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Morre Sergio Mendes, aos 83 anos, em Los Angeles (EUA)
Publicado em 07/09/2024

Pianista, compositor, arranjador e produtor, ele foi um dos grandes representantes da música brasileira globalmente

Do Rio

Ele vivia há exatos 60 anos nos Estados Unidos. Mas jamais perdeu sua alma brasileira, ajudando a difundir nossa arte pelo mundo. Morto nesta sexta-feira (6), aos 83 anos, o pianista, compositor, arranjador e produtor Sergio Mendes deixa um legado na bossa nova, no samba, no jazz e até no pop internacional, além de seu nome escrito entre os grandes da nossa música.

Nascido em Niterói (RJ), em 1941, Mendes começou sua carreira como músico tocando nos anos 1950, em lugares tão míticos como o Beco das Garrafas, em Copacabana, berço da bossa nova. Rapidamente se inseriu num círculo de alto quilate, acompanhando nomes como Tom Jobim, Vinicius de Moraes e Baden Powell. Mas o passo que o projetaria de vez foi dado em 1964, quando se mudou para Los Angeles com a mulher, a cantora Gracinha Leporace, fugindo da recém-instaurada ditadura militar no Brasil.

Lá, teve contato com grandes jazzistas e devolveu-lhes as sonoridades da bossa e do samba, criando uma profusão de trabalhos com músicos americanos que marcaram época. Entre sua chegada e o final dos anos 1960, foram oito álbuns, alguns lançados pelo seu grupo Brasil 66. O ápice desse momento foi o álbum "Herb Alpert Presents Sergio Mendes & Brazil 66”, um estouro imediato, sobretudo por causa de uma das faixas do disco, “Mas Que Nada”, de Jorge Ben Jor — música que ele havia conhecido ainda no tempo do Beco das Garrafas e que foi diretamente para a lista das mais ouvidas dos Estados Unidos pela Billboard.

Quatro décadas mais tarde, a canção ganharia nova vida numa versão criada por Sergio em parceria com um dos grupos mais populares dos anos 1990/2000, o Black Eyed Peas. Ali, o músico e compositor brasileiro se consolidava definitivamente num rol de estrelas globais da música.

“Quando ‘Mas Que Nada’ estourou nos EUA em 1966, dois meses depois foi o maior sucesso no Brasil também. Não é que eu tenha buscado o sucesso nos EUA, no Brasil, no Japão ou nas Filipinas. A música é assim”, disse, modesto, numa entrevista em 2021 para o diário O Globo.

Na mesma entrevista, ele falava sobre o lançamento do documentário “Sergio Mendes: No Tom da Alegria”. Disponível por streaming no Max, o documentário vai da infância em Niterói à consagração brasileira do Rock in Rio em 2017, com depoimentos de Quincy Jones, Pelé, will.i.am (um dos líderes do Black Eyed Peas), John Legend, Carlinhos Brown e até do ator Harrison Ford.

O filme relembra a trajetória de vitórias e fracassos e a contínua disposição para se reinventar e seguir criando música de um Sergio Mendes que, depois de “Mas Que Nada”, conquistou novamente uma das primeiras posições da Billboard com a versão bossa nova de “The Look of Love” (de Burt Bacharach e Hal David) e, em 1982, novamente com a balada R&B “Never Gonna Let You Go”, cantada por Joe Pizzulo. No ano seguinte, 1983, foi a vez de ele lançar o disco “Brasileiro”, em parceria com Carlinhos Brown, e ganhar um Grammy. Para esse artista tão polivalente, o sucesso não era um desconhecido: ele foi o brasileiro que mais vezes ocupou o Top 100 das mais tocadas nos Estados Unidos em todos os tempos.

“Tive músicas que fizeram sucesso no México e só lá. Foi o caso de ‘Promessa de Pescador’, do Dorival Caymmi, que eu gravei em ‘Primal Roots’ (de 1972), disco ousado, que foi um fracasso de vendas, e que eu gravei no estúdio que o Harrison Ford tinha acabado de construir no meu quintal”, afirmou o músico, relembrando a informação que muita gente desconhece: antes de explodir como um galã em franquias do calibre de “Guerra nas Estrelas” e “Indiana Jones”, Ford tinha trabalhado por anos como carpinteiro.

Estar cercado de celebridades foi algo comum para Mendes. Mas, numa entrevista à Revista Veja, relembrou o encontrou com uma delas que, talvez, o tenha marcado mais:

“Num belo dia, durante um show em Las Vegas, o Elvis surge no meu camarim. Ele veio me dizer que adorou o meu show. Tiramos até uma foto. Infelizmente eu não me lembro do que conversamos. Mas foi incrível. Imagine, o Elvis ir no seu camarim? Eu fiquei ‘uau!’. Mas nunca gravei com ele, infelizmente.”

Nos últimos anos, o artista continuava a tocar e difundir a música brasileira nos Estados Unidos. Sempre movido pela ideia de criar arte, deixar uma marca, fazer a diferença.

“(Hoje), todo mundo quer ter um hit, a música ficou muito descartável. Se você fica gravando um single atrás do outro, eles acabam se tornando formulaicos, chatos, soam todos iguais. E eu toco a música que eu amo”, afirmou numa entrevista. “Ainda posso ir ao piano e tocar Guinga, Hermeto, Jobim... é isso que me enche de alegria. Apesar de tudo, ainda há um grande público para essa música.”

Sempre haverá um grande público para a música de Sergio Mendes. Pouco mais de uma hora depois de sua morte ser conhecida, importantes veículos de comunicação de todo o planeta — The Guardian (Reino Unido), CNN (EUA), Variety e Los Angeles Times (EUA), El País (Espanha), Deutsche Welle (Alemanha) e muitos outros — já traziam a notícia com destaque.

Filiado à Ascap, uma das principais sociedades de gestão coletiva dos Estados Unidos, no Brasil, Mendes era representado pela nossa associação. O diretor da UBC, Wilson Simoninha, ressaltou a importância do artista na internacionalização da música brasileira:

"Sérgio Mendes foi um artista fundamental na divulgação da música brasileira nos EUA e consequentemente no mundo. Um grande músico e um artista de visão. Triste sua partida, mas fica sua energia e sua música."

Diretor-executivo da UBC, Marcelo Castello Branco ressaltou também o caráter brasileiro e, ao mesmo tempo, global do artista:

“Sergio Mendes representa um Brasil internacional, abundante. Seus arranjos traduziam esta brasilidade singular na irmandade da bossa nova e do samba jazz. Figura gigante, embaixador musical do Brasil  reconhecido e respeitado no mundo inteiro. Em nome da UBC, colaboradores e diretoria, lamentamos profundamente seu falecimento e estendemos nossa solidariedade para familiares e amigos”, disse Castello Branco.

Ao jornal O Globo, a família apenas confirmou o falecimento e não deu detalhes sobre as causas — embora Mendes enfrentasse havia alguns anos uma condição de saúde que lhe provocava problemas respiratórios. Também não há ainda informações sobre velório, enterro ou cremação.

 

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