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Morre Carlos Colla, um dos mais versáteis compositores do país
Publicado em 13/01/2023

Autor de megahits de Roberto Carlos e Alcione a Xuxa, teve uma carreira prolífica, com mais de 1200 obras cadastradas na UBC

Do Rio 

A música perdeu hoje Carlos Colla, um dos mais prolíficos e versáteis compositores do país. Com mais de 1.200 canções cadastradas na UBC, foi o autor ou coautor de literalmente dezenas de megassucessos nas vozes de Roberto Carlos, Fafá de Belém, Chitãozinho e Xororó, Sandra de Sá, Emilio Santiago, Leandro & Leonardo, Alcione, Xuxa e tantos outros de gêneros variadíssimos — além de ter sido gravado por famosos intérpretes internacionais, como o mexicano Luis Miguel e a banda porto-riquenha Menudo. Colla tinha 78 anos e, na última terça-feira, se submeteu a uma cirurgia para tratar dois aneurismas na aorta abdominal. Nesta sexta-feira (13), ele teve uma parada cardiorrespiratória no hospital onde estava internado, no Rio de Janeiro, e não resistiu. 

Autor de hits inesquecíveis da música — como “Falando Sério” (gravado por Roberto), “Meu Disfarce” (gravada por Fafá de Belém e Chitãozinho & Xororó), “Verdade Chinesa” (parceria com Gilson gravada por Emilio Santiago) e “Bye Bye Tristeza” (com Marcos Valle, gravada por Sandra de Sá), só para ficar em algumas —, o niteroiense Colla até tentou fazer algo fora da música. Ele se graduou em Direito nos anos 1970 e, até 1980, exerceu paralelamente a advocacia, mas sem nunca ter deixado de compor — algo que começou a fazer instintivamente aos 14 anos. 

Em inúmeras entrevistas — inclusive à UBC —, contou que um dos episódios que o fizeram deixar o direito foi ter presenciado a explosão de uma carta-bomba enviada à sede carioca da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), matando a secretária Lyda Monteiro da Silva. A partir daquele ato cruel, no apagar de luzes da ditadura e com os subterrâneos do regime atuando para criar caos, ele decidiu que não faria outra coisa para viver além de música.

Consolidou, então, uma parceria com Roberto, que foi, individualmente, o intérprete que mais o gravou: cerca de 40 músicas, a maioria delas composta com Mauricio Duboc, outras solo ou com o próprio Rei, e muitas com nomes variados, como Marcos Valle, Ed Wilson e Mauro Motta.

“Eu costumo dizer que faço sucesso por causa dos parceiros. Eles me arrastam. Eu sou um bom diretor de clima (risos)”, disse, com seu lendário bom humor, numa entrevista para a Revista UBC em 2017. “Até o ano passado,  passei três anos direto compondo toda semana com o João Crain e o Zé Henrique, do Yahoo. Com a Káliman Chiappini fiz a música mais tocada do Brasil em 2013, 'Vidro Fumê', gravada por Bruno & Marrone”, afirmou, referindo-se aos seus muitos parceiros, que incluíram ainda nomes como Chico Roque, Michael Sullivan, Roberto Lirio e Elias Muniz.

Em 1984, Carlos Colla produziu a vinda ao Brasil do Menudo. Foi ele o responsável pelas versões em português de hits da banda porto-riquena, que ajudaram a emplacar o grupo entre um público brasileiro até então bastante reativo a canções pop em espanhol. Um exemplo é "Hoje a Noite Não Tem Luar”, versão da original “Hoy Me Voy Para México”. 

A proximidade com o universo pop tornou Carlos Colla um dos compositores mais sem preconceitos do Brasil. Na mesma entrevista com a UBC de 2017, ele analisou o mercado contemporâneo e a explosão de gêneros como pisadinha, brega, funk... 

“Não sou de turma nenhuma. Trabalho para o brega, o sertanejo, o cult, a MPB, a bossa nova. Trabalho para todo mundo. Não acredito em divisões. Música é uma coisa muito inteira. Me dou bem com todo mundo e estou sempre trabalhando. Neste momento eu acabei de gravar com o Edson Wander, brega. Ficou linda. Talvez o purista olhe para mim e diga: 'mas como você, que grava com Emilio Santiago, grava com o brega?' Eu digo que Emilio e o brega são igualmente artistas, dentro do seu estilo, cada um faz sucesso com seu público. É tudo bonito. É tudo lindo”, descreveu o compositor, que só se aventurou como intérprete num único álbum próprio, em 1992. 

Tal era o amor desse grande artista pela música que ele enfrentou a falta de estímulo dos pais, os preconceitos ligados à carreira artística e a incerteza financeira para se atirar de cabeça na criação. Foi assim que ele relembrou toda essa caminhada: 

“Fui totalmente desestimulado pela família (risos). Fui criado para outra coisa: na minha família, engenharia era a tradição. E, pelo lado do meu avô materno, o jornalismo. Mas eu não tinha a ver com nada disso, queria era saber de música. Aos 13 ou 14 anos pus a mão num violão pela primeira vez e me apaixonei. Aprendi sozinho e não parei mais. Anos depois, me formei advogado, cumpri minha obrigação burguesa (risos). E a música seguia ali como o escape, como a loucura. Era a cachaça. Paguei 10 anos de penitência dentro da OAB cumprindo minhas obrigações, digamos, patrióticas e consegui escolher o lado doce depois disso. Tive uma colega de trabalho, advogada, que morreu numa explosão de carta-bomba. Eram tempos duros. Então decidi que queria viver, abracei a música. Aos 38, comecei a me dedicar exclusivamente a ela. Também renunciei a coisas. O Direito te dá bens materiais maravilhosos. Acabou meu antigo casamento, quase enlouqueci e perdi uma fortuna, mas foi maravilhoso, fantástico. Nada foi tão bom.”

O presidente da UBC, Paulo Sérgio Valle, lamentou profundamente a perda de Colla: 

"Grande letrista! Trabalhei e aprendi muito com Carlos Colla. Era popular, mas jamais vulgar. Além disso, compunha também melodias, tocava violão e cantava bonito. A UBC está de luto."

Diretor-executivo da nossa associação, Marcelo Castello Branco exaltou o talento inato do compositor:  

"Carlos Colla foi um dos maiores autores da música popular brasileira. Escrevia sobre o amor de uma maneira visceral, de pura entrega e generosidade. Suas canções e realizações artísticas são eternas. Tive a honra de conviver com ele, testemunhar seu trabalho em pleno exercício de magia e profissionalismo. Jamais será esquecido. Todo o nosso carinho para sua filha, Daniella Colla, que, além de advogada do setor autoral, é cantora e compositora."

Gerente da filial de Goiânia da UBC, Cléo Barreto — que tinha uma relação bem especial com o artista — se emocionou: 

"Quando o conheci pessoalmente, fiquei muito nervosa. Era grande, criador de tantas obras maravilhosas, letras com qualidade, poemas em forma de canção. Todos os artistas de que gosto têm músicas dele. Eu disse isso a ele e o chamei para vir para a UBC. Ele veio e me escolheu para cuidar da relação dele com a associação. Honrei e vou honrar, enquanto trabalhar com música, esse grande autor e grande intérprete que ele foi. Muita saudade e gratidão sinto, por ele ter vindo e trazido toda a família para a UBC. Estou muito emocionada, muito triste."

Ainda não há informações sobre o enterro ou cremação de Colla.

LEIA MAIS: Relembre a entrevista completa de Carlos Colla à edição 31 da Revista UBC


 

 



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