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Daniel: 'Quero acreditar que o amor nunca saiu de moda'
Publicado em 08/12/2023

Celebrando 40 anos de carreira e indicação ao Grammy Latino, cantor e compositor fala de sua trajetória e das transformações no sertanejo

De São Paulo

Daniel é — e, garante, sempre será — sinônimo de sertanejo romântico. Enquanto o gênero mais popular do país vive uma longa fase de exaltação ao hedonismo, à curtição, aos carrões, à dor de cotovelo e à festa, este paulista de Brotas continua a brilhar calcado no estilo que o projetou ao estrelato. E que lhe deu uma carreira longeva, coroada nos últimos meses com o lançamento do DVD “Daniel 40 anos celebra João Paulo e Daniel” — indicado ao Grammy Latino 2023 — e uma turnê que já percorreu mais de duas dezenas de cidades país afora.

“Quero acreditar que o amor nunca saiu de moda, e que há muitas formas de expô-lo. Existe hoje uma tendência diferente, mudanças que acompanhei ao longo da minha história, mas o romantismo nunca deixou de existir, sempre vai ter um lugar especial no coração das pessoas”, ele diz.

Com muitos planos para o futuro, demonstrando reiterado respeito pela música — “ela é curadora, transformadora, a gente não pode viver sem música” —, o cantor e compositor comemora a inesperada parceria na turnê com Jéssica Reis, filha do parceiro João Paulo, morto num acidente de carro em 1997, na Grande São Paulo.

“Esse contato com ela e a família é uma das melhores maneiras que eu encontro de fortalecer a presença dele aqui. João Paulo é muito presente na minha vida. Costumo dizer que ele não saiu daqui, não foi embora. Está aqui, faz parte do meu dia a dia”, afirma neste papo com a UBC através de um aplicativo de mensagens instantâneas.

Como é que está indo a turnê, passados estes primeiros meses? Ainda serão muitos shows pela frente?

É uma grande satisfação poder levar esse projeto dos 40 anos de carreira Brasil afora, poder cantar com o público de João Paulo & Daniel as canções que tivemos a honra de gravar, reviver momentos, rever pessoas que faziam parte do fã-clube e estão com a gente, que fazem questão de comemorar conosco. Não temos previsão de quantos shows serão. A única certeza é que (a turnê) irá até o ano que vem. Espero poder ter muitas oportunidades de cantar e relembrar o legado tão bonito que a gente conseguiu deixar, eu e o saudoso João Paulo. Está sendo um grande presente para mim.

A resposta do público tem sido a melhor possível. Impressionante o carinho das pessoas superlotando os shows. Tenho feito até mais de um show na mesma cidade. E impressiona constatar o quanto a música é poderosa e permanece no coração de todos. Agradeço sempre, antes dos shows, por permitirem que a nossa música ainda faça parte da vida deles.

Como recebeu a indicação ao Grammy Latino pelo DVD?

O maior presente para todo artista é o reconhecimento, é a certeza de que a sua música está atingindo o alvo certo, que é o coração do público. Estamos aqui pra fazer bem, trazer um pouco de paz, amor, felicidade e esperança através da música. E, quando a gente é indicado a um prêmio assim, como o Grammy, é um grande presente, um combustível pra gente seguir em frente e saber que está no caminho certo. É este o caminho: fazer com amor, dedicação e respeito às pessoas.

VEJA MAIS: Daniel interpreta "Estou Apaixonado" no DVD ao vivo

Quatro décadas são tempo suficiente para fazer uma boa retrospectiva não apenas pessoal, mas de mercado. Que diferenças importantes existem entre o sertanejo de hoje em dia e aquele lá do primeiro LP, em 1985?

Quarenta anos são realmente uma data bem expressiva, não são todos os artistas que têm esse grande prazer de permanecer tanto tempo, principalmente num mercado tão recheado de potenciais. Nem de ver essa transição toda, né? A gente vindo do analógico para o digital… Tudo isso acabou influenciando nossa música e a forma em que a fazemos. Por aí vejo uma grande diferença entre o sertanejo que nós e outros artistas fazíamos e os artistas de hoje. Tem também uma característica diferente de levada. Hoje predomina a levada mais pulsativa. O que eu percebo é que, quando a gente começou, o jeito de falar de amor era diferente, um jeito diferente de tocar as pessoas. E há a questão estética, de arranjos, instrumentos. Na nossa época, usávamos muitas cordas, o piano e as guitarras eram predominantes. Hoje, o acordeão e os violões são mais presentes. Mas isso é a música, não há como não sofrer transições. O mais importante é sempre primar por um trabalho bem-feito, boas melodias, boas letras, sabendo que temos uma grande responsabilidade perante o público que vai assimilar nossa música. É importante sempre buscar uma grande obra, que se eternize.

