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Sociedade portuguesa SPA promove conferência internacional sobre IA
Publicado em 17/05/2023

Acadêmicos, compositores e outras partes interessadas discutem desafios, oportunidades e limites para a criação por máquinas

De Berlim

Fotos: Jaime Seródio/SPA

O filósofo Daniel Innerarity durante sua intervenção

Os desafios — e as oportunidades — da inteligência artificial para a criação estiveram no foco em “Inteligência Artificial e Cultura — Do Medo à Descoberta”, uma conferência internacional promovida pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) na última sexta-feira (11) em Lisboa. Acadêmicos, autores musicais e outras partes interessadas falaram sobre o tema a partir de perspectivas variadíssimas. De todas, porém, sobressai um consenso: o avanço da IA parece irreversível, mas essa tecnologia jamais poderá substituir inteiramente o componente humano na hora de criar arte e transmitir emoções. 

Esta é, sem dúvida, a opinião de um dos principais nomes presentes, o filósofo e ensaísta espanhol Daniel Innerarity — chamado de “um dos 25 pensadores mais influentes do mundo” pela revista francesa “Le Nouvel Observateur”. Ele apresentou o painel “El Sueño de la Máquina Creativa”, no qual chamou a atenção para a fascinação coletiva que a ideia de robôs criando arte desperta. 

“Os avanços na inteligência artificial levaram muitos a especular com a ideia de que os seres humanos seremos brevemente substituídos em muitos âmbitos, incluído o da criatividade artística”, disse, lembrando inclusive como alguns gêneros musicais pop contemporâneos produzem hits em sequência cujo nível de inventividade poderia até ser confundido com criação robótica. Mas concluiu: “Computadores têm uma forma débil de criatividade que lhes permite reproduzir padrões de fala, som ou formas, mas nada mais. De um computador não se pode esperar que produza algo radicalmente imprevisível, nada similar ao que representaram a vanguarda ou os criadores verdadeiramente disruptivos na história das artes.”

Ao longo do evento, outros nomes, como a advogada especialista em direitos autorais Patricia Akester — PhD em direito de autor e os desafios da tecnologia digital —, o físico e ensaísta Carlos Fiolhais, o cantor e compositor Pedro Abrunhosa e a editora de ciência do diário “Público”, Teresa Firmino, intervieram num debate que se propôs a abranger desde a criação artística às questões mais filosóficas da relação homem-máquina. 

“Aquilo que faz o uso da tecnologia são os homens (…). A inteligência artificial vai buscar as palavras existentes, trilhões delas, e nos fornece um amálgama, um pacote, como um papagaio desprovido de transcendência. Desprovido de mistérios. Desprovido, sobretudo, de experiência. A inteligência artificial pode dominar a sintaxe, domina a gramática. Mas uma coisa que não domina é a semântica. É a significância, a abstração da narrativa”, afirmou Abrunhosa durante o colóquio. 

A advogada Patrícia Akester durante sua fala

Paula Cristina Martins Cunha, membro do Conselho de Administração da SPA, não poderia estar mais de acordo com ele. 

“Não acho que vai haver uma substituição de homens por máquinas na criação artística. Estamos atentos e preocupados pelos usos que se dão à IA no contexto da criação, nas questões referentes aos direitos autorais. Mas não acredito que haverá substituição. Não se imita a arte. Vai haver muitas consequências (com a expansão dos usos da IA), mas nada pode ocupar o lugar da criatividade humana”, disse à UBC.

Para ela, o debate, nas dependências da Fundação Cidade de Lisboa e promovido pela SPA — uma sociedade de autores que, no próximo dia 22, completará 98 anos — foi cheio de significado. 

“Nossa sociedade é muito antiga, mas é muito moderna ao mesmo tempo. Está preocupada com estas questões e quer perceber o que é que há a fazer e como ajudar os associados. E como contribuir. Como está tudo em aberto neste momento, nada como refletir com quem pensa essas questões. Estamos à procura de qual o melhor caminho. Não há respostas acabadas, não há soluções pré-feitas, tudo será construído por nós”, raciocinou a executiva, que antecipou: os debates promovidos no evento da semana passada foram tão ricos que serão transformados em livro. 

VEJA MAIS: Em dois vídeos no Facebook da SPA, a conferência completa (com falas em português e espanhol)

 

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