Bahia, Minas, Rio e sonoridades, ideias e afetos variados estão em “Asa de Voar Longe”, que chega nesta sexta (30) às plataformas
Do Rio
Saulo, Luciano e Ronaldo juntos: músicas compostas em duas sessões, num processo iniciado espontaneamente. Divulgação
A Bahia é a maior referência. Mas nem de longe está só. Sonoridades de todo o Brasil, ancestralidades variadas, samba, balada, choro, evocações ao rock e ao pop: a mistura está na essência de “Asa de Voar Longe”, álbum inteiramente escrito por Saulo Fernandes, Ronaldo Bastos e Luciano Calazans, e que chega nesta sexta-feira (30) às plataformas digitais.
Longamente maturado desde o primeiro encontro dos compositores, em 2016, o disco tem direção artística de Leo Pereda e Ronaldo Bastos, produção e arranjos de Luciano Calazans e voz de Saulo em todas as faixas, além de um timaço de músicos que garantiu algo raro em tempos de onipresença das bases eletrônicas pré-gravadas: tudo o que se escuta veio de instrumentos físicos tocados em estúdio. O resultado, porém, não poderia ser mais fresco e contemporâneo.
“É um privilégio ser o intérprete de um álbum em que a grande estrela é a canção", comemora Saulo, cuja Bahia natal aparece de maneira mais evidente em pelo menos quatro das oito faixas: "Reza Forte" (com referências à capoeira e palmas de rodas de samba); "Sussuarana"; “Samba Que Deu” e "Na Beira do Mar".
Esta última, ele diz, é sua canção favorita por remeter, com seus versos simples sobre o mar, a Dorival Caymmi, criador musical que é também um grande inspirador de Ronaldo Bastos.
“Só sou compositor por causa de Caymmi, meu mestre e guru eterno. Com esse álbum eu sinto que estou retribuindo um pouco de tudo o que a Bahia me deu. Agradeço sempre essa sorte”, afirma o carioca Ronaldo.
OUÇA MAIS: O disco na íntegra, na sua plataforma de streaming favorita
O processo de elaboração do repertório do disco, eles contam, foi muito fluido. Luciano já tinha várias melodias prontas. Uma noite, num encontro com o amigo de longa data Ronaldo e com Saulo, no Rio, os três começaram a escrever músicas sem qualquer planejamento prévio.
“Costumo levar muito tempo para compor e gosto de ter meu tempo a sós com as melodias, procurando as palavras como um escultor procura a obra no material a ser esculpido. Mas, nessa madrugada, fizemos várias canções de uma só vez, tudo fluiu magicamente”, lembra Ronaldo.
Algumas semanas depois, em Salvador, eles arremataram o processo.
A maior parte das melodias de Luciano foi aproveitada. Ronaldo fez a maioria das letras. E Saulo participou elaborando tanto melodias como letras, “sempre de maneira certeira”, como descreve Ronaldo, elogiando ainda os dotes vocais do cantor baiano, “um dos maiores intérpretes que nós temos, uma joia”:
“Certamente a Bahia foi quem nos deu régua e compasso, como diz nosso amado Gilberto Gil. Mas acho que a inspiração vem também do Rio, dó sertão, de Minas, do Brasil como um todo, da malandragem, própria e alheia, da fé, dos nossos interesses e afetos, do amor pela humanidade e pela música.”
Sobre a ausência de bases eletrônicas, Luciano Calazans conta que não houve qualquer intencionalidade:
"Usar elementos eletrônicos não é um demérito, mas, no nosso caso, o som gravado pelos instrumentistas já ficou forte. Não havia a necessidade desses componentes."
O time de músicos que eles juntaram nas gravações, no 818 Estúdios, em Salvador, inclui: Luã Almeida (teclados), Kainã do Jêje (atabaque, agogô, xequerê, tamborim, pandeiro, palmas e outros instrumentos de percussão), Beto Martins (bateria), André Becker (saxofone), Ivan Sacerdote (clarineta) e o próprio Calazans tocando baixo. Em comum, todos atuam no mercado baiano e têm qualidade excepcional.
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