Com edições em SP, Rio, Salvador, Goiânia e BH, evento abre palco a novos talentos e os aproxima de gravadoras, editoras e festivais
Do Rio
Encontro de talentos na Jam de Salvador: trocas entre os artistas e o mercado. Foto: Jovaneph
Quando os artistas de mais uma edição da UBC Jam subirem ao palco esta noite, estarão coroando um evento que nasceu despretensioso semanas antes da pandemia, ficou paralisado naqueles tempos duros e, desde a retomada, se consolidou como um grande impulsionador de novas cenas e artistas. Com coordenação geral de Vanessa Schütt, líder de Novos Negócios na UBC, e idealização e realização da produtora Rebuliço, a Jam abre espaço a quem quiser participar em cada uma de suas edições, até agora realizadas em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Goiânia e Belo Horizonte. Sempre com muita gente do mercado na plateia, o que fomenta oportunidades e parcerias.
“Somos um espaço de conexão entre os artistas e entre eles e a indústria musical. Trazemos, a cada edição, representantes de gravadoras, de festivais, de editoras. A primeira Jam teve só mulheres, o que também reflete um olhar de estímulo a uma parcela do mercado que não tem as mesmas oportunidades”, explica Schütt.
Para João Suprani, da produtora Rebuliço, o projeto deu certo desde o primeiro momento:
“Apresentamos a ideia a UBC, e eles, que já tinham iniciativas de valorização de novos artistas e a preocupação em incentivar a nova cena de música, ficaram superanimados e compraram 100% a ideia."
Indo já para a sua 5ª edição na capital Fluminense, Flávia Salles, também da produtora, percebe que a iniciativa evolui progressivamente:
“Sentimos que a cada Jam, o evento cresce em relevância, com cada vez mais artistas e mais pessoas influentes do mercado querendo participar”
Os comentários positivos dos artistas participantes e dos nomes do mercado na plateia têm sido acima do esperado. E uma história, especificamente, ajudou a sedimentar na UBC a ideia de que o evento deveria ser retomado e crescer.
“Ano passado, vimos uma conversa da instrumentista Carol Mathias com a cantora e compositora Mariana Volker no Instagram, em que elas comentavam que, graças à UBC Jam, se conheceram e puderam tocar juntas, desenvolver projetos juntas. Dissemos: é isto que queremos ser, um lugar de portas abertas para a cena independente nacional, que a fomente. Por isso, no contexto dos 80 anos da UBC, as jams voltaram ampliadas”, continua a coordenadora.
Corroborando o que ela diz, Carol Mathias explica a importância que uma única participação na Jam teve para ela:
“Fui nervosa, porque um ambiente de jam é sempre opressor para as mulheres instrumentistas. Muito difícil tocar quando há muitos homens, acostumados a se colocar nesse papel de importância e de tocadores de instrumentos. Quando eu vi, estava conversando com muitas mulheres que me convidavam para tocar nas suas bandas. A Mariana Volker eu já admirava muito. Subi ao palco com ela naquela noite e tivemos uma grande conexão. Dali, ela me chamou para tocar baixo e teclado na banda dela, o que abriu portas para mim com outros artistas. Hoje sou baixista do Leoni por causa dessas conexões. Tudo aconteceu por causa de uma noite em que peguei o metrô, fui até a Casa UBC (no Rio) e resolvi tocar.”
A instrumentista Laura Santos se apresenta na edição de São Paulo. Foto: Zeca Vieira
Histórias como essa não são casualidade. Como comenta o cantor e compositor Rodrigo Lampreia, CEO do Soho Music Group e promotor, ele mesmo, de uma série de jams batizada de Soho Sessions, tudo o que um novo e talentoso artista precisa é de um palco e de uma boa plateia que o veja:
“O projeto se torna fundamental num mercado onde a cena independente cresce com velocidade. Os novos artistas precisam de oportunidades e palcos para mostrarem seus trabalhos, e democratizar esse acesso ajuda a fortalecer os artistas independentes e a cena como um todo, promovendo não só um novo espaço, mas oportunidades de encontros e negócios.”
