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‘A versão mais bonita’, diz Alejandro Sanz sobre ‘Coração Partido’, nº 1 no Spotify
Publicado em 09/10/2024

Hit do Menos É Mais é 1º pagode a liderar ranking da plataforma; produtor da faixa original e escritor da letra em português falam à UBC

Por Alessandro Soler, de Madri

A banda Menos É Mais numa imagem de divulgação do clipe de "Coração Partido"

E, de repente, um pagode se instalou, pela primeira vez, no trono sempre ocupado por sertanejos e funks. Com sua versão para um megassucesso espanhol, “Corazón Partío”, de Alejandro Sanz, o grupo brasiliense Menos É Mais chegou (e se mantém) há alguns dias no top 1 do Spotify no Brasil. Um feito e tanto que chamou a atenção do próprio Sanz e de Miguel Ángel Arenas, o Capi, mítico produtor fonográfico madrilenho por trás da gravação original.

“O Alejandro me disse que esta é a versão mais bonita da música, e olha que ela já teve muitas”, afirmou Capi em entrevista à UBC. “Dá para entender por que alcançou o primeiro lugar. É uma versão muito bem feita, com muito sentimento, lindamente interpretada pelo vocalista (Eduardo Caetano, o Duzão), que canta com um sorriso, com essa voz tão bonita.”

Descobridor de talentos como Sanz, produtor de ícones da música espanhola como o guitarrista flamenco Paco de Lucía, a cantora Alaska e a banda Mecano, Capi afirma que esta nova versão pagodeira do tema — “Coração Partido”, com quase 27 milhões de reproduções no Spotify e número similar no YouTube — fecha um ciclo.

“Esta é, essencialmente, uma canção latina. A harmonia foi criada na Itália, onde quase tudo foi gravado. A introdução, aquele tã tã tã, tã tã, é Puccini. Depois se disparam uns acordes espanhóis, vem a rumba, vem o flamenco, tudo amarrado numa balada. Agora vira pagode e consuma essa homenagem à latinidade, com uma clara pegada popular, muito sentimento na letra e essa voz tão acariciante típica da canção brasileira, um tipo de canto que faz cosquinhas no ouvido.”

O mar de referências condensado de um modo tão orgânico na escrita original de “Corazón Partío” a tornou um dos singles mais bem-sucedidos da carreira de Sanz, com até 70 semanas entre as mais escutadas em países como México, Estados Unidos, Espanha e Argentina. Uma canção cuja gravação foi um exemplo de trabalho coletivo.

“Toda a ideia desta canção incrível nasceu de Alejandro Sanz, dos sentimentos de um jovem de 29 anos refletidos nesta letra. O papel que tivemos os demais foi ajudar a dar a roupagem final. O baixista da gravação original (Alfredo Paixão) é brasileiro. Os versos que dão início à música, ‘tiritas pa este corazón partío’ (algo assim como “band-aids para este coração partido”), são de uma canção que eu havia escrito três anos antes, e que o Alejandro quis usar. Aí temos os arranjos, italianos (a cargo do produtor Emanuele Ruffinengo). E os arranjos de metais, do cubano Lulo Pérez, que surgiram já aqui em Madri, depois da gravação original em Roma. Foram o toque que faltava para tornar espetacular uma faixa que já estava excelente.”

Mesmo sem falar português, Capi se disse tocado pela letra criada pelo cearense Ricardus, associado da UBC que tem centenas de milhões de audições/visualizações de suas criações ou cocriações para intérpretes como Wesley Safadão, Matheus Fernandes, Tarcísio do Acordeon, Manu Bahtidão e Guilherme & Benuto.

“Tem o mesmo calor, transmite o mesmo sentimento”, sintetiza o espanhol.

“Muito orgulhoso”, como descreve em entrevista à UBC, Ricardus se diz grato pelos elogios e a enorme repercussão de “Coração Partido”.

“Saber que a equipe do Sanz curtiu a minha versão é algo inexplicável! Quero agradecer a eles por me deixarem fazer essa versão. E agradeço também a toda a família UBC por me abraçar de uma maneira incrível. Me sinto em casa”, afirma o cearense, que relembra como a canção original de Sanz marcou sua infância. “Quando minha mãe e meu padrasto juntaram uma grana para comprar um aparelho de DVD, por volta de 2005, o DVD que meu padrasto comprou foi o da Ivete Sangalo no Maracanã (que teve participação de Alejandro Sanz cantando ‘Corazón Partío’ com ela). Foi aí que conheci essa música de melodia extraordinária.”

