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Clássicos dos Paralamas ganham remixes por estrelas da música
Publicado em 23/01/2025

Papatinho, Mahmundi, Tropkillaz, Daniel Ganjaman e Bossacucanova, entre outros, fazem releituras em álbum idealizado por João Barone

Por Eduardo Lemos Martin, de Bath, Inglaterra

Foto de Mauricio Valladares

Bi Ribeiro, Herbert Vianna e João Barone

DJ Marky, hoje com 49 anos, lembra direitinho de uma cena que lhe aconteceu aos 10: o seu tio entrando em casa com um disco na mão. Era “O Passo do Lui", o segundo álbum dos Paralamas do Sucesso. O ano era 1984.  O pequeno garoto já era interessado em música e já tinha curtido "Cinema Mudo", o disco de estreia da banda associada à UBC.

“Vital e sua Moto tocou bastante em SP, teve clipe no Fantástico, e eu vi tudo isso. Eu gosto desse disco, eu acho que eles não gostam muito desse disco, mas eu acho legal pra caramba. ‘Patrulha Noturna’, ‘Cinema Mudo’, ‘Vovó Ondina’… Mas o disco que me impactou mesmo foi ‘O Passo do Lui’", conta.

Natural, então, que venha desse álbum a música que ele escolheu para reinterpretar dentro do álbum “Os Paralamas do Sucesso - 10 Remixes", lançado em dezembro pela Universal Music em todas as plataformas digitais. Mark remixou a megadançante “Ska".

“É uma das faixas que eu mais gosto d’'O Passo do Lui’, porque justamente é um ska (ritmo jamaicano precursor do reggae). E porque me lembra a minha infância, as minhas festas, os meus amigos.”

O disco traz mais 9 releituras do cancioneiro paralâmico criadas por Tropkillaz (“O Beco”), Daniel Ganjaman (“Selvagem”), Papatinho (“Ela Disse Adeus”), Mahmundi (“Lanterna dos Afogados”), Bossacucanova (“O Amor Não Sabe Esperar”), Mulú (“Aonde Quer Que Eu Vá”), Àttooxxá (“Lourinha Bombril”), Groove Delight (“Saber Amar”) e Marcelinho da Lua (“Mensagem de Amor”).

Coube a Marcelinho a missão de coordenar o projeto, a convite dos próprios Paralamas.

“Minha relação com os Paralamas é bem antiga, desde os anos 80. Tenho uma frustração de não poder ter ido (ao Rock in Rio de 1985). Vi meus amigos indo, mas eu não pude. Depois os vi no Circo Voador, no Canecão, no Hollywood Rock, em tudo quanto é canto da cidade. Fui aos shows de lançamentos dos discos, vi tudo aquilo ser executado ao vivo. Então, Paralamas é uma banda do coração", derrete-se o DJ e produtor, que já colaborou com a banda no álbum “Hoje” (2005) e no show de 30 anos de carreira, além de ter realizado parcerias com Bi Ribeiro.

DIFÍCIL SELEÇÃO

E como foi selecionar apenas 10 faixas de uma discografia tão rica (a banda entra em 2025 comemorando 42 anos de idade, e contando…) e escolher os DJs participantes?

“Foi um trabalho meio misto nesse sentido. A gravadora fez uma seleção de artistas para eu trabalhar, os Paralamas trouxeram alguns nomes, e eu tentei costurar isso da melhor forma possível para gente ter artistas que atendiam a todas as vontades e o que estava na minha cabeça também. Acho que as escolhas foram muito felizes, 100% dos artistas que a gente procurou curtiram a ideia. Acho que cada remix tem uma história muito legal", relembra Marcelinho, que cita como exemplo o remix de Mahmundi para “Lanterna dos Afogados", em que a artista carioca também canta a letra da música originalmente lançada em 1989 no disco “Big Bang".

A capa do disco

Embora Da Lua comemore que o processo todo “fluiu muito bem", os artistas parecem ter experimentado ao menos uma dificuldade: escolher qual canção remixar. Pudera: além da qualidade das canções de Herbert Vianna, uma característica citada por Marcelinho da Lua nessa entrevista, os Paralamas sempre trabalharam de forma magistral a tal “cozinha rítimica", ou seja, a dinâmica criativa entre o baixo de Bi Ribeiro e a bateria de João Barone, tornando dezenas de faixas do grupo prato cheio para um remix.

“Eu queria fazer ‘Romance Ideal’, na verdade, mas acho ela tão perfeita que, depois, pensei ‘não, não precisa mexer’”, recorda Marky. “Depois pensei em fazer 'Me Liga’. Também tinha pensado em 'O Beco’, mas aí o Tropkilazz já tinha pegado. Então pensei: vou fazer ‘Ska’, porque ninguém vai fazer essa! E dito e feito! Tentei não virar a música de cabeça pra baixo, porque eu respeito muito a obra do artista. E é claro que o que eu mais mexi foi a bateria e o baixo (risos). Fiquei muito feliz quando eu mandei uma prévia do remix para o Marcelinho da Lua, aí ele me ligou por vídeo. E ele estava com o João Barone. Quando vi o Barone, quase tive um treco. E ele falou ‘tá demais, gostei pra caramba!’. Eu ganhei o dia.”

Foi de João Barone, aliás, a ideia de fazer o disco.

“Eu tive essa epifania quando fui assistir a um show do Paul McCartney em 2013 e reparei que, durante o pré-show, estava tocando um monte de releitura das músicas dos Beatles, da carreira solo, interpretadas com essa leitura mais moderna da música eletrônica e até do dub. Falei ‘caramba, os Paralamas precisavam fazer isso também, incentivar esse tipo de releitura com os artistas que a gente curte dentro desse estilo musical'. E aí a gente começou a regar essa ideia até ela se consolidar. Levou um tempinho mas rolou! (risos)", relembra o baterista em conversa com a UBC.

A INCURSÃO QUE FALTAVA

Volta e meia bandas e artistas contemporâneos aos Paralamas se encontram com a música eletrônica e geram álbuns de remixes: de Lulu Santos (“Eu e Memê, Memê e Eu", 1995) e Kid Abelha (“Remix”, 1997) aos Titãs (“Remixes”, 2021). “10 Remixes” é a primeira incursão do repertório da banda neste tipo de projeto.

“Eu sempre fui da opinião que é muito interessante quando a música de um artista é reinterpretada por outros. Nós mesmos já gravamos músicas de outras pessoas em que a gente praticamente roubou a música pra gente (risos)", brinca Barone, citando as versões dos Paralamas para “Você", originalmente gravada por Tim Maia, e “Lourinha Bombril", uma composição do grupo argentino Los Pericos.

Uma das características mais interessantes do projeto é que ele foi lançado como álbum, ou seja, nenhuma música foi disponibilizada antes como “single", como é a praxe do mercado. A escolha, conta Barone, foi proposital.

“Vivemos hoje a era do streaming, mas a gente insiste muito ainda na reunião de uma coleção de músicas formando um álbum", explica.

 

LEIA MAIS: Relembre a reportagem de capa da Revista UBC #46, sobre os Paralamas

LEIA MAIS: Herber Vianna, Prêmio UBC 2020


 

 



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