Filho do maestro Tom Jobim e associado da UBC, ele lutava havia dez anos contra um câncer de bexiga
Do Rio
Foto: reprodução YouTube
Morreu na tarde desta sexta-feira (4), aos 72 anos, no Rio de Janeiro, o músico Paulo Jobim. Filho do maestro Tom Jobim, ele lutava havia dez anos contra um câncer na bexiga, segundo informação do colunista do jornal O Globo Ancelmo Gois confirmada pela família. O artista figura como compositor ou versionista em mais de 30 canções no cadastro da UBC, à qual era filiado há vários anos. Compôs músicas ao lado de grandes nomes do cancioneiro popular brasileiro, como o próprio pai, além de Ronaldo Bastos e Danilo Caymmi.
Nascido em 4 de agosto de 1950, Paulo se viu envolto em música desde muito pequeno. Estudou piano e aprendeu a tocar flauta e outros instrumentos ainda garoto. Sem poder frequentar as boates em que Tom, Vinicius de Moraes, João Gilberto e outros forjavam a bossa nova, ele se contentava em ficar vendo-os ensaiar e criar juntos, em encontros no apartamento de Tom, em Ipanema, quando tinha seus 13 ou 14 anos.
"Eu me aproximava e ficava ouvindo quieto, para não perturbar", descreveu, há alguns anos, em entrevista ao portal Coisas da Música. "E isso fica. Quando eu fui fazer o cancioneiro do meu pai, tinha música que eu não lembrava mais, de jeito nenhum. Aí eu pegava uma gravação, começava a tirar a harmonia, e daqui a pouco parecia que aquilo vinha. Provavelmente, eu já tinha ouvido. Então, vinham os acordes, de lembrança de moleque, bem pequenininho mesmo."
Mesmo embebido desse ambiente de sons, ele decidiu abraçar outra arte quando chegou a hora de fazer faculdade. Escolheu a arquitetura e o urbanismo. Mesmo formado e muito atuante na área, teve incursões na música ao longo de toda a sua vida.
Atuou como músico e arranjador em discos de Milton Nascimento, Tom Jobim, Chico Buarque, Sarah Vaughan, Astrud Gilberto e Lisa Ono, além de ter acompanhado Milton, Astrud, Tom e Lisa em turnês no Brasil, na Europa, nos Estados Unidos e no Japão, segundo o Dicionário Cravo Alvim.
De 1985 até a morte do pai, em 1994, fez parte da banda que acompanhou Tom em diversas turnês e participou da gravação dos discos “Passarim”, “O tempo e o Vento”, “Família Jobim”, “Antonio Brasileiro” e “Tom Jobim: Inédito”. Em 1995, fundou, ao lado do filho, Daniel Jobim, e de Jaques Morelenbaum e Paula Morelenbaum, o Quarteto Jobim Morelenbaum. Era presidente do Instituto Tom Jobim, fundado em 2001 e dedicado a preservar a memória e o legado artístico, social e ambiental do pai.
Como arquiteto e urbanista, aliás, também teve envolvimento direto em projetos ambientalmente sustentáveis.
"Fiz planos ligados à ecologia na Chapada dos Guimarães [Plano Diretor para o Turismo, 1978], com Maria Elisa Costa, e com Lúcio Costa como consultor. Em São Luís do Maranhão, (participei de) projeto do Lúcio [Novo Pólo Urbano de São Luís, em 1979], também tentando proteger a cidade, e também do Horto Botânico de Ouro Preto", descreveu em entrevista ao site da ONG ambiental WWF Brasil há exata uma década.
Desde os anos 70, participou de inúmeras trilhas sonoras para a TV e o cinema, contribuindo para o crescimento da produção de música para o audiovisual, hoje um filão dos mais lucrativos para compositores. Esteve envolvido, como músico, compositor e arranjador, em várias delas, como “Gabriela”, “Man at Play”, “Brasa Adormecida”, "O Tempo e o Vento" e “Anos Dourados” (Rede Globo), “Fonte da Saudade”, “A Menina do Lado”, “Monkeys on the Edge” (PBS Television, o canal público dos EUA) e vários especiais da EPT, afiliada da TV Globo em Campinas e Ribeirão Preto (SP).
“Um grande músico, um excelente pai, um irmão maravilhoso e que nos deixou muito cedo. Era uma pessoa muito especial, generosa, idealista”, disse a irmã de Paulo, Elizabeth, ao portal G1. "Ele estava internado havia cerca de um mês, mas estava bem. Estava sendo bem cuidado. Entretanto, infelizmente ele partiu hoje."
Paulo Jobim deixa mulher e três filhos. Ainda não há informações sobre o lugar e o horário do sepultamento.
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