Elisa Eisenlohr, gerente sênior na Warner Music Group — e que já esteve na plateia —, faz eco:
“A UBC Jam tem um propósito muito importante de conectar grandes talentos com gravadoras, editoras, curadores e outros profissionais que podem ajudar a impulsionar essas carreiras. É um encontro liderado com muita competência pela Vanessa Schütt, e que cumpre esse propósito de forma leve, informal e divertida. É uma grande festa com muita música boa.”
O segredo para o que ela chama de música boa é a curadoria realizada pelas sucursais nas quais as jams são realizadas. A cada edição, se mantém uma mesma estrutura: músicos instrumentistas convidados fazem a abertura; depois, sobem ao palco os artistas participantes dos três showcases, também convidados; e, fechando a noite, o palco e o microfone se abrem a quem se inscrever para participar. A preocupação com a diversidade faz com que os convidados sejam sempre diferentes entre as edições. E o mesmo ocorre com a plateia, que também vai mudando de um evento a outro, para que o maior número possível de pessoas possa assistir.
“A UBC Jam de São Paulo foi maravilhosa e deixou um gostinho de 'quero mais', pois todos saíram de lá perguntando a data da próxima. É um dos projetos mais lindos e gratificantes de que já participei”, descreve Angela Johansen, gerente da filial paulistana.
Da esquerda para a direita, Navalha Carrera, Letícia Mayara, Jonathan Panta e Jonathan Ferr numa Jam na Casa UBC, no Rio. Foto: Zeca Vieira
Daniela Sousa, gerente da filial de Minas, vai na mesma linha:
“Os encontros da Jam aqui em BH foram memoráveis. Sem dúvida, o espaço e a parceria da (produtora) A Macaco abrilhantaram ainda mais o momento.”
Uma das edições mais marcantes foi a de Goiânia, realizada em novembro do ano passado no Bolshoi Pub. Com mais de 100 convidados do mercado, numa das cidades mais pujantes para a indústria musical nacional, 15 artistas se revezaram no palco, mostrando seu trabalho. Entre eles estava o cantor e compositor Rigamontti, do projeto BregaSamba.
“Foi muito importante participar e poder tocar num pub em que não tocaria, se não fosse a UBC. Autores de outros estilos e nichos e vibes estavam por lá, então pude fazer diversas conexões", afirma Rigamontti. "Meu projeto teve contato com outros compositores, então consegui, depois desse evento, outras apresentações. Em todos os sentidos, foi muito bom.”
Rigamontti (no centro) se apresenta com seu projeto BregaSamba na Jam de Goiânia. Foto: Cristiano Borges
É o que também espera da edição desta noite Vanessa Damasco, coordenadora de projetos da Fundição Progresso, uma casa de shows e espaço cultural tradicional no Rio:
"Recebi o convite para apresentar os artistas do nosso projeto #ESTUDEOFUNK, e vejo isso como uma ótima oportunidade de mostrar este trabalho para pessoas muito especiais do universo da música. As Jams da UBC são encontros superprodutivos, onde aproveito para conhecer uma galera, trocar várias contatos bacanas, num clima muito gostosinho. Além disso, elas promovem a formação de um público diferenciado para os novos artistas."
Com continuidade garantida, a UBC Jam terá sua primeira edição em Porto Alegre em outubro, no estúdio Audio Porto. A gerente da filial gaúcha, Danieli Corrêa, diz já estar ansiosa:
“O local por si já respira música e é o queridinho dos artistas com estrutura e instrumentos de primeira linha. Reunindo nomes supertalentosos da cena independente, como Cristal, As Inquilinas, Bibiana Petek e muitos mais, com certeza será uma noite inesquecível.”
VEJA MAIS: Em vídeo, um resumo da UBC Jam que reabriu a Casa UBC, no Rio, em maio de 2022