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Editais de música: como se inscrever e erros a evitar
Publicado em 17/03/2025

Produtoras culturais dão dicas para estruturar propostas e aumentar chances de financiamento para seu projeto; veja onde encontrar editais

Por Nathália Pandeló, do Rio

Para muitos artistas, os editais culturais são uma chance de viabilizar projetos sem precisar levantar os recursos por conta própria. Seja para gravar um álbum, rodar uma turnê ou desenvolver alguma ação cultural, os editais garantem financiamento para ideias que, muitas vezes, não sairiam do papel de outra forma. 

O problema é que a concorrência é grande, e conseguir uma aprovação exige mais do que apenas uma boa ideia. Falta de planejamento, erros na inscrição e uma proposta mal estruturada são exemplos do que pode comprometer as chances de sucesso. 

A maioria dos editais detalha em minúcias suas exigências. Por que, então, é tão complexo passar pela peneira?

A MAIORIA FICA DE FORA

Existem vários motivos que podem levar um projeto a ser recusado. É inevitável a constatação de que muitos proponentes serão rejeitados mesmo que preencham muitos ou mesmo todos os pré-requisitos. Isso porque as vagas ou verbas são limitadas, e nem sempre proporcionais ao número de boas ideias. Outras tantas propostas ficam pelo caminho graças a pequenos erros que, com atenção aos detalhes, poderiam ter sido evitados.

Alguns são de natureza técnica, como a inscrição na categoria errada, a ausência de documentos obrigatórios ou a falta de comprovação de experiência do proponente. Mas, segundo a produtora cultural Eliza Granadeiro, um dos problemas mais frequentes é outro: 

É a falta de clareza sobre o que é de fato aquele projeto, ou seja, o que vai realizado, como/onde/quando vai ser realizado, porque vai ser realizado. Então, aqui caímos em uma questão de comunicação, de escrita clara e objetiva.”

Um erro comum entre artistas é deixar para justificar a proposta antes de explicar o que será feito. Se o avaliador não consegue entender o projeto logo de cara, as chances de ele se interessar e seguir lendo com atenção diminuem. 

“Quando falamos de projeto cultural, falamos de uma carta de vendas (e eu sei que muitas pessoas podem ter problema com este conceito). Mas, o que acontece é que estamos, sim, vendendo uma ideia ali, e todo analista que ler este projeto não pode jamais ficar em dúvida sobre o que está sendo proposto”, acrescenta Eliza.

Eliza Granadeiro. Foto: arquivo pessoal

Outro problema recorrente é a falta de planejamento. Ana Beatriz Resende, diretora da agência Menu da Música, destaca que muitos artistas deixam a inscrição para a última hora e acabam perdendo oportunidades por isso. 

“O primeiro passo – e, para mim, o mais importante – é evitar deixar a escrita do projeto para a véspera do encerramento do edital. Discutir, organizar, orçar e estruturar as ideias com antecedência é essencial, pois permite identificar erros e possíveis falhas antes de subir o projeto na plataforma de inscrição”, orienta.

COMO MONTAR UM PROJETO COMPETITIVO

Eliza Granadeiro dá boas dicas de como estruturar sua ideia:

  • Antes de mais nada, é preciso deixar claro o que vai ser realizado. E tem um jeito muito simples de já começar a resolver isso: escreva um primeiro parágrafo descritivo contando sobre o que é o projeto. Neste parágrafo, você precisa resumir todas as ações que serão feitas. Exemplos e justificativas ficarão para depois;
  • Contextualize o projeto e fale das raízes históricas e sociais daquela proposta;
  • Na hora de embasar a argumentação, pode-se tentar utilizar termos lúdicos e poéticos, criando uma história/narrativa envolvente;
  • Apresente dados técnicos e pesquisas variadas que ajudem a dar peso e interesse à sua ideia.

Importante: o pitch deve ser certeiro, argumentando de forma concisa na hora de vender seu peixe. Nada de adicionar parágrafos e parágrafos prolixos: seja claro e direto para captar a atenção do analista.

DESTACANDO-SE DA MAIORIA

Se o projeto for um lançamento musical, por exemplo, é importante especificar o formato (single, EP ou álbum), a quantidade de faixas, se são inéditas ou regravações, quem são os envolvidos e quais outras ações serão desenvolvidas (clipes, shows de lançamento e campanhas de divulgação, por exemplo).

Além de detalhar bem as etapas do projeto, é fundamental mostrar sua relevância. Explicar o impacto cultural e social da proposta, justificar como ela se encaixa no cenário atual da música e apresentar referências do mercado podem fortalecer a argumentação. A adaptação ao edital também precisa ser feita com atenção. 

“É fundamental contar com materiais atraentes, como vídeos ao vivo em boa resolução, além de um mídia kit com dados relevantes e impactantes sobre o artista. Além disso, ter um projeto bem alinhado aos requisitos do edital pode fazer toda a diferença na hora da avaliação”, destaca Ana Beatriz.

LEIA MAIS: Como construir um bom kit de imprensa

Embora seja comum ver notícias de artistas renomados vencendo editais, como o Natura Musical, a maioria das vagas vai para nomes em ascensão. A (pouca) popularidade de um músico, compositor ou intérprete não o desqualifica

“Se um artista é iniciante e tem experiência reduzida, isso pode ser compensado pela estrutura do projeto em si, ou seja, pelas ações que ele está propondo e, especialmente, pela equipe que vai fazer o projeto. Algo que vai ser fundamental é ele contar com uma produção experiente para gerir o projeto. É importante anexar um bom portfólio (não basta ser currículo) da produção para comprovar a realização de outros projetos, com outros patrocinadores”, Eliza instrui. “Se a pessoa não tem experiência nenhuma na realização de projetos, fica mais difícil conseguir transmitir confiança e receber um patrocínio.”