O cantor e compositor Ricardus, escritor da letra em português. Foto: divulgação

Ao criar a letra, cuja refrão “meio veio na cabeça de uma vez”, ele conta que imediatamente pensou num pagode:

“Não podia ser outro gênero. Ver essa obra no topo do Spotify me deixa muito orgulhoso e contente por saber que o pagode está no lugar que merece.”

Diretor de A&R da Som Livre, Gustavo Faria, relembra que, quando Ricardus enviou a faixa à gravadora, imediatamente entendeu que tinha algo bom em mãos:

"O Ricardus é um parceiro nosso e veio com essa ideia há um ano. Mandou a guia dele, e a gente pirou. Fizemos algumas reuniões, pensamos em oferecer para alguns (do pagode), mas chegamos à conclusão de que encaixaria muito com o Menos É Mais. O Dudu Borges ficou com ela e começou a trabalhar como single. Duzão colocou a voz, imediatamente virou burburinho, de primeira. A gente, que trabalha com isso, sabe quando deu liga. Golaço", detalha.

Faria explica que começou, então, o necessário processo de autorização — uma etapa que, segundo ele, frequentemente é negligenciada. 

"Sabemos que no mercado brasileiro tem muita informalidade, mas obviamente trabalhamos 100% com músicas legalizadas e com todo o processo certinho. Pedimos à editora Universal Publishing, que autorizou bem em cima da hora do lançamento, e que o Alejandro adorou. Ele vibrou e dividiu o sucesso com o público brasileiro e mundial. Foi uma catarse de energia positiva. E que está performando bem não só no Spotify. Também está em primeiro na Deezer, em segundo no YouTube e em terceiro na Amazon, com grandes chances de chegar ao primeiro. Um segmento tão popular, o pagode, ainda não tinha chegado. Merece muito. É uma vibração de todos, uma vitória do segmento, um orgulho de todos pelo primeiro lugar para esse gênero."

Quem concorda com ele nisso é Dudu Borges, o produtor da faixa.

“Poder contribuir para o grupo Menos É Mais e o pagode alcançarem o número 1 no país é realmente um presente que a música me deu”, resume o produtor, que relembra como a ideia de uma versão nasceu: “Há dois anos eu sugeri a música para o Paulinho (Félix) e o Duzão, numa seção de audição de guias. Paulinho ficou muito empolgado, e começamos a mexer numa letra para ela. Tentamos bastante, mas não nos agradava. E aí, este ano, chegou esta versão (de Ricardus) através da gravadora (a Som Livre). Gostamos muito e não tivemos dúvidas.”

Lisonjeado pela boa repercussão e os elogios de Calpi e Sanz, Borges cita com carinho um jantar em São Paulo, há mais de dez anos, quando conheceu o cantor e compositor espanhol. Foi na casa de Michel Teló, de quem ele produziu hits como “Ai Se Eu Te Pego”, entre muitos outros.

“Fico muito feliz que um produtor tão grande e importante (como Calpi) tenha ouvido meu trabalho”, celebra Borges.

Andriws Moraes, gestor artístico da produtora do Menos É Mais, a GH Music, faz coro com ele:

“(Os elogios) são uma aula para todos nós, né? De grandeza e humildade. Estamos muito felizes com tudo isso. O pagode vive um momento mágico. Artistas de mais história muito fortalecidos, festivais por todo o brasil, labels artísticas lotando estádios, e outros segmentos gravando projetos de pagode. O nosso desafio, de fato, é o digital. Apesar de alguns artistas viverem um excelente momento nas plataformas, sabemos que precisamos ter mais representatividade como segmento. Esse resultado vem mostrar que estamos no caminho certo.”

Um caminho bastante natural, aliás. Dada a enorme força da canção original, a responsável pelo marketing da banda, Nathalia Rezende, revela que nem sequer foi necessário um esquema de promoção especial:

"Trabalhar com a versão de um hit mundial já empurra a música por si só. Nossos esforços foram bem orgânicos, mesmo, tivemos um impulsionamento padrão de lançamento de uma faixa de trabalho, mas a música foi muito aceita pelo público. Acredito que nosso maior acerto como marketing foi a constância. Usamos a faixa na criação de todos os materiais que iam para nossas redes sociais, todos os dias, desde o lançamento."

Os números exuberantes e crescentes chancelam a estratégia. E sugerem que o público quer muito mais "Coração Partido" — e, quem sabe?, outros pagodes — no topo das paradas.

 

LEIA MAIS: Na mais recente edição da Revista UBC, uma reportagem sobre o novo e espetacular momento do pagode

 

VEJA MAIS: O clipe de 'Coração Partido', com o Menos É Mais

 

VEJA MAIS: O clipe da música original de Alejandro Sanz


 

 



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