De um ponto de vista pessoal, é natural não deixar de pensar naquele início, com o João Paulo. Ele ainda é uma presença forte na sua vida?

João Paulo é muito presente na minha vida. Costumo dizer que ele não saiu daqui, não foi embora. Está aqui, faz parte do meu dia a dia. Foi muito forte a presença dele em tudo o que fiz, naquele início de trajetória juntos. Não há como me desvincular. Para mim, ele é uma inspiração, uma força. E, agora neste projeto de 40 anos, tenho a grata satisfação de me deparar com uma situação que jamais imaginaria: estar ao lado da filha dele viajando o Brasil, ela representando o pai, vendo de perto o carinho das pessoas por ele. E poder cantar com ela… Esse contato com ela e a família é uma das melhores maneiras que eu encontro de fortalecer a presença dele aqui.

O sertanejo hoje se mistura a virtualmente qualquer gênero que tenha potencial de sucesso, como piseiro, arrocha, funk, pagode. O que tem achado dessas fusões?

Música é música, sabe? O Brasil tem uma diversidade muito grande. A dupla João Paulo & Daniel, há muitos anos, recebeu um convite do Arte Popular para gravar um samba, “Fricote”. Juntamos viola com cavaco, e deu muito certo. A gente já fazia fusões. Forró, samba, axé, sempre existiu. É interessante, sempre que a mistura for bem elaborada, bem feita. A gente primar por fazer bem feito, fazer por merecer, para conseguir obter um lugar no coração das pessoas e fazer a diferença na vida de alguém através da sua arte. Como eu já disse no começo, somos um instrumento, temos uma missão divina através da música. Temos que ter muito respeito e muito cuidado em relação a isso.

Também é certo que grande parte dos hits do sertanejo de hoje em dia fala sobre hedonismo, curtição, prazeres e festas. Você é um artista calcado no romantismo e no lado positivo das relações. Isso ainda vende? Os jovens também podem ter interesse no amor romântico?

Quero acreditar que o amor nunca saiu de moda, e que há muitas formas de expô-lo. Existe hoje uma tendência diferente, mudanças que acompanhei ao longo da minha história, mas o romantismo nunca deixou de existir, sempre vai ter um lugar especial no coração das pessoas. Esta nova geração curte até Tião Carreiro & Pardinho, tem acesso a isso. Através da tecnologia tem essa possibilidade. Vejo nos meus shows uma variedade de crianças, jovens e pessoas mais velhas. Não existe público direcionado, a gente vê que as gerações estão acompanhando o que fazemos. E dentro do que a gente faz está o amor. Antes se falava de amor de forma diferente. Hoje é mais pulsativo, jogando pra cima, de festa, e é cabível. Agora, uma coisa importante a ser vista, que eu não sinto às vezes muito cuidado, é a questão das letras, que às vezes não têm muito fundamento, ficam descartáveis. Mas, quando você fala de amor na sua essência, não tem como não dar certo. Sempre deu e sempre vai dar.

Com João Paulo numa foto sem data: parceiro sempre presente

Para além dessa celebração, você já está com a cabeça no futuro? Que outros planos/projetos tem em mente para os próximos anos?

Em primeiro lugar, sinto gratidão por tudo o que aconteceu ao longo da minha vida e da minha historia. Tenho muitos projetos para realizar, se eu tiver oportunidade. Mas a principal coisa é continuar a cantar e fazer música, sabendo que minha música está atingindo alguém e fazendo a diferença. Amo o que eu faço e sinto até hoje, nestes 40 anos, que as pessoas se sentem tocadas com a minha música. Basta eu ter um contato com fãs nos camarins, bater papo, e percebo que minha música tem fundamento na vida de muita gente. E os projetos vão surgindo. A principal coisa que eu peço a Deus é poder continuar a cantar e fazer parte da vida de todos vocês, através da música. Não deixem de ouvir música, ela é curadora, transformadora, a gente não pode viver sem música.

 

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