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5 dicas para fazer música infantil (e ter sucesso com ela)
Publicado em 12/10/2022

Neste Dia das Crianças, associados que brilham entre os pequenos compartilham experiências

Por Ricardo Silva, de São Paulo

Sandra Peres e Paulo Tati, a dupla por trás do Palavra Cantada. Divulgação

Fazer música para crianças é arte nobre. Como tal, deve ter o mesmo nível de comprometimento e dedicação exigidos por qualquer outro projeto. Mas isso não significa que não haja certas fórmulas de sucesso já testadas e aprovadas por quem entende do assunto. Neste Dia das Crianças, trazemos os conhecimentos de quatro associados que brilham ao entreter, educar e encantar os pequenos com seus vídeos musicais, discos e shows ao vivo.

Eles ensinam em 5 dicas como se aventurar bem, e com solidez, num universo de popularidade garantida — como, aliás, comprova a presença de canções infantis, com destaque para o "Parabéns da Xuxa" (Michael Sullivan/Miguel/Paulo Massadas), no top 50 das mais executadas compilado pelo Ecad, e que reúne não só as casas de festas para crianças, mas também as boates para adultos. 

 

1 - Abrace todos os gêneros e temas - mas prefira canções que façam os pequenos se mexerem

Não se feche a gêneros e temas específicos. Curiosas por natureza, as crianças são capazes de se aproximar de literalmente qualquer estética em seu processo de descoberta do mundo ao redor. "Buscamos explorar ritmos diferentes, culturas diferentes, falar de temas que abordam todo tipo de diversidade. Por isso fazemos parcerias com artistas tão variados, do rap (Emicida), da MPB (Alceu Valença, Milton Nascimento, Caetano Veloso), do axé (Ivete Sangalo), do rock (Pitty)... Não pode haver restrição", disse à UBC Chaps Melo, do Mundo Bita.

Ao analisar a experiência do bem-sucedido Palavra Cantada (quase 2 bilhões de visualizações no YouTube, além de shows por todo o país), Paulo Tatit, um dos membros do projeto ao lado de Sandra Peres, matizou que, embora qualquer gênero ou ritmo valham, alguns chamam menos a atenção dos pequeninos. "Eu acho que não funcionam (tão bem) jazz, bossa nova ou qualquer gênero cuja harmonia seja mais sofisticada. A criança desde muito cedo sente o ritmo no corpo, e a melodia por meio da emoção. Já a harmonia vem com o tempo, quando já se é adolescente. Sei que alguém pode conhecer uma criança de 4 que adora 'O Pato', mas estou me referindo somente a 99% das crianças", ele brincou. 

"A música deve ter uma gama de sons que provoquem impulso físico, que façam a criança querer dançar", completou Sandra. "Aposte na percussão brasileira: é uma gama enorme de possibilidades e representação rítmica. Colocamos bumba meu boi numa música, combo mineiro em outra, maracatu numa terceira... E sempre dá certo. Esses gêneros funcionam demais."

VEJA MAIS: O canal do Bita no YouTube

Chaps abraçado a um boneco do Bita. Divulgação

2 - Explore todos os sentidos

Com mais de 30 anos de carreira, o cantor e compositor Luis Carlinhos se aventurou relativamente há pouco no mundo da composição para crianças. Em seu projeto Macatchula, explora todos os sentidos em shows de forte pegada circense. A partir disso, o artista disse que algo se abriu definitivamente em sua mente, mudando até mesmo sua forma de criar música para adultos.

"Crianças gostam de que as estimulemos a interagir, a explorar. Trago cor, elasticidade na estética, exploro o lúdico, o teatral, ponho vários objetos em cena e as convido a tocá-los", enumerou. "Descubro tanta coisa para o meu trabalho adulto quando faço o Macatchula... Percebo que ali posso ser eu mesmo, na minha potencialidade toda. O mundo adulto dá uma enjaulada, uma cerceada, a gente racionaliza muito. E a criança embarca nas ondas... É mágico. Quando faço show adulto, agora, levo a irreverência que as crianças compram sem pensar. Ela se reafirma como linguagem para mim."