O mais importante é compreender cuidadosamente o que o edital exige e elaborar um projeto alinhado a essas diretrizes. Alguns editais oferecem uma pontuação maior para quem destina uma porcentagem específica do orçamento para medidas de sustentabilidade. 

“Esse seria um ponto que, na hora da inscrição, merece nossa atenção especial. O que frequentemente acontece é que, embora os projetos sejam ótimos e muito bem elaborados, eles não atendem totalmente às exigências do edital, o que resulta em uma pontuação mais baixa. Além disso, é fundamental conceber projetos que não apenas impactem você e sua equipe, mas que também tenham relevância social, ambiental e que contribuam de maneira significativa para o mercado em que estamos inseridos”, analisa Ana Beatriz.

Ana Beatriz Resende. Foto: Caca Pereira

ORÇAMENTO E PRESTAÇÃO DE CONTAS

A planilha de orçamento é um dos itens mais analisados em um edital. Além de precisar estar dentro da realidade do mercado, ela deve ser coerente com o que foi proposto no projeto. 

“O orçamento é a escrita do projeto por meio de números. Ou seja, ao analisar a planilha, o avaliador precisa entender a estrutura de realização do projeto porque tudo o que você disse que ia fazer lá na argumentação precisa estar discriminado no orçamento. Novamente aqui, um erro comum é falta de clareza. Neste caso, falta de organização. Existem muitos modelos de planilha, mas uma lógica para a montagem pode ser agrupar por categorias. Por exemplo, colocar todas as funções e valores relacionados com a produção/gestão do projeto; depois colocar os valores e funções artísticas; funções e valores relacionados com a comunicação, e assim vai”, explica Eliza.

Para garantir que os valores apresentados sejam adequados, uma boa estratégia é pesquisar referências em plataformas como o SalicNet, do Ministério da Cultura, que disponibiliza dados de projetos anteriores aprovados. Isso permite que o proponente tenha uma base confiável para definir os custos de cada item.

Mas se engana quem pensa que a organização financeira termina quando o edital é aprovado. Todos os comprovantes de gastos precisam ser armazenados corretamente para a prestação de contas ao final do projeto. 

“Acredito que, nesse caso, o mais importante é contar com uma equipe sólida, bem preparada e com salários justos. A escolha de profissionais responsáveis é fundamental para garantir uma execução de qualidade. Além disso, recomendo ser rigoroso na organização dos documentos ao longo da execução do projeto, o que facilita muito na hora da prestação de contas, evitando contratempos”, enfatiza Ana Beatriz.

Para evitar problemas na última etapa do edital, Eliza aconselha que a prestação de contas seja feita de forma contínua. “Um erro da prestação de contas é achar que ela só é feita no final do projeto. Na verdade, a prestação de contas deve começar a ser feita desde o primeiro momento. Ou seja, à medida que for realizando as ações, é preciso já organizar e arquivar as fotos, links, documentos fiscais e ir montando os relatórios de prestação. É preciso ter atenção especial com materiais físicos como declarações, notas e cupons fiscais, porque eles podem ser deteriorados com o tempo. Então, tenha tudo escaneado de forma nítida e, de preferência, armazenados em nuvem”, alerta.

ONDE ENCONTRAR EDITAIS

Acompanhar os editais abertos exige um monitoramento constante. Diversas plataformas divulgam oportunidades, mas uma das formas mais eficientes de se manter atualizado é acompanhar o canal Editais Culturais Abertos, mantido pela Suburbana Produtora no Telegram. Lá, está disponível um documento online atualizado com frequência sobre oportunidades em andamento.

“Existem algumas páginas no Instagram e também no Facebook que reúnem os editais, mas é normal que uma página ou outra tenha lapsos de desatualização com o tempo. Então, o que eu sugiro mesmo é ter um Google alerta criado para o tipo de edital que você precisa. Por exemplo, eu uso há anos o meu de editais culturais de música e recebo todas as novidades por e-mail, no final de cada dia. Eu acho o Google alerta uma ferramenta muito simples e poderosa”, diz Eliza.

Ana Beatriz complementa:

“Recomendo também que observe os projetos que já passaram em anos anteriores, costuma ajudar a ter ideias e entender a ‘pegada’ do edital.”

PERSISTÊNCIA E APRENDIZADO

Após todos esses cuidados, no entanto, o resultado mais comum é receber a resposta negativa. Ainda assim, ter um projeto reprovado não significa que ele deve ser descartado. Muitas vezes, pequenos ajustes podem fazer a diferença em uma próxima inscrição. 

“Se você já inscreveu o projeto várias vezes em editais diferentes e não obteve sucesso, recomendo considerar a contratação de uma consultoria especializada. Profissionais nessa área podem ajudar a identificar possíveis falhas e aprimorar o projeto”, aconselha Ana Beatriz.

A capacitação também é um diferencial. Existem cursos online e eventos gratuitos que ensinam mais sobre o funcionamento dos editais e ajudam os artistas a estruturarem projetos mais competitivos. Além disso, muitos realizadores de editais oferecem lives gratuitas para tirar dúvidas e desmistificar o processo. 

A trajetória até a aprovação exige planejamento, estratégia e persistência. Embora não exista um “mapa da mina” definitivo, quem entende as regras do jogo e busca se aprimorar aumenta as chances de ver seu projeto sair do papel.

“É comum ficarmos desestimulados quando um projeto não é aprovado, mas o segredo está em aprimorá-lo e continuar tentando. Esse é, sem dúvida, o caminho para alcançar o sucesso. Sua hora vai chegar!”, conclui Ana Beatriz Resende.

 

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