CNBC:

"Ainda há empresas contratando, mas a maioria congelou as novas aquisições de talentos ou já começou a enxugar. Só 9% dos trabalhadores do setor tech ouvidos numa pesquisa que fizemos se mostrou confiante sobre a manutenção dos seus postos de trabalho. Em março, eram 80%. O clima mudou muito, sem dúvida."

O que o mercado ainda não sabe é quanto tempo durarão as nuvens carregadas sobre o setor.

 

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