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Morre no Rio, aos 94 anos, o maestro e compositor Edino Krieger
Publicado em 07/12/2022

Um dos mais importantes da música clássica no Brasil, ele compôs 175 obras e contribuiu de formas diversas para a cultura

Do Rio*

Foto de Neném Krieger

O compositor, produtor, maestro e crítico musical Edino Krieger morreu nesta terça-feira (6), aos 94 anos. Ele estava internado desde o mês passado na Casa de Saúde São José, na Zona Sul do Rio de Janeiro. O velório ocorre nesta quarta-feira (7), na Sala Cecília Meireles, na região central do Rio. 

Um dos maiores nomes da música clássica no nosso país, ele deixa um legado vasto e abrangente, com 175 obras para orquestra sinfônica e de câmara registradas na UBC, uma constelação de prêmios, a passagem como imortal pela Academia Brasileira de Música e décadas de contribuições variadas à arte nacional. Não menos importante: transmitiu aos filhos, Edu Krieger, compositor, músico e cantor; Fabiano Krieger, guitarrista e compositor; e Fernando Krieger, pesquisador musical, a tradição da família, herdada do pai, Aldo Krieger, também músico, compositor e regente — e com quem teve as primeiras lições de violino em sua Brusque (SC) natal. 

Aos 15 anos, Edino se mudou para o Rio de Janeiro, para prosseguir sua formação no Conservatório Brasileiro de Música, onde estudou com H. J. Koellreutter, graças a uma bolsa oferecida pelo então governador catarinense (e mais tarde presidente do Brasil por dois meses) Nereu Ramos. Aos 17 anos, recebeu seu primeiro prêmio como compositor. Aos 20, foi selecionado como bolsista do Departamento de Estado dos Estados Unidos, após indicação de Koellreutter. 

Com mais de 70 anos de carreira, foi considerado, junto a Guerra-Peixe e Cláudio Santoro, com quem integrou o Grupo Música Viva, um dos principais nomes da vanguarda da música de concerto no Brasil. Também foi diretor da Rádio MEC e crítico musical do Jornal do Brasil e da Tribuna da Imprensa, da qual foi demitido em 1952 após entrevistar músicos grevistas da Orquestra Sinfônica Brasileira. Carlos Lacerda, dono do jornal, tinha relações com o patrocinador do grupo e preferiu sacrificar o crítico a irritar o anunciante.

Edino também ocupou cargos na administração pública, em órgãos ligados à Cultura, como a Fundação de Teatros do Rio (de 1975 a 1978), a Funarte (de 1981 a 1998) e o Museu da Imagem e do Som (de 2003 a 2006) do Rio de Janeiro. Criou os Festivais de Música da Guanabara e as Bienais da Música Brasileira Contemporânea e ocupou a presidência da Academia Brasileira de Música (ABM) por vários mandatos.

Em nota, a AMB o descreveu como o "o maior defensor" da música brasileira de concerto e "um personagem monumental e incontornável da cultura brasileira". "Sua presença está marcada para sempre na história da música brasileira e de instituições culturais do país", afirma o comunicado. 

Entre as cerca de 150 peças compostas pelo catarinense, destaca-se "Canticum Naturale", de 1972, na qual a orquestra recria os sons da flora e da fauna amazônicas. A peça é dividida em duas seções — "Diálogo dos pássaros" e "Monólogos das águas" — e costurada por um solo vocal. Ainda na década de 1970, ele compôs dois solos para violão: "Ritmata" e "Estro Armonico".

Edino dialogou com influências diversas: da dodecafonia dos anos 1940 a trilhas, balés e sinfonias, do neoclássico ao serialismo. Compôs até um choro dodecafônico. Começou a explorar o método em que as notas são usadas sem hierarquia ainda no grupo Música Viva. Também flertou com o popular. A pedido de um amigo, regente de coral, criou “Fuga e antifuga”, uma peça com cara de marcha-rancho, e mandou para Vinicius de Moraes letrar. O poeta não só escreveu os versos como inscreveu a música no Festival Internacional da Canção em 1967. Ficaram em quarto lugar. Edino também compôs para teatro e cinema (é dele, por exemplo, a trilha de “O Trapalhão na Ilha do Tesouro”, de 1975). 

Criativo e prolífico, dizia se inspirar em qualquer coisa que lhe evocasse beleza. 

“Inspiração, para mim, é uma ideia que me permita desenvolver uma trama musical. Tenho me dedicado a compor durante as férias na Praia Formosa (PB). Lá, encontro ideias e ambientação”, ele disse, em 2020, em entrevista à UBC

Em outra entrevista à UBC, ainda na ativa e criando novos trabalhos aos 92 anos, falou sobre as novas tecnologias para criar e distribuir música: 

“A necessidade de expressão artística é inerente à condição humana, quaisquer que sejam os avanços tecnológicos. O homem das cavernas já fazia da pedra um instrumento para cravar nas rochas a sua necessidade criadora. Os avanços tecnológicos nunca coibiram a necessidade de expressão, ao contrário, sempre forneceram novos meios e novos instrumentos. Os equipamentos eletrônicos colocam à disposição do compositor de hoje recursos de produção sonora que não existiam nos séculos passados. Toda a infraestrutura da música clássica continua e continuará a existir. Orquestras, grupos de câmara, solistas, escolas e professores de música, criados ao longo de séculos, continuam ativos, e nada indica que não continuarão no futuro à disposição dos compositores. A sobrevivência da sua obra vai depender, como sempre, do interesse dos intérpretes em divulgá-la.” 

Além dos três filhos e de cinco netos, Edino deixa a esposa, a jornalista e produtora Neném Krieger. 

*Com informações do jornal O Globo

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