Setor cresceu forte (21,7%) em um ano; no mundo todo, indústria somou R$ 167 bilhões, com enorme participação do streaming de áudio
De São Paulo
Com um forte crescimento de 21,7% entre 2023 e 2024, o mercado nacional de música gravada superou pela primeira vez a marca de R$ 3 bilhões em arrecadação em um único ano. O faturamento total da indústria musical brasileira somou R$ 3,486 bilhões em 2024, mantendo o Brasil na nona posição entre os maiores mercados do mundo, conforme o ranking da Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI). Enquanto isso, o dado do mundo todo mostra uma panorama também muito positivo: alta de 4,8% nas receitas totais, e US$ 29,6 bilhões (R$ 167 bilhões) gerados em 2024.
Tanto as cifras nacionais como as internacionais foram divulgadas nesta quarta-feira (19), respectivamente pela Pro-Música Brasil e pela IFPI, em seus relatórios anuais.
O Brasil foi o principal destaque latino-americano do ano, com um crescimento de mercado superior a todos os demais. Outra nação da nossa região que teve destaque foi o México, que, com alta de 15,6% nas receitas da indústria de música gravada, saltou para a 10ª posição no ranking. Pela primeira vez, dois países latino-americanos ocupam o top 10 dos maiores mercados mundiais da música gravada, o que dá uma boa dimensão da pujança da música produzida aqui, cada vez mais apreciada no resto do mundo — e cada vez mais lucrativa.
O streaming de áudio, claro, é destaque tanto no relatório da IFPI como no da Pro-Música. Internacionalmente, a alta nas receitas da música gravada através dessa fonte foi de 7,3%, somando US$ 20,4 bilhões (R$ 115 bilhões) e respondendo por 69% de tudo o que o segmento gerou em 2024. Foi primeira vez que a cifra superou US$ 20 bilhões, e a expectativa é que ela continue a crescer exponencialmente nos próximos anos.
Já os formatos físicos, que vinham de crescimento fortes nos últimos anos (em 2023, por exemplo, a alta das receitas com LPs, CDs e DVDs tinha sido de 14,5%), tiveram um decréscimo de 3,1% em 2024, com US$ 4,8 bilhões (R$ 27 bilhões) gerados em todo o planeta. Curiosamente, no Brasil o mercado físico continuou a crescer. As vendas desses formatos tiveram alta de 31,5%, gerando R$ 21 milhões, com o vinil reinando quase sozinho: R$ 16 milhões em valor, e alta de 45,6% em um ano.
Ainda internacionalmente, os direitos conexos (+5,9%) e a sincronização de músicas em obras audiovisuais, como filmes e séries (+6,4%) deram saltos importantes, apontando para um médio-longo prazos em que tais usos de música gravada continuarão a ajudar a melhorar os rendimentos de quem cria/executa música. No Brasil, com R$ 386 milhões arrecadados e alta de 14,9% em um ano, os direitos conexos também foram destaque. Segundo o relatório da IFPI, o país terminou 2024 como o 8º maior gerador desse tipo de receita globalmente, à frente da Espanha e da Dinamarca e atrás apenas de Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Japão, Países Baixos e Itália.
DOWNLOADS: QUEDA SEM FIM
No mundo inteiro, os downloads e outros formatos digitais que implicam a posse dos arquivos, por outro lado, continuam numa queda que já dura 12 anos ininterruptos: o decréscimo de 2024 foi de 7,7%, encolhendo pra só 2,8% de todo o faturamento da música gravada no mundo.
No Brasil, o antigo hábito de baixar músicas parece ter mesmo sido completamente substituído pelo uso de plataformas de streaming. Esse segmento, sozinho, foi o responsável por 87,6% das receitas da indústria gravada no país em 2024, ou R$ 3,05 bilhões. A alta em relação a 2023 foi de 22,5%. Um dado particularmente interessante dentro desse contexto do streaming nacional vem das assinaturas premium: os serviços pagos de plataformas como Spotify, Deezer, Apple Music, YouTube Music, Napster e Amazon Music geraram R$ 2,077 bilhões, alta de 26,9% em só um ano.
“O setor fonográfico brasileiro seguiu crescendo em 2024, em ritmo ainda maior que o verificado nas estatísticas de 2023, apesar de um quarto trimestre turbulento, com a disparada do dólar naquele momento e o aumento das perspectivas de inflação, taxa Selic, etc. O fato é que a disponibilização de quase 200 milhões de gravações musicais nas principais plataformas de streaming musical a um preço acessível e com funcionalidades cada vez mais interessantes para os consumidores brasileiros têm demonstrado que o modelo ganha cada vez mais popularidade no Brasil, até em ritmo mais acelerado que em vários dos principais mercados de música gravada no mundo”, celebrou Paulo Rosa, presidente da Pro-Música Brasil. Bom destacar ainda, que das mil gravações mais acessadas no streaming musical brasileiro, nada menos que 76% foram de música brasileira.”
Para Eduardo Rajo, diretor financeiro e de novos negócios da Pro-Música Brasil, o desempenho do mercado fonográfico brasileiro em 2024 reforça sua posição como um dos mais dinâmicos do mundo:
“As gravadoras desempenham um papel estratégico nesse cenário, buscando adaptar-se aos enormes avanços tecnológicos, que trazem tanto oportunidades quanto desafios, investindo continuamente em seus artistas, em novas tecnologias para criação de novas possibilidades e em novos formatos de monetização que beneficiam toda a cadeia produtiva da música. Com a consolidação do mercado digital, especialmente o streaming, o setor segue bem posicionado para um crescimento ainda mais robusto nos próximos anos.”
CRESCIMENTOS FORTES, E A PRESENÇA DA IA
Em termos globais, a diretora-executiva da IFPI, Victoria Oakley, também comemorou muito:
"A receita da música gravada tem crescido continuamente há uma década. Embora o crescimento do ano passado tenha sido um pouco mais lento do que nos anos recentes, ainda assim houve crescimento, e ele permanece em um ritmo com o qual muitas outras indústrias ficariam muito satisfeitas. Também continua havendo um grande potencial para mais crescimento e desenvolvimento, por meio da inovação, das tecnologias emergentes e do investimento tanto em artistas quanto nas partes em evolução do crescente ecossistema global da música.”
Ela recordou ainda um dos principais desafios para a indústria gravada, as indústrias criativas e a criação humana em geral:
“A Inteligência Artificial (IA) será um dos temas definidores do nosso tempo, e as gravadoras abraçaram seu potencial para aprimorar a criatividade dos artistas e desenvolver experiências novas e empolgantes para os fãs. Elas estão desenvolvendo e licenciando serviços de IA que atuam de forma responsável, respeitando os direitos dos criadores de música. No entanto, está muito claro que a ‘ingestão’ não autorizada de música protegida por direitos autorais pelos desenvolvedores de sistemas de IA Generativa para treinar seus modelos representa uma ameaça real e imediata à arte humana. Governos em todo o mundo estão analisando e moldando o ambiente jurídico para a IA. Estamos trabalhando para garantir que os formuladores de políticas reconheçam que a IA deve ser cultivada para aproveitar seu potencial de apoiar e amplificar a arte humana.”
LEIA MAIS: O relatório completo da Pro-Música Brasil
LEIA MAIS: O relatório completo da IFPI (em inglês)