VEJA MAIS: O clipe de "Centopeia Neném", de Macatchula

3 - Fale com as crianças de igual para igual

Não há melhor maneira de cativar uma criança do que tratá-la com carinho e respeito por sua inteligência. Luis Carlinhos aprendeu isso observando o próprio filho, Heleno, de 6 anos, que participa de alguns shows. "Criança não presta atenção a uma mesma coisa muito tempo. Eu até que consigo mantê-las ligadas ao show, mas fazer isso por 50 minutos seguidos não é fácil. Quando meu filho entra em cena, elas se identificam na hora. Ficam em silêncio, param para ouvi-lo. É impressionante."

Na ausência de um talento mirim para ajudar, Sandra Peres, do Palavra, tem uma boa dica: "A música deve ter proximidade. Tem que dobrar o joelho para cantar para eles. Não cante de cima para baixo, cante na altura dos olhos. A interpretação deve ser próxima e sensível."

VEJA MAIS: O canal do Palavra Cantada

Luis Carlinhos com o filho, Heleno, em cena. Divulgação

4 - Se jogue no mundo das imagens - mas deixe espaço para a imaginação

Na era da imagem, não apostar em clipes multicoloridos e numa linguagem de forte apelo na telinha do computador, do tablet ou do celular é não explorar a principal interface entre as crianças e os conteúdos que elas consomem. Chaps Melo, do Bita, cujo canal no YouTube superou recentemente 14 bilhões de visualizações, sabe bem disso. 

Os desenhos multicoloridos bem produzidos por sua equipe — com supervisão artística dele — se tornaram uma referência e ajudam a renovar o público da música brasileira ao transformar em animações de forte caráter lúdico os grandes artistas com os quais o Bita trabalha. "Todo o processo do Bita nasce com a música, mas logo ganha uma versão visual. A gente desenha o rascunho dos personagens, dos cenários, das situações. Se há um artista convidado envolvido, mandamos para ele aprovar. A animação é parte indissociável do nosso trabalho", explicou Chaps.

Luis Carlinhos faz isso em cena, contando histórias, encenando as canções que falam sobre coisas variadíssimas, de animais como a centopeia à poluição dos mares, passando pela duração da vida e o reaproveitamento das coisas. "São muitas as maneiras de cativar as crianças passando pela imagem, pela cor, pela textura. É um mercado muito horizontal: você tem o show ao vivo, tem canal no YouTube, pode-se fazer uma série para a TV a partir do teu trabalho musical... Estou escrevendo um projeto com a roteirista Flávia Lins, agora mesmo, chamado 'Os Macatchulas'. A gama de possibilidades é enorme."

Sandra lembrou, no entanto, que, mesmo com o domínio avassalador do audiovisual (e das imagens em geral), é vital deixar espaço para a criança construir seus próprios mundos a partir do que ouvem: "Nós, do Palavra, recomendamos começar a introduzir as telas a partir dos 2 anos. Um exercício muito bom é deixar a criança imaginar, construir mentalmente a história que está só ouvindo através da música. Convidá-la a explicar o que imaginou depois de ouvir uma letra... Desperta a curiosidade e lhe permite criar junto."

Emicida, convidado especial do Bita, caracterizado como desenho animado. Divulgação

5 - Componha para os pequenos se divertindo... mas não leve na brincadeira

Leve a sério o trabalho. Seu público, embora imaturo, não é menos exigente. "Componha as canções e produza-as como gente grande. Não faça por menos porque vai para as crianças. Faça canções para você chapar os pais e professores delas", recomendou Paulo Tatit. 

"A gente ouvia 'Arca de Noé' (projeto audiovisual baseado no livro homônimo de Vinicius de Moraes), Alceu Valença, Moraes Moraes e Raul Seixas fazendo música para criança... Esse naipe de artistas! Eu procuro estar nesse lugar: não subestimar a inteligência da criança, oferecer performance de verdade, que as tire das telas e traga para a praça", analisou Luis Carlinhos. "Seja sofisticado, traga mensagens nas entrelinhas, mas deixe espaço vazio para elas projetarem e interpretarem. Criança é muito simples, mas também esteja preparado: elas são muito diretas ao criticar."

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