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Spotify estreia comentários em podcasts e avança em direção a ‘rede social’
Publicado em 10/07/2024

Analistas creem que a parte musical também poderá vir a incluir chats e interação entre os ouvintes, seguindo modelo nascido na China

Por Ricardo Silva, de São Paulo

Os usuários 'dentro' do Spotify: comentários poderiam ser primeiro passo para incorporar mais funções de rede social. Foto: Shutterstock

Primeiro foram as grandes plataformas de música chinesas. E, agora, parece que o maior serviço de streaming do mundo vai seguindo o caminho delas. O Spotify acaba de estrear um novo espaço de comentários para os ouvintes dos seus podcasts, criando uma pegada de interação típica de rede social dentro do app. Some-se a isso o foco que a empresa vem colocando sobre as playlists criadas por seus usuários (já são 8 bilhões delas, revelou o diretor-executivo da empresa, Daniel Ek, esta semana), e tem-se um cenário muito parecido ao da Tencent ou da NetEase, duas das principais plataformas/redes sociais da China.

O futuro, creem os defensores desse modelo, é a convergência total entre consumo, criação e interação ao redor de conteúdos — algo que, aliás, o também chinês TikTok já faz com maestria.

“Os comentários são uma função há muito tempo solicitada tanto pelos podcasters como pelos ouvintes do Spotify”, explicou num comunicado Maya Prohovnik, vice-presidente mundial de podcasts da plataforma sueca. “Podcasts historicamente têm sido um formato de mão única, ao mesmo tempo em que o Spotify já oferecia algumas ferramentas de interação como o Q&A e as pesquisas. As pessoas nos disseram claramente que queriam caminhos mais diretos de conexão.”

Ela não respondeu, no entanto, à pergunta que todos se fazem: quando os comentários serão incorporados à parte de músicas? Se analistas como Mathew Daniel, ex-vice-presidente internacional da chinesa NetEase, estiverem corretos, isto não deve demorar.

“O sistema de comentários diretos e avaliações que a NetEase criou na China são uma verdadeira baliza do que é bom ou não é, do que faz sucesso ou não. São celebrados como um disco de ouro por lá”, ele descreveu. “A China, não é de agora, consome música através de redes sociais ou em plataformas de streaming que obrigatoriamente trazem comentários, avaliações e a possibilidade de comunicação direta entre os próprios fãs, além de muitas outras funcionalidades, que incluem até pagamentos de produtos online ou a aquisição de experiências com os artistas. Esse modelo está até demorando demais para chegar ao Ocidente.”

A aposta do Spotify numa maior interação entre os usuários ficou clara numa série de publicações de Daniel Ek estes dias. Num post no LinkedIn, ele falou sobre o número assombroso de 8 bilhões de playlists não curatoriais, ou seja, criadas por usuários comuns. Foram 725 milhões de novas listas só de janeiro de 2024 até agora.

“E o país cujos usuários criam mais playlists é, de longe, a Coreia do Sul. Até 50% mais que nas outras nações”, revelou o fundador do Spotify, dando uma outra pista de para qual continente aponta a bússula da inovação no setor do streaming musical.

Espera-se para os próximos meses uma enxurrada de novas playlists de usuários. Em abril, a maior plataforma do mundo lançou uma versão beta da ferramenta AI Playlist, que permite aos assinantes inserir prompts de texto (“sons tranquilos para cozinhar”, “música animada para dirigir”, “quero uma sequência de músicas com batidas disco”), para que o robô se encarregue de elencar numa lista as melhores canções em meio à gigantesca base de dados de mais de 100 milhões de faixas do app.

Por ora, a funcionalidade só está valendo para Austrália e Reino Unido. Mas a ideia do Spotify é levá-la ao resto do mundo — previsivelmente, incorporando ferramentas de classificação das playlists e, quem sabe?, comentários ou até a possibilidade de que as pessoas consigam falar umas com as outras enquanto compartilham entre si as listas criadas por IA.

Esse foco nas playlists teria relação direta com um novo nível de serviço — acima do atual premium — que o Spotify está prestes a lançar, segundo uma reportagem da Bloomberg do mês passado. Além de áudio em HiFi (alta fidelidade), dos audiolivros, do pleno acesso a essa versão dos podcasts convertida em “rede social”, há quem espere outras novidades para o tal novo pacote "pós-premium".

“Eles provavelmente terão algo na manga. O Spotify tem trabalhado para agregar valor às suas assinaturas pagas num momento em que a plataforma, junto com as concorrentes, tem aumentado os preços no mundo todo e em meio a acusações de que já não valorizam suficientemente a sua principal razão de ser, a música”, descreveu o analista britânico do mercado musical Stuart Dredge.

Como o site da UBC noticiou no final de maio, algumas dessas acusações vêm de pesos-pesados da indústria, como o MLC, a poderosa entidade emissora de licenças do streaming no EUA; e a NMPA, a associação das editoras musicais americanas. É que ambas entraram com diferentes ações judiciais contra o Spotify por ter diminuído os repasses de royalties a compositores e editores após a reclassificação, feita pela plataforma, dos seus planos premium, transformados em "pacotes" por incluir os audiolivros. As entidades viram nesse movimento uma "malandragem" do Spotify, já que as atuais regras do streaming nos EUA preveem que "pacotes" podem pagar menos aos titulares de direitos autorais.

Imagem de divulgação do Spotify com a ferramenta para podcasters e o novo espaço de comentários. Reprodução

Enquanto o imbróglio é deliberado na Justiça de lá, o Spotify estaria mesmo decidido a aumentar a quantidade de coisas que oferece aos usuários, numa tentativa de deixar para trás seus principais competidores diretos, Apple Music e Amazon Music, ambos beneficiados por poderosas holdings que fabricam e/ou vendem uma infinidade de produtos e serviços. O passo na direção de tornar-se uma espécie de plataforma de streaming misturada a rede social musical, portanto, soaria lógico como um grande diferencial.

“Claro que há dúvidas sobre como, por exemplo, seria a moderação dos comentários e interações”, ponderou Dredge em sua coluna no site Music Ally. “Mas eles acabam de estrear, por exemplo, uma reformada ferramenta Spotify for Podcasters, em que os donos de podcasts já conseguem gerenciar os comentários e receber notificações e análises melhoradas sobre a resposta do público aos seus programas."

O caminho da crescente interação na plataforma sueca, portanto, parece ser mesmo sem volta.

 

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